ter mar 19, 2024
terça-feira, março 19, 2024

Aborto: um direito de decidir pelo qual mulheres e homens devem lutar juntos

Nós não queremos que todas as mulheres façam aborto, o que queremos é que as mulheres tenham o direito de decidir. No Chile se aborta, mas se você pertence à classe privilegiada faz isso em uma clínica e se você é uma mulher que pertence à classe trabalhadora, faz clandestinamente, com desinformação, nas piores condições sanitárias e com os preconceitos sociais que te classificam como uma assassina. No Chile, o aborto é mais um privilégio da classe burguesa.

Por:  MIT Chile

O capital quer controlar nossos úteros no ritmo de seus lucros

Os capitalistas buscam controlar a reprodução humana de acordo com seus interesses. Quando querem reduzir o custo do trabalho para proteger seus ganhos, incitam o terror do envelhecimento da população, promulgam proibições ao aborto e recusam o controle da natalidade e a educação sexual.

No entanto, quando têm excesso de pobres, eles não hesitam em aplicar políticas de extermínio e esterilização. Durante a ditadura de Pinochet, muitas mulheres foram esterilizadas sem consentimento em hospitais públicos. Isso também foi praticado em países como o Peru nos anos 90, sob o regime de Fujimori. Além disso, nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX, aproximadamente 60.000 pessoas foram esterilizadas através de programas de eugenia, onde as mulheres latinas eram o alvo.

Esse insaciável apetite por lucros também é observado hoje no Chile: após a aprovação das três causas do aborto no Chile, muitos médicos declaram uma suposta objeção de consciência e se recusam a praticá-lo no serviço público. Mas estão dispostos a realizá-las em suas clínicas particulares disfarçadas de apendicite, o que gera mais lucro do que administrar a pílula do dia seguinte. Com esse duplo padrão, a burguesia hipócrita impõe suas regras às políticas públicas e, assim, manipula ideologicamente as mulheres da classe trabalhadora. Enquanto prega que é pró vida e acusa de assassinas as mulheres que lutam pelo direito ao aborto, condena milhares de crianças à miséria, com seus planos econômicos. Os filhos de famílias pobres são aqueles que morrem no SENAME (Serviço Nacional para Menores).

As instituições desse regime fecham os olhos para a tragédia que centenas de crianças vivem nesses centros: abuso físico, estupro, morte por falta de atenção médica oportuna e até tráfico de órgãos. As crianças pobres nascidas vivas são invisíveis aos olhos do Estado burguês, as instituições não trabalham para elas e o parlamento criminoso fica em silêncio diante das evidências.

Enquanto não derrotarmos o sistema capitalista, nossas conquistas serão apenas parciais e transitórias!

Enquanto no Chile e no mundo houver capitalismo; que se baseia na exploração de uma grande maioria por uma minoria, onde o poder político é exercido por essa minoria chamada burguesia, todas as nossas conquistas serão parciais e transitórias. Parcial, como no caso do aborto no Chile: Bachelet promulgou em 2017 uma lei que apenas descriminaliza em três situações muito específicas: risco de vida da mãe, inviabilidade fetal e estupro. Dois anos e oito meses de tramitação no Congresso não significaram que as mulheres possam exercer o direito de decidir sobre o nosso corpo.

São transitórios, porque estão sujeitos à vontade dos governantes de turno e às necessidades dos capitalistas. Por exemplo, Ibáñez del Campo legalizou o aborto terapêutico em 1931. Durante o mandato de Frei Montalva, esse direito ficou sujeito à opinião de um conselho de médicos.

Em 1989, Augusto Pinochet restaurou a pena para todos os tipos de interrupção voluntária da gravidez. Um dos mentores da Constituição que existe desde a ditadura até os dias atuais, Jaime Guzmán, disse: «A mãe deve ter o filho mesmo que seja anormal, mesmo que não o queira, mesmo que seja o resultado de uma estupro ou, mesmo, que ao tê-lo, derive sua morte».

Por que devemos continuar lutando pelo direito ao aborto?

Vamos lutar para que o aborto não seja mais um privilégio burguês. Que o direito de decidir que tenhamos as mulheres abra o caminho para a grande luta contra esse sistema político e econômico baseado na manutenção de todos os tipos de privilégios para poucos.

Nossa luta não deve ser exclusiva das mulheres: é um dever da classe trabalhadora como um todo. Somente na medida em que nos unimos nessas batalhas, entenderemos que nenhum direito estará completo em uma sociedade capitalista e que a única solução para nós é a conquista do poder político dos trabalhadores e a construção de uma sociedade socialista.

Só chegaremos a uma solução completa quando ter filhos for uma decisão de cada mulher e uma responsabilidade coletiva de criação socializada. Quando sejamos capazes, como sociedade, de garantir todos os tipos de direitos para as crianças: moradia, alimentação, educação, saúde e amor. Quando as relações entre os seres humanos não se baseiem mais na exploração e na miséria socializada; quando as relações entre as pessoas sejam livres e baseadas no amor.

Como diziam os trabalhadores do Cordão Industrial Vicuña Mackenna: “Só o socialismo pode resolver os problemas da classe operária, dos trabalhadores, do povo. Porque o socialismo é isto: é o poder para o povo, é o povo que é o poder.”

Educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar, aborto legal para não morrer!

Nenhum peso do cobre para as FF.AA. Que o cobre financie a educação sexual, prevenção de gravidez e  aborto sem objeções na saúde pública!

 Vamos marchar juntos, como classe trabalhadora e juventude, pelo direito ao aborto em 25 de julho!

Tradução: Lena Souza

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