qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

XXX Encontro Nacional de Mulheres

Um frio quase invernal e o cheiro do porto receberam mais de 65 mil mulheres em Mar del Plata, de 10 a 12 de outubro, para participarem do XXX Encontro Nacional de Mulheres (ENM). “La Feliz”1 estava cheia de delegações de todo a Argentina e mulheres alegres e determinadas que transitaram por suas ruas durante três dias.

Por: PSTU – Argentina

Sem dúvida, a luta contra a violência foi o eixo central que recorreu o encontro. Depois do 3J e diante do aumento dos feminicídios, a discussão tornou-se cada vez maior. A partir do Luta Mulher e do PSTU, participamos com companheiras de Buenos Aires, CABA, Córdoba, Rosario, Mendoza, Neuquén e Chubut. Em muitas oficinas, apresentamos nosso programa e nossa saída para a violência, a prostituição, o tráfico de pessoas, a necessidade do Estado laico, a educação, a saúde, a organização das mulheres nos sindicatos, a diversidade sexual, o direito ao aborto legal, seguro e gratuito, etc.

Fomos para dizer que o governo deve assumir a responsabilidade por nossa situação destinando o orçamento necessário, que a Igreja não deve se intrometer em nossas decisões nem nos impor sua moral hipócrita, e fomos para dizer que é necessário voltar do Encontro e exigir em nossos sindicatos e centrais estudantis que tomem nossas reivindicações para que sejam parte do plano de luta de todos os nossos companheiros.

Fomos para dizer que, embora hipocritamente tenham tirado fotos com o cartaz do “Nenhuma a menos” e usem o tema na campanha eleitoral, Scioli, Macri e Massa não são a saída para as mulheres trabalhadoras: todos eles são responsáveis pela falta de orçamento para combater a violência, todos eles privilegiam pagar a dívida externa em detrimento das centenas de mulheres que morrem a cada ano. Fomos para dizer que só a FIT nos apresenta nestas eleições uma saída para nossa situação.

Nos nossos artigos (do jornal Avanzada Socialista), convidamos você a compartilhar conosco algumas das conclusões desta experiência multitudinária da qual fizemos parte.

Levamos o ENM a nossos lugares de trabalho

Pelo jornal Avanzada Socialista, falamos com Silvia Martín, membro da CD de Suteba Matanza e candidata à Deputada Provincial em Buenos Aires pelo PSTU na FIT, sobre as primeiras conclusões do Encontro em Mar del Plata.

Foi um Encontro multitudinário e com muito debate, a participação superou todas as expectativas e as companheiras voltaram muito contentes por terem sido parte de uma instância tão importante para as mulheres. Mas ainda há muito a ser melhorado. Desde a organização, por exemplo, vou mencionar as boas-vindas que tivemos, porque na verdade é o primeiro ano em que somos convocados para a abertura em um lugar praticamente invisível, muito longe do centro de Mar del Plata, de onde uma grande maioria de organizações e de mulheres independentes se retirou porque era impossível compreender ou ouvir a apresentação. A realidade dos Encontros é que a cada ano é mais clara a conivência das organizadoras (principalmente o PCR) com os poderes políticos das cidades aonde vamos, como foi o exemplo da marcha de domingo, que em seu trajeto oficial não passava pela Prefeitura e nem pela Catedral, como se essas instituições não tivessem nada a ver com nossa situação de opressão como mulheres.

Por causa desta atitude, nas diferentes oficinas as organizações de esquerda, em sua grande maioria, tentam impor que se vote. Nós, do PSTU, acreditamos que é impossível votar aqui, uma votação não representaria verdadeiramente ninguém e, ao não ser um organismo de luta cotidiano como são os sindicatos ou centros de estudantes, depois não haveria quem levasse adiante o que foi votado. O que nós acreditamos é que temos de tomar em nossas mãos as conclusões e as discussões que se dão aqui para ver como ganhamos nossos companheiros homens de cada local de trabalho em que nos encontramos, para ver como saímos às ruas e reivindicamos todos juntos todos os direitos que são nossos. Não só o direito ao aborto, mas também que a violência contra as mulheres acabe e denunciar que atualmente o governo praticamente não destina orçamento a essa problemática. Nesse sentido, são importantes as discussões que foram feitas nas oficinas de educação onde propusemos a luta contra as legislações nacionais e provinciais de educação, que a única coisa que estão fazendo é destruir a escola pública. Os debates ocorreram também nas oficinas de saúde sobre a necessidade de aumentar a reivindicação por hospitais públicos em boas condições.

Devemos também dizer que, pela primeira vez, a marcha do Encontro foi reprimida, isso é uma demonstração de qual é a política de Scioli em relação à luta pelos direitos das mulheres. Claro que queremos expressar nosso repúdio à repressão. No entanto, acreditamos que a saída não passa pelas ações de poucas companheiras que chamem a atenção, mas acreditamos na massividade da luta da classe trabalhadora, por isso não concordamos com as organizações que se centram em fazer ações “atrevidas” que só servem exclusivamente para a mídia mostrar a luta pelos direitos da mulher como algo totalmente alheio à nossa classe.

Esta é toda uma luta que não pode ser dada somente pelas mulheres trabalhadoras, mas sim em conjunto com o resto da nossa classe, que é explorada e que querem fazer pagar pela crise dos empresários.

Os companheiros no ENM

Para a surpresa de muitas mulheres, a delegação do PSTU participou com muitos companheiros homens no ENM.  Sebastián Romero, trabalhador da General Motors, nos conta o porquê.

Nós, companheiros do PSTU, viemos a este Encontro porque acreditamos que os problemas das mulheres trabalhadoras não são apenas das mulheres, e sim que envolvem todos nós. São nossas companheiras as que dia a dia sofrem com a violência, a desigualdade salarial, a maior precarização no trabalho e também suportam a maior parte do trabalho doméstico.

Acreditamos que nós, trabalhadores, também temos que estar presentes nesta luta. Não é fácil, porque crescemos e vivemos em uma cultura de machismo e não é fácil romper com isso, é uma luta de todos os dias, contra tantas ideias que querem nos impor, como a mídia, por exemplo. Nós também viemos para executar tarefas para que as companheiras possam participar plenamente das discussões do Encontro: organizamos uma creche para cuidar dos filhos das companheiras, preparamos a comida e nos encarregamos das tarefas organizativas.

Volto muito contente desta atividade, com muito orgulho de minhas companheiras e companheiros, e cada vez mais convencido de que temos que lutar ombro a ombro para acabar com a exploração e com todo tipo de opressão.

Nota:

1. “La Feliz” é como se referem à cidade de Mar del Plata, na costa atlântica da Argentina, por ser um lugar turístico e de veraneio, onde acontecem as mostras internacionais de cinema, teatro, recitais de música, etc., e que reúne famílias, grupos de jovens e turistas de todas as partes, durante todo o ano.

Artigos publicados no jornal Avanzada Socialista n° 97, outubro de 2015.

Leia este e outros artigos em: www.pstu.com.ar

Tradução: Nadini Tavares

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares