qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

O governo de Macri não dá mais

Há meses o dólar vem subindo, às vezes recua um pouco e depois continua sua ascensão. Dessa forma o peso é desvalorizado, os preços aumentam e os salários caem, o que, somado ao aumento das taxas de transporte e de serviços, que voltaram a subir nos últimos dias, tornam a situação insustentável para a maioria dos trabalhadores. As reservas do país continuam encolhendo, e o governo não sabe o que fazer com as crises cambiais e a bomba de um trilhão de pesos em Lebacs (Letras do Banco Central) que emitiu. Diante disso, Macri culpou a Turquia e anunciou novas medidas de ajuste.

O que está por trás de tudo é um espantoso mecanismo para continuar saqueando o país em benefício dos especuladores financeiros do G20 e do FMI.

Por: PSTU Argentina

A bicicleta financeira

É “uma enorme operação de câmbio de dólares e pesos” [1]. “com o qual investidores de todo o mundo ganharam milhões” [2].

“A bicicleta, então, anda assim: trazer dólares, trocá-los por pesos, investir em Lebacs, ganhar 2,2% em um mês, reconvertê-los em dólares à mesma taxa original e depois levar o dinheiro” [3].

Este negócio promovido pelo governo significa uma permanente especulação e fuga de capitais. Um impressionante mecanismo de pilhagem que nos está deixando em ruínas. Os capitalistas não investem em produção, porque é muito melhor especular com dólares e Lebacs com uma taxa de juros de 46%. Em grande parte, é isso que explica a recessão em que vivemos no país.

A dívida com o FMI

Para cobrir essa sangria de dólares que gera a especulação, o governo pediu um empréstimo ao FMI de 50 bilhões de dólares. Quatro vezes mais do que pediu De la Rúa (ex-presidente argentino) em 2000.

Em troca, o FMI pede uma série de medidas, como a Reforma Trabalhista e o ajuste do déficit fiscal, o que significa ajuste na saúde, educação e demissões no Estado.

Em julho, o pagamento de juros da dívida já superava 60% do total dos investimentos do país.

As últimas medidas anunciadas

O governo ordenou um novo ajuste do déficit fiscal. Parte disso recai sobre um setor da burguesia ligado à produção e exportação de derivados de soja, ao qual o presidente havia prometido eliminar gradualmente as retenções. Em relação a isso nós acreditamos que, ao contrário do que faz Macri, deveria aumentar as retenções e cobrar impostos sobre as grandes fortunas. A única maneira de enfrentar os negócios do governo e seus amigos da Sociedade Rural e das grandes multinacionais é estatizar o campo e os recursos naturais sob o controle dos trabalhadores.

Também anunciou a redução de 66% das restituições para exportações de bens e serviços. A UIA (União Industrial Argentina) protestou porque não quer perder um peso. Sem dúvida, utilizarão isso como argumento para despedir, reduzir salários e aumentar a exploração. Até que a indústria não esteja nas mãos dos trabalhadores, seguiremos sendo vítimas desses empresários que, junto com o governo, nos estão mergulhando na miséria.

Eliminação do Fundo da Soja

30% da arrecadação da exportação de soja e derivados eram destinados às províncias e agora será utilizado para pagar a dívida com o FMI e os “abutres” do G20.

Em Buenos Aires, por exemplo, significará uma saída de mais de 7 bilhões de pesos. Em Santa Fé e Córdoba, mais de 3 bilhões. Em Chubut e Santa Cruz mais de 500 milhões.

Esses fundos estavam supostamente destinados à execução de obras sanitárias, educacionais, hospitalares, habitacionais e rodoviárias, etc.

Portanto, o corte cairá sobre nossa saúde, nossa educação e nossos empregos. Por isso temos que enfrentar a Reforma Fiscal promovida pelo Governo Nacional em conjunto com os governadores, deputados e senadores cúmplices do ajuste.

Temos que tirar todos os governadores e prefeitos que hoje nos atacam e nos matam de fome, que como Vidal (governadora de Buenos Aires), nos matam com sua apatia para resolver nossos problemas.

Assembleias, Plano de Luta e Greve Nacional

Depois da paralização de 25 de junho, a CGT colocou um freio nas lutas, garantindo que Macri continue no governo. Moyano (sindicalista) e o kirchnerismo através da Multissetorial 21F (organização liderada por Moyano) convocaram um congresso nacional, no estádio de Atlanta, para apresentar uma lista de reivindicações.

No entanto não chamaram assembleias em todos os locais de trabalho para discutir o que faremos. Fizeram uma convocação pelas cúpulas, onde os trabalhadores não tiveram nenhum tipo de decisão sobre nada.

Em seu discurso em 21 de fevereiro, onde foi lançada a Multissetorial 21F, Moyano finalizou chamando a votarmos bem no próximo ano. A partir daí, durante todo o ano, não fizeram nada além de tomar medidas isoladas, sem continuidade. Nós acreditamos que a Multissetorial 21F busca levar o descontentamento às eleições do ano que vem, atrás do projeto eleitoral do Kirchnerismo. Também não compartilhamos esse programa, porque não se propõe a romper com o capitalismo, pelo contrário, procura salvá-lo.

Mas, apesar disso, acreditamos que hoje precisamos da maior unidade nas ruas para lutar contra Macri e tirar o G20 e o FMI da Argentina. O 21F da CTA (Central de Trabalhadores da Argentina), a Corrente Federal, SUTEBA (Sindicato Unificado de Trabalhadores da Educação de Buenos Aires), ATE Capital (Associação de Trabalhadores do Estado da Capital Federal – Buenos Aires), os delegados do Metrô e todas as organizações sindicais e políticas que o compõem, deveriam convocar assembleias em todos os locais de trabalho para discutir e decidir o que faremos ante os ataques do governo nacional e dos governos provinciais e municipais. O mesmo devem fazer os partidos de esquerda em cada local de trabalho e, sobretudo, onde dirigem, como na SUTNA (Sindicato Único de Trabalhadores do Pneu Argentino) e na Ferrovia Sarmiento. Hoje temos que avançar todos juntos para a Greve Nacional e para o Plano de Lutas.

Precisamos de um Congresso Nacional de Trabalhadores, porém organizado a partir de cada local de trabalho, onde possamos discutir se esperamos até 2019 ou derrubamos Macri nas ruas agora, e possamos discutir o programa que precisamos e quem serão os melhores dirigentes para leva-lo adiante.

Fora Macri, por um Governo dos Trabalhadores e do Povo

O capitalismo fracassou. A Argentina é cada vez mais uma colônia. Oito milhões de crianças estão afundadas na pobreza. Um quarto da população é pobre. Cristina Kirchner deixou 80% das 500 maiores empresas do país nas mãos de multinacionais. Macri avança ainda mais destruindo setores inteiros da indústria, jogando o país na orgia financeira. Nós dizemos que é preciso derrubar o presidente Macri assim como derrubamos De la Rúa em 2001. O Kirchnerismo nos responde que não querem um novo 2001, porque houve 35 mortos e o país se afundou. Respondemos que em 2001 o país havia se afundado e os trabalhadores foram às ruas para expulsar o governo que o afundou. O governo de Macri já está matando de fome, está matando professores eletrocutados e por explosões, por causa do descaso com a educação pública.

Matou Santiago Maldonado e Rafael Nahuel para cuidar das terras de Benetton e Cia.

E vai continuar matando, porque nos declarou guerra junto com o FMI e o G20.

As direções kirchneristas e, infelizmente, os principais partidos de esquerda querem que esperemos até as próximas eleições. Enquanto isso fazem um teatro no Congresso, chamam mobilizações para dizer que fazem alguma coisa, mas sem nenhuma continuidade, sem assembleias para discutir e organizar. Manobrando para garantir a governabilidade, assim como o kirchnerismo em 8 de agosto, levando as pessoas à Av. 09 de julho para evitar perturbações no Congresso, ou mobilizando ao Ministério da Defesa em vez de ir à Casa Rosada contra Macri e seu decreto das forças armadas.

Hoje a Argentina e o mundo estão divididos entre os que queremos acabar com o capitalismo e os que de uma forma ou de outra o defendem. Nós queremos derrubar o Macri, não para que volte a Cristina ou outro empresário ao poder, e sim para que, de uma vez por todas, possam governar os trabalhadores e o povo, deixando de pagar a dívida externa, expropriando as fábricas, os recursos naturais, o sistema financeiro, o comércio exterior, e planejando a economia a serviço dos trabalhadores e do povo, e não dos lucros dos empresários.

[1]https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-40412729

[2] Idem.

[3] Idem.

Tradução: Tae Amaru

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