qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Sobre a “Frente antimacrista” que propõe o kirchnerismo

O macrismo e os distintos peronismos estão em campanha eleitoral. São diferentes propostas, mas com algo fundamental em comum: esperar que chegue outubro. Ou seja: se você está morrendo de fome, sem trabalho, não pode pagar os serviços ou o transporte, e não consegue comprar remédios ou material escolar, não lute. Espere e somente em outubro vote em quem você queira.

Por: PSTU Argentina

Temos que enfrentar essa manobra, e impulsionar a luta agora, contra o ajuste e a repressão do governo, os patrões e o FMI. E passar por cima dos dirigentes sindicais vendidos, obrigando-os a iniciar um plano de luta imediato.

Porém, nas fabricas e locais de trabalho, enquanto se prepara a resistência aos ajustes e demissões, assim como a reivindicação salarial, os companheiros discutem as próximas eleições.

A frente “antimacrista” é uma armadilha.

Nenhum trabalhador pensa em votar em Macri. Mas, atrás de Lavagna estão Duhalde e Pichetto, os melhores amigos de Macri. Isso desperta uma grande desconfiança

Mas com o kirchnerismo é outra coisa. Eles mantêm expectativa na classe operaria. Aproveitam do criminoso governo de Macri, que nos afunda na miséria, para dizer que “antes estávamos melhores”.

Os principais dirigentes kirchneristas estão na ofensiva propondo uma grande “Frente Antimacri” para as eleições. O argumento é que “tem que tirar Macri, e depois vemos”, porque “pior que isto não tem nada”. Chamam para essa frente o resto dos setores peronistas, assim como a esquerda. Esse argumento acaba sendo atrativo e parece sólido, porque efetivamente este governo é antioperario e está entregando nosso país.

Porém, é uma grande armadilha para os trabalhadores.

Agora estamos pior que nunca, mas não podemos esquecer que o período kirchnerista não foi nenhum paraíso.

As empresas de serviços foram privatizadas por Menem. Se Néstor ou Cristina tivessem aproveitado o poder que tiveram para renacionalizar todas as empresas, hoje não havia altas tarifas.

Somente reestatizaram a água (porque nenhum setor privado queria) e principalmente Repsol. Se os trens e metrôs, o petróleo e o gás, a eletricidade e todos os outros serviços essenciais estivessem nas mãos do Estado argentino, sob o controle dos trabalhadores e comissões de usuários, tudo seria diferente. Mas não fizeram isso. Com Cristina recebiam grandes subsídios –dinheiro que não ia para a saúde, aposentadoria, nem educação- e encheram os bolsos de dinheiro. E agora continuam ganhando fortunas com suas tarifas impagáveis.

Disseram que a dívida externa era um problema do passado. Em 2010 festejaram, no bicentenário, a segunda Independência da América Latina, junto com Evo, Chávez, Correa e Lula. Mentiram porque a Argentina nunca saiu do FMI. Durante o kirchnerismo forma pagos mais de 150 bilhões de dólares em juros. Claro que o novo acordo com o FMI agrava as coisas. Mas a dívida externa se pagou e asfixiou a economia argentina durante todo o governo kirchnerista. Nunca nos livramos do Fundo.

A precariedade do trabalho se manteve, assim como os acordos baixos e os “contratos lixos”.

A escalada repressiva de Macri teve seus antecedentes na Lei Antiterrorista, o Projeto X (de vigilância aos lutadores) e o genocida Milani a cabeça do Exército.

Os benefícios e as multinacionais que Macri representa foram importantes durante o kirchnerismo. Empresas de mineração, petroleiras e automotrizes aproveitaram de fortes benefícios e subsídios. Essas multinacionais que hoje roubam o país, o fizeram durante o período kirchnerista.

Em relação às reinvindicações das mulheres, Cristina se pronunciou sempre contra o direito ao aborto. E agora  quer unir a “azuis e verdes”, como se não fossem posições irreconciliáveis ante a gravidade da morte pela clandestinidade. Não existe forma de unir isso a não ser batendo palmas para a igreja e traindo a luta pelos direitos das mulheres. Não existe garantia de conseguir a legalização do aborto seguro, livre e gratuito, através de hospitais públicos, votando em Cristina.

E isso sem contar os numerosos casos de corrupção que conhecemos. O fato de que o macrismo os utilize eleitoralmente, não pode ocultar as mortes no Ferrocarril Sarmiento, nem as malas do convento, nem tudo o que roubaram do Estado vários dirigentes kirchneristas.

Os políticos kirchneristas e a própria Cristina querem nos convencer que a única saída é votar neles para vencer Macri.

Não podemos cair nessa armadilha. O kirchnerismo não é a saída. É mais do mesmo que já vivemos, para voltar e começar, dando voltas em círculos durante décadas, com as mesmas multinacionais roubando todas nossas riquezas, pagando a dívida eterna ao FMI e os bancos e permitindo a continuidade da injustiça com os direitos das mulheres, assim como a decadência –mais rápida- de saúde, educação, e o nível de vida do povo. Vocês imaginam se tivesse ganhando Scioli? Os trabalhadores e o povo estaríamos bem, nosso país desenvolvendo e teria terminado o roubo das multinacionais? De jeito nenhum. Estaríamos na mesma espiral decadente.

Não podemos seguir votando pelo “mal menor” e condenando as futuras gerações a essa situação.

Para repudiar a Macri necessitamos um proposta revolucionaria, que proponha uma mudança profunda, socialista.

Necessitamos uma alternativa operaria e socialista

Nas eleições se discute que pais queremos. Os trabalhadores odeiam tudo que o Macri representa. Necessitamos algo diferente, que somente pode vir com uma revolução, um governo dos trabalhadores que lute por uma segunda e definitiva independência, que imponha um programa de governo operário e popular para benefício da grande maioria. O voto em outubro deve estar a serviço dessa perspectiva, ao serviço das lutas operarias, de parar o saque feito pelas multinacionais e de liberar os presos por lutar como Daniel Ruiz.

Tradução: Túlio Rocha

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