qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Rio de Janeiro: O resultado de uma política de extermínio

O brutal assassinato do menino João Roberto, de apenas três anos, por policiais militares que metralharam o carro em que estava com a mãe e o irmão, no dia 6, comoveu toda a população. Mas também colocou em xeque a política de segurança pública de extermínio adotada pelo governo de Sérgio Cabral (PMDB). Ao contrário do que diz o governo – teria sido uma ação “desastrada” de policiais “sem preparo” -, a morte de João Roberto evidenciou uma máxima da chamada nova política de segurança: primeiro atira, depois pergunta.

Essa nova política adotada por Sérgio Cabral, com a colaboração do governo Lula, através do PAC da Segurança, já provocou a morte de centenas de pessoas no Rio. A maioria são jovens e crianças negras das comunidades carentes, conforme comprovam os relatórios da Anistia Internacional e da própria ONU.

Mas a vontade assassina das tropas e forças militares já não poupa nem os filhos da classe média, que também são vitimados pela violência policial, como Daniel Duque, morto por um PM na saída de uma casa noturna em Ipanema.

Há um ano, a maioria da sociedade, embalada pelo filme “Tropa de Elite”, fez vista grossa à chacina ocorrida no Complexo do Alemão, mais conhecida como “Chacina do Pan”. Cerca de 50 pessoas foram covardemente assassinadas pelas forças policiais que ocupavam a favela.

Da mesma forma, pouco se fala da ocupação militar e das violações aos direitos humanos no Haiti pelo exército. De lá para cá, a política de extermínio ganhou requintes de crueldade, como no episódio ocorrido no Morro da Providência, em que três jovens foram mortos após militares do exército os entregarem para traficantes de morro vizinho e rival. Os militares ocupavam a comunidade para as obras eleitoreiras do candidato Marcelo Crivela, apoiado por Lula. A população da comunidade se mobilizou e exigiu a retirada das tropas.

Neste momento em que tomba mais uma vítima da violência policial, devemos seguir o exemplo dado pelas mães da comunidade da Providência. Com sua organização e mobilização, elas conseguiram dar um basta à ocupação do exército. Assim, saudamos a carreata realizada pelos taxistas, colegas do pai de João Roberto, em solidariedade à família e em protesto à violência.

Da mesma forma, devemos ir à ruas para exigir dos governos Cabral e Lula o fim da violência policial, da ocupação das comunidades, do Caveirão e o fim dessa polícia assassina e corrupta. Também devemos exigir a retirada das tropas brasileiras do Haiti.

Não podemos ter ilusões nas promessas demagógicas dos políticos burgueses. Principalmente em ano eleitoral, quando vestem pele de cordeiro para logo após atacarem os trabalhadores. Sabemos que o modelo neoliberal, concentrador de renda, impõe cada vez mais a repressão e a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.

Somente através da organização e mobilização dos trabalhadores e da juventude poderemos conquistar melhores empregos, salários e aposentadoria. Basta de repressão ao povo pobre. Para resolver o problema da criminalidade é preciso encarar a questão social da miséria.

Ciro García

 

Militares participam de assassinato de três jovens em comunidade carente do Rio

Andre Freire

“Ninguém os quer mais na comunidade. Não temos mais confiança na roupa verde do Exército.”

O depoimento acima é de um operário das obras do PAC e morador do Morro da Providência, no Rio de Janeiro (RJ). Esses trabalhadores realizaram uma greve pedindo a saída do Exército da comunidade.

O Morro da Providência é a mais antiga favela da cidade do Rio. Foi formada no início do século passado por soldados que retornaram do massacre que o Exército brasileiro promoveu contra a comunidade de Canudos. Esta comunidade carente, localizada bem no centro da cidade, foi escolhida pelo senador e ex-oficial do Exército Marcelo Crivella (PRB) para instalar sua obra demagógica e eleitoreira chamada de “Cimento Social”. O projeto de Crivella é parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

Esta obra de fachada já é conhecida como o “cimento eleitoral”. Crivella é candidato a prefeito e vem usando-a de forma descarada em sua campanha. Com o apoio de Lula, conseguiu autorização para usar tropas do Exército na execução das obras iniciadas em dezembro de 2007. Trata-se do único convênio deste tipo em andamento em todo o país. Desde então, a comunidade sofre com o autoritarismo, o terror e a violência de uma verdadeira ocupação promovida pelo Comando Militar do Leste.

Três jovens do Morro da Providência foram entregues, na madrugada do dia 14 de junho, a traficantes de uma comunidade rival, o Morro da Mineira. Os autores dessa operação horrenda foram onze militares do Exército. Entre eles, o Tenente Vínicius Ghidetti Andrade, que comandou a operação.

Os jovens foram torturados até a morte. Seus corpos foram cortados em pedaços pelos traficantes. A polícia investiga se os militares brasileiros não venderam as três vítimas aos criminosos, prática muito comum na chamada “banda podre” da polícia carioca.

Um dos três jovens assassinados barbaramente, Wellington, iria começar a trabalhar nas obras do PAC do Morro da Providência na segunda-feira. Porém não sobreviveu até lá devido ao terror imposto pelo Exército em sua comunidade. Apenas um dos jovens possuía antecedentes criminais leves, mostrando claramente que a ação do Exército atingia prioritária e indiscriminadamente o povo pobre e negro da comunidade.

Os 75 operários das obras do PAC da Providência, muitos deles moradores da comunidade, entraram em greve nesta segunda-feira. Eles exigem a saída do Exército. Com a permanência da ocupação militar, não existe nenhuma segurança para realizarem seu trabalho.

Também na segunda-feira, após o enterro das três vítimas, centenas de moradores realizaram uma manifestação na sede do Comando Militar do Leste, na Central do Brasil, e foram violentamente reprimidos por forças do Exército e da Tropa de Choque da Polícia Militar.

A Conlutas-RJ e o Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (IDDH) já estiveram presentes no local durante vários dias, representados por Ronaldo Moreno e Aderson Bussinger, ambos militantes do PSTU. essas entidades estão organizando uma comissão de sindicalistas para prestar solidariedade aos familiares das vítimas e preparar uma nova manifestação para os próximos dias.

Exigir de Lula a retirada imediata do Exército e da Força Nacional de Segurança Nacional
A ocupação militar da Providência se parece muito com a política fascista do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do seu Secretário de Segurança, José Beltrame, que ocupam militarmente, com o auxílio tropas da Força Nacional de Segurança, comunidades carentes do Rio, como o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro.

O ministro da Justiça, Nelson Jobim, se apressou em visitar a comunidade para tentar se desculpar. Ele teve o descaramento de usar o exemplo da intervenção militar brasileira no Haiti para defender a permanência do Exército na Providência, comparando a ação no Rio com os “efeitos benéficos” que o Exército brasileiro está causando para o povo haitiano. É bom lembrar ao ministro de Lula que, em maio deste ano, o Exército brasileiro assassinou pelo menos seis manifestantes haitianos que protestavam contra a alta de preços nos alimentos naquele país.

Neste momento, autoridades ligadas ao governo Lula, ao Exército, ao governo do Estado e à imprensa burguesa estão se esforçando para demonstrar que o acontecido na Providência foi um caso isolado e que todos os culpados serão punidos exemplarmente. Todos eles defendem que o Exército deve continuar na comunidade. Porém o que não pode mais ser escondido é que excessos como estes são rotineiros nas ocupações militares das comunidades carentes do Rio e nas ações das polícias em nosso Estado.

Os verdadeiros responsáveis por este absurdo são os governos federal, estadual e municipal. São eles que aplicam e apóiam a política fascista de segurança pública do governo do Rio, unindo, no mesmo lado, Lula, Jobim, Cabral, Beltrame e César Maia.

O PSTU exige do governo Lula a imediata saída do Exército do Morro da Providência. Da mesma forma, a retirada da Força Nacional de Segurança das comunidades carentes da cidade. A violência só será realmente combatida com geração de empregos, melhores salários e investimentos massivos nas áreas sociais. Manter a política de segurança pública fascista, aplicada por Beltrame e Cabral com o apoio do PT só vai gerar mais violência e vitimar ainda mais a juventude pobre e negra das comunidades carentes cariocas.

Chamamos todos os movimentos sociais a apoiar e cercar de solidariedade as manifestações dos moradores do Morro da Providência, pois somente elas poderão arrancar dos governos a saída imediata das tropas do Exército da comunidade.

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