qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Estudantes param a USP pela libertação dos presos e contra a PM

Após a invasão da Tropa de Choque, alunos interromperam aulas e fizeram protestos. Assembleia unitária discute próximos passos

O forte aparato policial que invadiu o prédio da Reitoria da USP (Universidade de São Paulo) nas primeiras horas da manhã pôs fim à ocupação do prédio, com a saída pacífica dos manifestantes que ali estavam há vários dias. Mas, nem de longe, encerrou a batalha aberta na universidade sobre o convênio entre a reitoria e a PM, que permite a presença dos policiais no campus. Ao contrário, a presença de dezenas de veículos, de bombas de gás e do efetivo de 400 policiais desencadeou a revolta na comunidade universitária.

Imediatamente após a operação militar, grupos de estudantes se formaram em frente à reitoria, composto por alunos que chegavam para as aulas, ativistas que não foram presos ou que não estavam participando da ocupação, professores, funcionários e sindicalistas. Os manifestantes que chegavam se deparavam com o forte cordão policial, que permaneceu montado durante todo o dia, com dezenas de policiais do Batalhão de Choque e da Força Tática, e veículos sendo usados para impedir a passagem até a frente do prédio da reitoria.

A esse grupo se somaram também moradores do CRUSP, a moradia estudantil, que foram acordados por volta das 5h com a operação policial. “Nós acordamos com o som dos helicópteros sobrevoando a USP e as sirenes. Logo depois, lançaram bombas de gás lacrimogêneo para que a gente não deixasse o prédio e fosse até a reitoria. Ao menos três bombas foram jogadas”, denuncia uma moradora, que não quis se identificar.

No meio da manhã, os manifestantes fizeram uma reunião e decidiram formar vários grupos para percorrer a universidade, paralisar as aulas e conversar com os alunos, denunciando o ocorrido. Na Faculdade de Letras, os estudantes fizeram uma assembleia e decidiram parar as aulas, aderindo à mobilização. Também resolveram adiar a eleição do Centro Acadêmico, que estava marcada, e publicaram uma nota pública contra a PM no Campus.

No final da manhã, cerca de 200 estudantes de vários cursos, como Letras e Arquitetura, também foram em passeata até a 91ª Delegacia Policial, aonde os 73 estudantes haviam sido levados presos, em ônibus. “Caminhamos cerca de uma hora até a delegacia, cantando palavras de ordem, pela liberdade aos presos”, conta o estudante Paulo Henrique “Bahia”, estudante da Letras e militante do PSTU, que chegou na USP às 6h50min, deparando-se com a invasão.

Até o final da tarde, 70 estudantes permaneciam detidos, muitos nos ônibus, em frente à delegacia. Eles divulgaram uma carta na qual denunciavam: “Nos obrigaram a entrar em salas escuras e agrediram estudantes. Homens com farda e sem identificação”. Com a queixa feita contra os estudantes pela reitoria, foi fixada uma fiança de R$ 1.050, 00 para cada um dos detidos. Durante a tarde, sindicatos e entidades, como a CSP-Conlutas, mobilizaram-se para entrar com um pedido de habeas corpus e também para arrecadar a quantia necessária para a libertação do grupo.

De volta da delegacia, os estudantes se somaram aos que realizavam um ato perto da reitoria, somando cerca de 300 pessoas. Ali, de frente para os policiais, protestaram contra o ataque, com palavras de ordem, discursos e aulas-públicas de professores da USP, que também lançaram um manifesto e abaixo-assinado online contra a invasão.

O ato concentrou forças e, com as aulas paradas, aglutinou os que estão ainda perplexos e revoltados com a ação da reitoria. No início da tarde, um grupo de estudantes do IME (Instituto de Matemática e Engenharia) veio em delegação apoiar o protesto. Eles carregavam um cartaz com os dizeres: “Se até o IME está aqui, quer dizer que a coisa tá feia”, ironizando a baixa participação e adesão a protestos dos alunos do instituto.

Unidade

No início da noite, os alunos fizeram reuniões nos cursos e, às 20h, iniciariam uma assembleia central para decidir os próximos passos. “Sem liberdade, não tem universidade. Esse ataque derrubou a máscara do reitor, que já vem aplicando a militarização da USP, com a presença da PM e com processos contra alunos e funcionários”, afirmou Dirceu Travesso, da CSP-Conlutas, que permanecia no local. “O que está em jogo é a defesa da universidade e das liberdades. É necessário uma grande unidade contra esse ataque.

Greve

Em assembleia geral que reuniu mais de 2 mil pessoas na noite dessa terça-feira, os estudantes decidiram decretar greve geral. Eles exigem o fim do convênio entre a reitoria e a PM e o arquivamento de todos os processos contra os estudantes detidos.

Última hora

De acordo com informação do jornal O Estado de S. Paulo online, foram necessários R$ 39.240,00 para pagar a fiança dos estudantes, de um salário mínimo cada uma. O dinheiro foi arrecadado por sindicatos filiados à CSP-Conlutas, à qual pertence o Sintusp, entidade que representa os trabalhadores da USP.


Nota após a ação da PM e as prisões dos estudantes da USP

Juventude do PSTU-SP

FORA PM DO CAMPUS DA USP!
ABAIXO A REPRESSÃO!
LIBERDADE PARA OS ESTUDANTES PRESOS!
NENHUMA PUNIÇÃO AOS LUTADORES!
PELA REVOGAÇÃO IMEDIATA DO CONVÊNIO ENTRE A PM E A USP!

Na madrugada desta terça-feira, dia 8 de novembro, a Polícia Militar, a mando da Reitoria da Universidade São Paulo e do Poder Judiciário do Estado, invadiu a Universidade e o prédio da reitoria para desocupá-lo dos estudantes que protestavam contra a presença da Policia Militar no campus, levando presos cerca de 70 estudantes e intimidando militarmente toda a comunidade universitária.

Cai a máscara do convênio entre a Reitoria e a PM

Com este ato de violência e arbitrariedade, cai por terra todas as desculpas da reitoria e fica absolutamente claro por que se mantém a Policia Militar no campus da Universidade.

O objetivo não é proteger a população dos criminosos. O OBJETIVO É REPRIMIR E INTIMIDAR O MOVIMENTO ESTUDANTIL. Utilizam-se do trágico assassinato do estudante, ocorrido recentemente, para permitir a entrada da Polícia Militar, utilizando-se do argumento do combate à criminalidade.

A PM não resolveu o problema de combate à criminalidade e, ao contrário, iniciou um processo de perseguição e controle dos estudantes e funcionários, abordando e revistado-os, entrando em Centros Acadêmicos e prédios de aula, interferindo diretamente nos espaços que deveriam permitir um debate livre e democrático de ideias.

E agora demonstraram claramente o principal objetivo da reitoria de mantê-los no campus: reprimir violentamente, com prisões e detenções, a qualquer manifestação realizada pelos estudantes, e futuramente dos funcionários.

Nós, da Juventude do PSTU, pensamos que a ocupação não era a melhor forma para ganhar a maioria da comunidade e da população para, juntos, derrotarmos a repressão de Rodas e botarmos a PM fora do Campus, resgatando a autonomia universitária.

Avaliamos que a luta contra a PM no campus é fundamental, mas não concordamos que essa luta deva se dar de maneira isolada.

Devemos buscar o apoio de mais estudantes em toda a USP, construir uma grande mobilização e usar dos métodos mais radicais do movimento, como as ocupações, a partir do momento em que eles aproximem mais pessoas e disputem a opinião pública para as nossas posições.

Para nós, é tarefa dos lutadores ganhar cada dia mais estudantes para as nossas opiniões e atividades. E parte disso é respeitar a opinião da maioria mesmo quando somos contrários a ela.

Queremos uma universidade segura, mas para isso defendemos outras alternativas: mais iluminação e alternativas de transporte no campus, ocupação de seus espaços pela população, contratação e treinamento de uma guarda universitária concursada, que seja composta por funcionários treinados para a identificação e prevenção dos problemas de segurança, em especial com um corpo feminino que responda aos casos de violência contra as mulheres. Somos contra a PM no campus porque sabemos que seu papel é outro – abordar estudantes e trabalhadores, observar e reprimir o movimento organizado, impedir o clima de livre difusão de ideias, tão importante à autonomia universitária.

Em defesa dos lutadores! Contra a repressão!

Mesmo não vendo a ocupação como melhor forma para derrotar a repressão e discordando da metodologia com que foi feita, não aceitamos nenhuma repressão aos estudantes que ocuparam. Defendemos todos aqueles que se indignam contra a repressão e defendem a Universidade Pública, independente das discordâncias da melhor forma de luta.
 
  • Repudiamos qualquer tipo de atitude violenta por parte da reitoria para reprimir o movimento.
  • Exigimos a imediata libertação de todos os companheiros.
  • Somos contrários a qualquer processo contra estudantes e trabalhadores.
  • Exigimos também a revogação completa dos processos criminais e   administrativos.

Unidade na luta contra a polícia no campus

Neste momento em que o movimentos estudantil da USP sofre um de seus maiores ataques, não podemos aceitar a Polícia Militar na Universidade, sob qualquer desculpa. Chamamos a todo o movimento estudantil e aos movimentos sociais a participarem de maneira unitária da luta: PELA RETIRADA IMEDIDATA DA PM DO CAMPUS E LIBERTAÇÃO IMEDIATA DE TODOS OS PRESOS.


Atividades

Ato nesta quinta-feira (10/11) às 14h no Largo São Francisco. Concentração: 12h.

Próxima Assembleia Geral dos Estudantes: quinta-feira (10/11) às 18h no Largo São Francisco.
 
Fonte: www.pstu.org.br e www.cspconlutas.org.br

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