qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Declaração sobre a crise política e econômica da Venezuela

Declaração de La Voz de los Trabajadores – EUA

Nós nos opomos à tentativa de golpe de Estado de Guaidó e a qualquer forma de intervenção dos EUA na Venezuela, em solidariedade aos trabalhadores venezuelanos que se organizam por sua sobrevivência e pela democracia contra o regime de Maduro.

1) Opomo-nos a qualquer forma de intervenção dos EUA ou de outro país na Venezuela e não reconhecemos Guaidó como presidente.

Em setembro de 2018, a imprensa americana revelou que o governo Trump conspirou com membros das forças armadas venezuelanas para derrubar o governo Maduro, dando continuidade a uma longa tradição de Republicanos e Democratas de intervenção imperialista na América Latina para promover os interesses geopolíticos e econômicos dos EUA (isto é, do capital).

Quatro meses depois, em 11 de janeiro, o recém-eleito líder de direita da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, anunciou que estava preparando um “plano” para assumir as “responsabilidades” presidenciais do país contra a “usurpação” da presidência por Nicolas Maduro, 24 horas depois que este último foi empossado para um segundo mandato. O verdadeiro usurpador aqui é Guaidó, que não foi eleito por nenhum venezuelano, e foi escolhido a dedo e apoiado pelo governo dos EUA.

Isto é evidente pela velocidade da luz com a qual Trump reconheceu Guaidó, bem como pelo seguinte tweet, publicado pelo vice-presidente Pence em 16 de janeiro (mais de uma semana antes da autoproclamação de Guaidó): “Ontem eu falei com Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, e disse-lhe que os EUA continuarão a apoiar fortemente o povo venezuelano até que a democracia e a liberdade sejam restauradas”.

Não foi uma coincidência, mas um plano pré-determinado e combinado, que Guaidó desafiaria Maduro e se proclamaria presidente durante o Fórum Econômico Mundial, para que 13 líderes mundiais, liderados pelos EUA, Canadá e Brasil, apoiassem imediatamente essa ação. Vários líderes mundiais já reconheceram que sabiam com antecedência da tentativa de golpe apoiado pelos EUA. De fato, a declaração emitida pela Alta Representante da União Europeia para Assuntos Exteriores e Política de Segurança da União Europeia, Federica Mogherini, havia sido escrita com várias semanas de antecedência.

Nem Trump, nem o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, nem qualquer outro chefe de Estado tem autoridade moral ou política para declarar quem é e quem não é o líder legítimo de uma nação soberana – muito menos o governo dos Estados Unidos, que atualmente apoia regimes brutais como a Arábia Saudita, Israel e Egito, e apoiou quase todas as ditaduras latino-americanas nos últimos 100 anos. Assim, não reconhecemos Guaidó como o novo presidente da Venezuela, opomos categoricamente qualquer tipo de intervenção militar, e exigimos o fim imediato de todas as ações da CIA no país e das sanções econômicas que estão prejudicando ainda mais o bem-estar material dos trabalhadores venezuelanos. O destino da Venezuela deve ser decidido pelo povo venezuelano!

2) O governo de Maduro não é nem socialista nem democrático

Infelizmente, o governo de Maduro tem se tornado cada vez mais ditatorial. O cancelamento do poder legislativo, o crescente controle dos tribunais pelo poder executivo, a manipulação das eleições e a ampla perseguição de líderes da oposição de direita e de esquerda são apenas os sinais mais óbvios de que o estado venezuelano não está mais funcionando como uma democracia liberal burguesa, mas como um regime bonapartista.

Além disso, o país está passando por sua crise econômica mais severa na história recente, como resultado da queda acentuada dos preços do petróleo em 2014, das sanções impostas pelos EUA e do fato de que a Venezuela continua fortemente dependente das exportações de petróleo e não foi capaz de estabelecer a base da verdadeira independência econômica. A crise, como sempre, está sendo jogada nas costas dos trabalhadores venezuelanos, que sofrem com a fome, a escassez generalizada e a hiperinflação, enquanto há uma corrupção generalizada no governo e o estado continua a fazer pagamentos astronômicos da dívida externa. Segundo o FMI, a inflação em 2018 subiu para 1.300 % e atingirá 10.000 % em 2019. Assim, apesar dos vários aumentos do salário mínimo decretados pelo governo Maduro, cada vez menos pessoas conseguem comprar o mínimo básico de alimentos para evitar a fome. Enquanto o governo Maduro afirma que apenas 4,4 % da população vive na pobreza, estudos independentes dizem que a taxa de pobreza está acima de 48 %.

Nós sempre culparemos, em primeiro lugar e acima de tudo, o sistema econômico imperialista pela subjugação de economias semicoloniais como a da Venezuela, e lutamos contra a superexploração dos trabalhadores venezuelanos e a pilhagem contínua dos recursos naturais de seus países. Os EUA fizeram de tudo para estrangular a economia nacional venezuelana, mas fazem negócios secretamente com ela: importam entre 13.000 e 23.000 barris de petróleo todos os meses e, em 2018, importou 11 bilhões de dólares em produtos venezuelanos.

Mas não podemos esquecer que, apesar de sua retórica anti-imperialista, o governo Chávez nunca nacionalizou completamente as companhias petrolíferas estrangeiras, nem tampouco cortou laços comerciais com os EUA. Estabeleceu uma parceria público-privada em que a PDVSA, a companhia estatal de petróleo, detém 60% dos ativos, deixando 40% para corporações multinacionais como Chevron (EUA), Eni (Itália), BP (Reino Unido) e Total (França). Tendo deixado o FMI em 2007, a Venezuela foi forçada a procurar outros credores quando a crise de 2014 chegou. Em seguida, voltou-se para outros regimes nacionalistas burgueses em ascensão, como a China de Jinping e a Rússia de Putin.

O governo venezuelano fez uma escolha política pró-capitalista para pagar a dívida externa crescente da Venezuela (US$ 23 bilhões devidos à China e US$ 8 bilhões à Rússia), em vez da compra de alimentos e remédios para seu povo. Em novembro do ano passado, Maduro afirmou claramente: “nossa estratégia é renegociar e refinanciar toda a dívida”. Isso ocorre porque Maduro não é o líder de uma economia socialista planejada e democraticamente controlada pelos trabalhadores venezuelanos; ele é o representante de uma burguesia bolivariana e de uma burocracia estatal corruptas que se torna mais repressiva e autoritária ao se agarrar desesperadamente ao poder.

Então sim, é possível opor-se simultaneamente à intervenção imperialista na Venezuela; à oposição neoliberal de direita apoiada pelos EUA; ao governo de Maduro; e às tentativas da China e da Rússia de controlar o destino da Venezuela. De fato, essa é a única postura de princípio dos socialistas, e a única alternativa para os trabalhadores do país.

3) A classe trabalhadora e o movimento popular devem derrubar Maduro, não Guaidó e seus apoiadores dos EUA

A questão não é se, mas quando e como o regime de Maduro cairá. Por mais desesperadora que seja a situação, a oposição de direita da Venezuela – a oligarquia tradicional que governou o país como uma república de bananas (ou de petróleo) por 200 anos – só pode oferecer mais exploração e sofrimento ao povo venezuelano. Se eles retornarem ao poder através de um golpe militar apoiado pelos EUA, eles certamente irão aprofundar os ataques que Macri e Bolsonaro estão impondo na Argentina e no Brasil.

Mas há também uma oposição da esquerda ao regime de Maduro, embora relativamente pequena, que se organiza para canalizar as mobilizações para um programa que exige a revogação das medidas de austeridade, o fim do pagamento da dívida externa e o uso desses recursos para importar bens básicos e reativar a produção, bem como a nacionalização da indústria do petróleo, sem sócios transnacionais e privados.

Antes da proclamação de Guaidó, a Venezuela passou por vários meses de crescente mobilização, que viu a formação da aliança Intersetorial dos Trabalhadores Venezuelanos (IVT, Intersectorial de Trabajadores de Venezuela). A IVT reúne vários sindicatos no país baseados no poder dos trabalhadores e uma clara independência dos setores burgueses. A tarefa da esquerda dos EUA é apoiar esses camaradas. A possibilidade de livrar o povo venezuelano de seu sofrimento dependerá do caráter político e programático do movimento que derrubará Maduro.

Tirem as mãos da Venezuela!

Pelo fim de toda intervenção dos EUA e das sanções econômicas contra a Venezuela!

Guaidó não é o presidente da Venezuela!

Todo o apoio aos movimentos independentes de trabalhadores e do povo contra Maduro!

30 de janeiro de 2019

Tradução: Marcos Margarido

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