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quinta-feira, março 28, 2024

16 anos do MAS: Das lutas ao Governo

 

O MAS foi fundado em 27 de março de 1995 na cidade de Santa Cruz. Neste encontro participaram centenas de lutadores indígenas, trabalhadores do campo, intelectuais de esquerda etc. Estes setores buscavam construir uma alternativa política para combater os ataques do neoliberalismo.


O MAS se construiu em uma conjuntura de profundo retrocesso do sindicalismo operário. Em agosto de 1985, a aplicação do decreto 21.060, resultou na demissão de milhares de mineradores e trabalhadores das fábricas. Diante da crise do movimento operário e apoiado no ascenso dos setores indígenas camponeses, o MAS desempenhou um papel bastante progressivo ao organizar a luta contra a criminalização da folha de coca, pelo reconhecimento dos territórios e das reivindicações indígenas contra a opressão e a discriminação. Mesmo sendo um partido reformista, sem uma estratégia de destruição do sistema capitalista, o MAS foi um instrumento de luta dos camponeses e indígenas e conseguiu reunir importantes setores combativos em suas fileiras. Mas este partido, construído há 16 anos, foi perdendo todo seu caráter progressivo.

Por ter uma estratégia eleitoral e reformista, o MAS se adaptou progressivamente a democracia burguesa. A partir do ano de 2002 o MAS entrou em um profundo processo de degeneração política, perdendo as características progressivas de sua fundação. De um partido de lutas no campo se transformou em um aparato eleitoral, dirigido por oportunistas e burocratas.

A ação direta das massas foi substituída pela eleição de prefeitos, governadores, parlamentares e por fim do presidente. As lutas se subordinaram cada vez mais a lógica eleitoral. Sindicalistas e ativistas dos movimentos sociais se converteram em burocratas e parlamentares. Durante os processos revolucionários de 2003 e 2005, o MAS foi um dos principais responsáveis por desviar a revolução até as eleições. A queda de Goni permitiu a ascensão de Carlos Mesa, e depois, nas jornadas de 2005, o MAS defendeu uma saída no marco do regime democrático burguês.

Neste momento se revelou o caráter contra-revolucionário deste partido. Já não são os militantes de base que definem os rumos do MAS. Pudemos perceber isso claramente nas últimas eleições, quando os principais candidatos, inclusive antigos representantes da direita, eram indicados a dedo por Evo Moráles e pela cúpula do MAS. A corrupção, algo muito comum entre os membros da direita, também se apropriou do MAS. Isso ficou claro no escândalo de corrupção envolvendo um de seus principais dirigentes, Santos Ramirez, ou no recente escândalo do general Sanabria, envolvido com o narcotráfico e assessor de inteligência do ministro de governo Sacha Llorente.

Durante os anos 90, o MAS e seus dirigentes estavam frente aos piquetes e passeatas, mas hoje criminalizam as lutas operárias e populares como faziam os governos militares e de direita. No governo, o MAS mantém o mesmo modelo econômico, de dependência das transnacionais. A nova constituição, que havia gerado grandes expectativas na população, foi acordada com a oligarquia e com a direita. Nela o latifúndio e o saque dos recursos naturais foram legalizados. O MAS, há cinco anos no poder, não promoveu nenhuma mudança nas condições de vida do povo e da classe operária. Somente os empresários e os oligarcas estão contentes com o “viver bem”.

O que vemos é mais miséria, desemprego e fome, enquanto as transnacionais seguem saqueando nossos recursos naturais. Para nós não é possível acabar com o desemprego e a fome do povo sem romper com o imperialismo e com a burguesia. A Bolívia precisa de uma revolução socialista. A experiência de amplos setores operários e populares com os cinco anos do governo do MAS está abrindo um processo de reorganização política e sindical. Está surgindo um espaço à esquerda do governo. Devemos aproveitar esta possibilidade e avançar na construção de uma alternativa dos trabalhadores frente à falência do MAS.

Por que os trabalhadores necessitam construir sua própria organização política?

Nos últimos dias, o tema do partido enquanto instrumento político dos trabalhadores voltou ao cenário político. O dirigente da COD Oruro, Jaime Solares, anunciou nos principais meios de comunicação do país a necessidade de que a classe trabalhadora tenha seu próprio partido, independente da direita e do MAS. Em inúmeros congressos e assembleias operárias este tema foi debatido, mas a burocracia sindical jamais levou adiante esta tarefa. Nós, do grupo Luta Socialista, consideramos que a construção de um partido operário independente, a partir dos sindicatos e dirigentes combativos seria um grande avanço na consciência da classe trabalhadora boliviana. Os empresários e a oligarquia têm seus partidos e organizações políticas e os utilizam para garantir seu poder político e econômico.

O MAS há muito já não representa os trabalhadores da cidade e do campo e nem os povos indígenas. Este partido traiu a expectativa de milhares de lutadores sociais. Há uma grande decepção em amplos setores operário e populares com o governo. Diante disto os trabalhadores precisam se organizar em seu próprio partido, assumindo um programa anticapitalista e antiimperialista. Um partido a serviço das lutas operárias e populares, em defesa da Agenda de Outubro e uma real nacionalização dos recursos naturais. Um instrumento político com uma estratégia socialista e revolucionária, que lute por um governo de operários, trabalhadores do campo e nacionalidades indígenas oprimidas.

Lamentavelmente alguns grupos de ultra esquerda como o POR, não acredita ser necessário a construção de um partido dos trabalhadores. O POR, com sua típica auto proclamação sectária, se considera o único partido da classe operária. Nós e a maioria dos trabalhadores bolivianos não pensamos assim. Sua política ultra sectária é um grande obstáculo na construção de uma alternativa política de esquerda, socialista e revolucionária frente ao MAS. Por isso estão contra o surgimento de uma alternativa política dos trabalhadores.

Defendemos que este instrumento político da classe trabalhadora possa participar das eleições, no entanto alertamos que as eleições devem ser uma tática a mais e não uma estratégia. A participação eleitoral deve estar subordinada a ação direta dos trabalhadores. Este partido deve funcionar baseado nos princípios da democracia operária, da independência política frente aos partidos dos patrões, ou seja, não podemos permitir que em suas fileiras estejam ex-representantes da direita. Este partido deve ser financiado totalmente pelos trabalhadores. Não se deve receber nenhum centavo dos empresários, do governo ou das ONG’s. Estas são as lições que devemos tirar da experiência de partidos como o MAS na Bolívia e o PT do Brasil. Ambos transformaram as eleições em um fim estratégico e se adaptaram as instituições do Estado Burguês.

Estes partidos acabaram se aliando com a direita e a burguesia. Ambos participaram das eleições com o único objetivo de fazer parte do parlamento burguês e ter o máximo de votos possível. Ao contrário, nós revolucionários acreditamos que jamais haverá possibilidade de reformar o capitalismo pela via eleitoral. A transformação da sociedade só poderá ser feita por uma revolução socialista. Aconteceram grandes lutas e insurreições nos últimos anos na América Latina. Foi assim na Bolívia (2003 e 2005), mas os trabalhadores não conseguiram tomar o poder, já que naquele momento não havia um partido revolucionário com influência de massas.

As greves e as lutas sindicais ao unir os trabalhadores lhes ensinam como lutar contra os capitalistas. Mas os sindicatos são insuficientes para realizar a tarefa mais importante para os trabalhadores: a disputa pela tomada do poder e a construção de um governo dos operários, indígenas e trabalhadores do campo. Não há outro caminho para resolver os problemas mais sentidos pelo povo boliviano sem destruirmos o estado burguês semi colonial e construirmos um estado Operário com todas as etnias e nacionalidades.

Fonte: Lucha Socialista nº 24, maio/junho 2011

Tradução por Thaís Rossi

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