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sexta-feira, março 29, 2024

Chile: as Forças Armadas, o principal sustentáculo da classe dominante

Se a questão é sobre “celebrar” os dias de glória do Exército, só se poderiam mencionar as lutas contra a monarquia espanhola e seu exército, nas guerras independentistas no século XIX. Porque já nesse tempo, as coisas se preparavam somente entre os “cidadãos” abastados. O povo pobre trabalhador não era levado em conta. Pode-se dizer que em duzentos anos de vida republicana, as Forças Armadas não fizeram outra coisa que defender os interesses da classe dominante e seus partidos políticos. Por mais que nos ensinem que as Forças Armadas no Chile foram constitucionalistas ou defensoras do território nacional e sua democracia, não é verdade. Cada vez que algum setor da patronal sentiu-se prejudicado, as Forças Armadas intervieram, defendendo os interesses empresariais contra a vida dos trabalhadores.

Por MIT-Chile

Uma história de matanças

As matanças que se registram em nossa história são muitas: na greve portuária de Valparaíso ou a do carvão em Lota, o massacre do “motim da carne” em Santiago, da Plaza Colón em Antofagasta ou da escola Santa María de Iquique, nas salitreiras de La Coruña, Marusia, San Gregoriao e El Salvador, a repressão em Puerto Natales e o incêndio da sede sindical da Federação Operária de Magallanes (FOM) em Punta Arenas, o massacre de Ranquil, da Plaza Bulnes, a população de José María Caro e a de Puerto Montt.

Em todas elas, o governo em exercício usou as Forças Armadas contra trabalhadores, camponeses ou residentes, a maioria das vezes desarmados. Desde os tempos das comunidades e do sindicalismo livre (sem legislação a partir do Estado), o único objetivo do Exército era a ordem pública que não era outra coisa que a defesa da propriedade privada dos patrões. O exército atacava e destruía os acampamentos salitreiros em busca de subversivos, as casas dos sindicalistas e das sedes das federações operárias; mas cuidava dos bancos e das mansões dos empresários.

Também desencadearam repressões contra os mapuche na “pacificação” da Araucanía ou contra os rapa nui em favor dos novos donos das terras usurpadas, e atuaram na carnificina que levou ao extermínio os povos originários da Patagônia.

As Forças Armadas e a ditadura de Pinochet

Por outro lado, como trabalhadores podemos e devemos reconhecer que as Forças Armadas não são homogêneas, como em tudo, há contradições em seu interior, em particular, contradições de classe: os soldados rasos não têm os mesmo privilégios nem o mesmo ímpeto para defender o empresariado, como têm os altos cargos oficiais.

Isto ficou manifesto inclusive nos tempos do golpe militar de Pinochet, onde houve vários marinheiros de Valparaíso e soldados que se posicionaram contra o golpe, inclusive advertiram Allende da possibilidade deste golpe, sem haver recebido uma reação por parte do ex-presidente. A experiência destes soldados é relatada no livro “os que disseram não”.

Entretanto, outro amplo setor de oficiais levaram a cabo e desenvolveram a ditadura, organismos formados com recursos pagos pelo Estado, como a DINA, o Comando Conjunto, a CNI, DICOMCAR orientaram-se pelo extermínio de dirigentes sindicais e trabalhadores, a fim de eliminar toda resistência para a refundação do Chile, isto é, converter o país em um laboratório neoliberal.

Menos que em qualquer outro período de nossa história, as Forças Armadas foram patriotas ou nacionalistas: liquidaram o sistema produtivo nacional para deixar livre a entrada às manufaturas estrangeiras, receberam apoio direto da CIA e do Pentágono através da Operação Condor, entregaram as riquezas nacionais a preço de banana aos seus protegidos e a umas tantas famílias conservadoras, e produziram o maior desastre econômico que elevou a inflação e o desemprego a níveis nunca dantes vistos no país.

Pinochet era um admirador incondicional do ditador espanhol Francisco Franco e copiou muitas de suas ideias e formas de repressão. E no final, demonstrou-se que além de ser um ditador sanguinário, Pinochet – e toda sua família atrás dele – era um grande vigarista, falsificador e ladrão, como as acusações do caso Riggs e CEMA Chile comprovam.

As lições que devemos tirar

Então, nós trabalhadores temos que chegar à primeira conclusão de que as Forças Armadas no Chile, nunca foram em termos gerais, do Chile, mas sim das famílias que dominam a economia porque concentram em suas mãos toda a riqueza produzida por gerações de trabalhadores. Isso é o que acontece em qualquer regime burguês (empresarial): as Forças Armadas são órgãos repressivos do Estado para esmagar a classe trabalhadora em defesa dos interesses patronais.

A segunda conclusão que devemos tirar é que as Forças Armadas tem contradições internas, e que devemos apostar em aprofundá-las, com o objetivo de debilitar e destruir o principal sustentáculo da classe dominante, os setores rasos, que vem da classe trabalhadora devem se somar à luta pelos seus direitos, de suas famílias e de sua classe. Se houvesse existido uma política para organizar a fundo os oficiais que disseram NÃO ao golpe, talvez a história chilena fosse diferente.

Tradução: Lilian Enck

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