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sexta-feira, abril 19, 2024

Argentina | Para preservar nossa saúde não precisamos de medidas repressivas, mas de medidas profundas

Diante de um crescimento dos casos da pandemia, finalmente chegou o anúncio que era esperado há dias e o governo se negava a chamá-lo (motivo pelo qual adotaram-se, por uma semana inteira, medidas contraproducentes, como a mudança da frequência dos trens): o isolamento obrigatório para todos que não têm trabalhos essenciais que, além disso, será supervisionado pelas forças de “segurança” com a possibilidade de repreensão àqueles que não cumprirem.

Por PSTU-Argentina
Ainda não se sabe quais serão as medidas que serão tomadas para garantir esse isolamento aos milhões de trabalhadores autônomos, que se não trabalham não comem. Também não se falou sobre as medidas com as empresas para impedir uma única demissão ou qualquer tipo de redução salarial (mesmo que seja retirada de benefícios), nem sobre as sanções que empresas não essenciais receberão por não cumprirem a quarentena ou impor qualquer prejuízo aos trabalhadores devido à situação.
Apesar dos discursos, o governo de Alberto demonstra uma vez mais a serviço de quem governa. Os trabalhadores e trabalhadoras, para preservar nossas vidas e as de nossas famílias, precisamos de medidas profundas.
A primeira coisa que deveria ter sido anunciada é a realização do teste de coronavírus para TODAS e TOODOS para também detectar casos assintomáticos. Para isso é necessário decretar a imediata importação dos testes necessários.
Para garantir a quarentena necessária para que o vírus não continue se espalhando, precisamos de medidas que possibilitem: garantia absoluta para os trabalhadores precarizados, bônus para todos os trabalhadores informais, alimentos e itens de desinfecção e prevenção gratuitos, distribuídos nos bairros. É necessário garantir o direito básico de acesso à água potável para todos e todas.
Na realidade, existem muitas indústrias não essenciais que o governo continua permitindo trabalhar (e produzir lucros): as empresas de mineração são indústria essencial no meio dessa emergência? E os gráficos? E os que produzem snacks ou guloseimas? O governo abre um leque de exceções que permite que centenas de empresas continuem produzindo produtos não essenciais sem qualquer repreensão.
Também são necessárias medidas para garantir a prevenção dos trabalhadores e trabalhadoras realmente essenciais: transporte garantido pelas empresas, redução da jornada de trabalho, reincorporação ou incorporação de trabalhadores para garantir a produção.
Se estamos em uma situação de emergência, como de fato estamos, toda atividade econômica deve ser planejada e dirigida pelo Estado: as clínicas privadas e a indústria farmacêutica devem ser expropriadas pelo menos enquanto durar a emergência, todas as moradias ociosas e hotéis devem ser usados para abrigar os sem-teto ou as famílias que vivem em locais cruelmente superlotados.
Mas a única coisa que o governo de Alberto faz é obrigar, através das forças de segurança, o isolamento dos trabalhadores e do povo que não precisa ir trabalhar, e não obriga as empresas a reestruturar sua produção em função da emergência.
Os militares nas ruas não têm nada a ver com a nossa saúde. O cumprimento da quarentena deve ser organizado e garantido pelos moradores dos bairros, assim como a distribuição de alimentos e produtos de higiene que o Estado deveria fornecer gratuitamente. E os sindicatos deveriam exigir com urgência, e, se não nos fornecerem, temos que exigir aos supermercados e laboratórios nós mesmos.
Não confiamos nas forças que perseguem as crianças em nossos bairros e muitas vezes as matam com pelo gatillo fácil[1].
A atitude dos dirigentes sindicais tanto da CGT como da CTA é realmente lamentável. Em vez de liderar a defesa dos interesses e da vida dos trabalhadores e trabalhadoras, eles lideram para fazer com que as pessoas trabalhem: nem uma reivindicação para defender trabalhadores, nem uma proposta para colocar os sindicatos aos serviços das necessidades da população diante dessa emergência.
Não há como responder a essa emergência sem tocar completamente nos pilares da economia, e isso significa deixar de planejá-la em função dos lucros das empresas. O orçamento para a saúde e obras públicas deve ser aumentado em função das necessidades atuais, e isso só é possível pelo não pagamento da dívida externa. Se deixassem de pagar os 29 bilhões de dólares que vencem este ano haveria recursos para tomar as medidas urgentes aqui propostas.
[1] expressão usada em espanhol para indicar um uso abusivo pelas forças de segurança de armas de fogo, geralmente apresentado pela polícia como uma ação acidental ou de autodefesa.
Tradução: Tae Amaru

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