qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Goleada de machismo e violência contra mulheres na Copa da Rússia

Nos últimos dias, a atitude de um grupo de torcedores brasileiros na Copa do Mundo da Rússia gerou enorme revolta e ganhou repercussão internacional. Em vídeos que circulam na Internet, um grupo de homens vestindo a camiseta da seleção brasileira, cercam de uma jovem, que visivelmente não fala português, cantando e gritando frases de conteúdo machistas e misóginos com ofensa sobre seu corpo e ainda a induzem a repetir a frase se aproveitando do fato de que ela não compreende o idioma para ridicularizá-la e constrangê-la.

Por: Erika Andreassy, da Secretaria de Mulheres do PSTU

As imagens são fortes e ofensivas e adicionam mais um capítulo para o drama do machismo da violência contra a mulher, da qual o Brasil é um dos campeões. Entre as frases entoadas estão: “Essa é bem rosinha”, “ai, que delícia” e “b… rosa”. É chocante, nojento e repugnante!

Até agora 4 homens já foram identificados. Um deles é o advogado pernambucano Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo de Ipojuca (PE) condenado por improbidade administrativa enquanto esteve à frente da pasta em 2012. Diego, além disso, é réu numa ação por pensão alimentícia que tramita na Justiça e cuja dívida ultrapassa os R$ 37 mil.

Outro envolvido é o Engenheiro Civil e ex-membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí, Luciano Gil Mendes Coelho, que já foi secretário de Saúde e de Educação de Picos (PI) e, assim como Diego, também tem um histórico na Justiça. Em 2015, Luciano foi preso na operação “Paradise” da Polícia Federal, acusado de desviar dinheiro público na Prefeitura de Araripina (PE), onde trabalhou como engenheiro civil. Também foram reconhecidos o Tenente da Polícia Militar de Santa Catarina, Eduardo Nunes, que serve na cidade de Lages (SC) e Felipe Wilson, funcionário da Latam em Guarulhos (SP).

Luciano ainda tentou minimizar a situação. Numa entrevista pelo WhatsApp à agência The Intercept Brasil, ele evitou se responsabilizar e optou pela desculpa mais fácil: o álcool. E ainda culpou a imprensa: “Somos pais de família, trabalhadores e vocês estão acabando com a vida da gente… estão transformando um copo d’água em uma tempestade”, disse à UOL. O engenheiro também declarou que está se sentindo “incomodado” com a repercussão das imagens. Quanto à humilhação, a agressão, a violência que cometeram contra a jovem, nem uma palavra!

Lamentavelmente, esse não é um caso isolado. Na esteira desse vídeo asqueroso, surgiram vários outros nas redes sociais que mostram torcedores da Copa (brasileiros e de outros países também) assediando mulheres com “brincadeiras” de cunho sexual. Em todos os casos, os homens se aproveitam do desconhecimento da língua para fazerem comentários sexistas. Esse é um retrato do quanto a cultura machista ainda predomina na sociedade. Não por acaso, no mundo todo 1 em cada 3 mulheres já sofreu violência física e/ou sexual, e a cada 10 minutos uma mulher é assassinada, segundo a ONU. Isso é resultado da ideologia machista, que considera a mulher como ser inferior e propriedade do homem. Ideologia essa, por sua vez, é alimentada e estimulada pelo capitalismo, que se utiliza do machismo e da opressão da mulher para dividir a classe trabalhadora e superexplorar metade dela, aumentando assim seus lucros. É por isso que as campanhas do imperialismo e da burguesia contra a violência e o machismo não passam de uma enorme hipocrisia, pois se calam diante desse fato da realidade.

Nunca é demais lembrar que o Brasil é o 5º país no ranking da violência contra as mulheres, sendo que a cada 7 segundos uma mulher é espancada, e a cada 2 horas uma brasileira é morta pela violência machista. Sem falar nos estupros, assédios, no turismo sexual, entre outros tipos de violência, das quais as mulheres negras são as principais vítimas; os homens envolvidos no vídeo em questão, por sua vez, são parte dos que protagonizam e sustentam esses números alarmantes.

Várias entidades publicaram notas de repúdio, incluindo a OAB-PE que decidiu investigar a conduta de Diego Jatobá através da Comissão da Mulher Advogada, que encaminhou a denúncia ao Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem. Também a PM de Santa Catarina informou que abrirá um processo administrativo disciplinar contra o Tenente Eduardo Nunes.

Vale destacar que denúncias de machismo e misoginia são frequentes, fora e dentro das instituições policiais no Brasil. Não é novidade nenhuma que policiais, quando estão realizando ações na periferia, tem a prática de desrespeitar as mulheres dessas localidades, tratando-as quase sempre por “mulheres de malandro” ou “mães de vagabundo” principalmente quando se trata de mulheres negras. Não são poucos os casos de mulheres que, ao chegarem numa delegacia para denunciar um caso de violência, são tratadas como culpadas pelos policiais que estão ali para supostamente ajudá-las, ao invés de vítimas, como de fato são.  Por outro lado, uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, em 2015, revelou que 40% das mulheres que atuam nas instituições policiais brasileiras já sofreram assédio. Apesar disso, a maioria das denúncias acabam sendo arquivadas.

A companhia aérea Latam, cujo histórico de denúncias de racismo é bastante conhecido, dessa vez anunciou a demissão do funcionário que aparece no vídeo. Quanto ao governo brasileiro, apesar dos inúmeros e-mails registrados pela embaixada brasileira na Rússia criticando o comportamento dos torcedores envolvidos no caso, o Ministério das Relações Exteriores não fez nenhum comentário específico e aguarda uma denúncia formal para poder se posicionar!

O PSTU repudia veementemente qualquer comportamento machista praticado contra mulheres, não só na Copa mas em qualquer situação, seja por homens brasileiros ou de qualquer nacionalidade. Não há justificativa para essas atitudes, não se trata de simples “brincadeira”, mas de agressão. Nesse caso específico dos vídeos envolvendo brasileiros, defendemos que todos sejam devidamente identificados e punidos, independentemente de uma denúncia formal por parte das mulheres que sofreram o abuso, mesmo porque é muito pouco provável que essas mulheres, que não são brasileiras e sequer conhecem nosso idioma, venham a fazer uma denúncia. Além disso, só o fato de terem postado vídeos desse cunho na Internet já um crime virtual.  Por isso, basta de violência e machismo! Punição exemplar aos agressores!

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