sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Polêmica| Ante a reivindicação salarial da polícia de Buenos Aires

O país está atravessado por cada vez mais reivindicações, mobilizações e greves, fruto de uma situação econômica crítica que se aprofunda com a pandemia. E a política do Governo Nacional é priorizar o pagamento da Dívida Pública Externa adiando e/ou negando-se, no meio da crise econômica, a tocar no bolso dos ricos, enquanto os salários estão congelados.

Por: PSTU-Argentina
Esta escalada de protestos se depara agora com mais um: o da Polícia, no caso, a “Bonaerense” (da província de Buenos Aires), sob o governo peronista de Kicillof. Essa reivindicação, que tenta ser evitada pelo médico-militar-advogado Sergio Berni como a cara do Governo em matéria de segurança, tem uma diferença: os que se mobilizam carregam armas. Ainda assim, como já aconteceu, se se espalhar e transbordar ainda mais, poderia ser reprimida por outra força armada. Em uma contradição à luz do dia, explícita.
A notícia do protesto da Polícia Bonaerense percorreu a mídia junto com vídeos das patrulhas com sirenes acesas e concentrações em frente à casa do governo de La Plata. Os meios de comunicação oficialistas e a mídia de oposição concordaram com a magnitude e extensão da reivindicação. A presença da reivindicação ativa da Polícia foi sentida em La Plata, Berisso, Ituzaingó, Almirante Brown, Morón, Merlo, Quilmes, San Miguel, Azul, Malvinas Argentinas, Pilar, José C. Paz, Avellaneda, Lomas de Zamora, Tres Fevereiro, Junín, Bahía Blanca, La Matanza, Necochea, San Nicolás, Pinamar, Villa Gesell, Olavarría, Pehuajó, Tres Arroyos, Pergamino e Mar del Plata. Na terça-feira, 9 deste mês, outros policiais provinciais se juntaram às ações em Misiones, La Rioja, Chaco, Santa Fé e Chubut.
E mostraram, em conjunto, a situação vivida na cidade de La Plata, em que o Comissário Geral da Força, Daniel García, teve que pedir várias vezes o silêncio ante as vaias que exigiam soluções, ante quem, horas atrás eram seus subordinados, sem discussão.
A lista de reivindicações junto com o aviso de mobilização se tornou viral nas redes, que exigem publicamente:
# Salários dignos e com registro formal
#Pagamento correto de horas extras
# Basta de retaliação como se fôssemos “escravos” (Sumários, prisões, desligamento e transferências como medidas disciplinares)
#Assistência psicológica, fornecimento de uniformes e equipamentos de trabalho
# Capacitação e Treinamento permanente
# Celulares em condições de realizar nosso serviço corretamente
#Direito a uma moradia decente
#Direito a troca de obra social livremente
# Democratização das forças policiais
#Direito a sindicalização
O Governo “não entende” o motivo da reivindicação, anunciou um aumento salarial significativo e um plano de segurança abrangente de $ 40 bilhões. A crise interna da Frente de Todos se mostra acusando Berni de “incapacidade” de liderar as Forças de Segurança, instalando uma suposta tentativa de desestabilizar o Governo Nacional do Presidente Fernández e um enfraquecimento do Governador de Buenos Aires, Axel Kicillof. Setores sindicais, como a CTA dos Trabalhadores e a Corrente Federal da CGT, manifestaram apoio incondicional chamando a defender a Democracia.
Meios de comunicação como a Ámbito Financiero, que não se caracteriza por se aliar a Pagina 12, coincidem com eles na oposição a essas ações: “O que aconteceu com o líder Sergio Berni? Seus subordinados? Algo está errado. Ontem à noite, alguém agitou as forças policiais. E teve resultados. Toda a liderança política deve rejeitar este tipo de ato. Hoje foi a vez de Kicillof, amanhã pode ser outra pessoa.” (Ámbito 8/9).
Nada com a Polícia ou pela ruptura da tropa com seus chefes?
Embora na maioria das vezes a repressão em grandes marchas seja realizada por outros grupos especiais ou forças federais, a instituição policial bonaerense tem em sua história passada e presente muita repressão e desaparecimentos, como o recente caso de Facundo Castro, que se soma a uma longa lista. O assédio policial nos bairros aumenta com o ritmo da crise social.
Na província de Buenos Aires, a cada 40 horas uma pessoa morre nas mãos da Polícia, e os abusos cometidos pela polícia nos bairros contra a juventude são cometidos por policiais comuns. A Bonaerense também é acusada de casos de corrupção, acordos e negócios com jogos e prostituição junto a juízes e políticos. O repúdio ao Bonaerense, uma força com mais de 90 mil efetivos, é muito grande entre os trabalhadores e tem justificativa.
Todas as forças armadas são utilizadas pelo Estado para cuidar dos interesses dos ricos, dos patrões, para fazer cumprir a Lei que eles criam, para proteger sua propriedade privada, ou seja, para fazer os trabalhadores cumprir sua lei, enquanto roubam milhões gerando fome e morte.
Essa é a enorme contradição da realidade: as Forças Armadas, como a polícia, que estão lá para cuidar deles, agora exigem, e se nesse momento houver uma greve geral dos trabalhadores/as, também por aumento de salário? Quem reprime? Sabe-se que sem a repressão policial os patrões e seus governos não durariam uma semana.
Mas a contradição é ainda maior, e dentro das próprias forças. De um lado, os suboficiais, oriundos dos mesmos bairros das camadas populares, e do outro, os oficiais, das classes mais ricas ou com maiores oportunidades. E essa divisão interna é mais do que notável. A reivindicação de $ 60 mil pesos para um iniciante faz com que um oficial sênior supere os $ 140 mil, e um comissário $ 200 mil ou $ 438 mil um comissário geral. Mas, como em todos os casos, os que estão embaixo são a maioria.
Por isso, a única saída da força policial é romper a cadeia de comando e se unir aos setores operário e popular, os setores sociais dos quais eles vêm, para conseguir suas reivindicações. E é aí que entra o pânico todo o Governo, o Estado (Deputados, Senadores, Juízes, etc.). Quando a tropa rebelada vaia ou grita com seus superiores, ou como já chegou a acontecer, eles são expulsos do local.
Pela livre organização da força policial
Para além do debate salarial e das reivindicações que este protesto manifesta, que poderíamos até debater e questionar, o que defendemos é o direito das tropas de se levantarem, de ignorarem a cadeia de comando e de lutar pelas suas reivindicações quebrando a disciplina. . Por isso, estamos pelo direito de organização a partir de baixo, de ter delegados, de se organizar e se sindicalizar.
Por isso uma das saídas é a sindicalização, a qual todo o poder político burguês se opõe: eleger seus superiores pelo voto para poder revogá-los, recusar-se a ser escravos dos ricos, decidir em assembleia não reprimir ou obedecer a ordens degradantes ou que atendam aos interesses dos superiores e dos políticos de plantão. Só assim a polícia começa a unificar suas reivindicações com as dos trabalhadores, operários, professores, jovens. E, para isso, propomos que a polícia comum, as tropas, tenham plenos direitos civis, e claramente apoiamos essas reivindicações.
O suboficial deve se organizar e não pode compartilhar essa organização com aqueles que o obrigam a fazer a obedecer. A sindicalização das tropas deve partir da força de ser maioria. A instrução dada à polícia é uma doutrinação contra os pobres, eles ensinam a estigmatizar pelo modo de vestir, pelo lugar onde moram, etc. É uma formação racista, sexista, homofóbica e misógina (muitas mulheres policiais relataram abusos sofridos dentro da força e por seus próprios colegas ou superiores).
Uma mudança radical nessa formação começa com a quebra da cadeia de comando pela livre organização das tropas. A consciência de que as reivindicações trabalhistas dos/as operários/as devem ser apoiadas e acompanhadas. Nada a serviço do empregador.
As organizações de esquerda que se opõem ao protesto policial com raciocínio linear e pacifista, expressam que nada querem com os policiais de base, da mesma forma que se recusam a promover a ideia das milícias de autodefesa, do armamento operário, de impulsionar os sindicatos. É a cara do pacifismo e da ideia de que as Forças Armadas vão se autodestruir ou com decretos e leis votados no Congresso.
Para os setores populares e trabalhadores, a quebra dessa cadeia de comando é necessária e, quando ocorre, não pode ser ignorada. Para a tropa policial, também é necessário o apoio de todos os trabalhadores, forjar essa unidade é a única possibilidade de para anular em grande medida o objetivo repressivo que tem como instituição do Estado.
Acreditamos, inclusive, que só isso não basta: ao mesmo tempo em que o promovemos, temos que lutar para que o sindicato e as organizações sociais instruam a autodefesa, na organização de piquetes operários e milícias de autodefesa operárias e de bairros.
Os policiais que protestam, ao mesmo tempo em que levantam a necessidade de um salário mínimo, devem proclamar em assembleias a negação de toda repressão, opor-se à impunidade em casos de gatilho fácil (primeiro atira, depois pergunta ndt.) e expurgar elementos corruptos de suas fileiras.
As tropas das forças armadas, neste caso a polícia, só terão uma tarefa clara ao lado da classe operária, unindo forças na luta contra os saques patronais.
Nós do PSTU dizemos com total clareza que é por esse caminho que vamos recuperar o que é nosso, não temos dúvidas que a oficialidade será contra essas medidas, que os governos e seus aparatos fiscais, suas leis e outros se oporão e chamarão outros forças para levar a cabo a repressão. Mas, diante dessa situação que o mundo atravessa, só um país liderado por seus trabalhadores pode garantir terra, moradia, educação, saúde, alimentação e salários dignos para as pessoas que precisam.
Tradução: Lena Souza

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares