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40 anos do festival de Woodstock

Woodstock: a libertária e alucinada celebração de uma era

 

Foi num 15 de agosto há 40 anos, que teve início um dos mais míticos shows da história da música: o Festival de Woodstock. Aliás, o que ocorreu na área rural de Bethel, nos arredores de Nova York, foi muito mais que um show. Foi a celebração de uma época, a trilha sonora de anos marcados pelo inconformismo, pela rebelião e pela busca, muitas vezes literalmente alucinada, por uma nova forma de ver e viver o mundo.

 

Não é por acaso que os músicos que se revezaram no palco montado na fazenda de Max Yasgur durante aqueles dias (bem como algumas das gravações originais feitas durante as apresentações) sejam, até hoje, idolatrados. Em termos musicais, Woodstock reuniu o suprasumo de toda uma geração: da canção de protesto de Joan Baez ao rock bluseiro de Janis Joplin; da guitarra endiabrada de Jimi Hendrix à cítara oriental de Ravi Shankar; do psicodelismo do Jefferson Airplane à ópera rock do The Who. Woodstock foi como um palco em que ecoaram os principais elementos de um momento único da História.

 

As pichações de “É proibido proibir”, do Maio de 1968, tomaram forma na derrubada das cercas instaladas no local, o que permitiu que cerca de 500 mil pessoas assistissem a um evento que vendeu menos de 200 mil ingressos. As muitas cores, versos e sons da contracultura alimentaram e impregnaram corações, mentes e corpos de uma juventude disposta a realizar uma espécie de ritual coletivo em comemoração à criatividade e ao desejo de renovação.

 

A explosão tanto do movimento feminista quanto de gays, lésbicas, travestis e transgêneros (GLBT) – que haviam protagonizado, três semanas antes, a Rebelião de Stonewall – embalaram as cenas de amor livre que deliciaram (e, hipocritamente, escandalizaram) a mídia da época. Os punhos cerrados dos Panteras Negras e demais movimentos antirracistas ergueram-se tanto ali quanto no Black Woodstock, também realizado naquele período. O pacificismo militante contra a Guerra do Vietnã repercutiu no baixo número de incidentes, apesar das caóticas condições em que o festival aconteceu.

 

Passadas quatro décadas, é difícil pensar num novo Woodstock. Isso tem sido, lamentavelmente, exemplificado pelas fracassadas tentativas comercias de reedição do festival. Esta impossibilidade é um sinal dos tempos neoliberais. Contudo, o fato de que, até hoje, o festival continue a ser lembrado, cantado e cultuado, também é um sinal de que os sonhos que alimentaram aquela geração ainda estão vivos entre nós. No momento certo, poderemos ter uma nova “Era de Aquário”.

 

Uma era que não tem nada a ver com a conjunção de astros, como muitos ainda pensam, mas com a combinação de disposição de luta, questionamento da ordem, rebelião cultural e comportamental e luta pela liberdade. Uma era alimentada pelo espírito revolucionário, o único terreno fértil para fazer brotar novos Woodstocks.

 

Woodstock em contexto

 

O caminho para Woodstock foi sedimentado por eventos e tribos que surgiram na situação aberta depois da Segunda Guerra Mundial. A derrota do nazismo, o deslocamento de milhões de pessoas, a rejeição à ordem que levou o mundo ao conflito (apenas para citar alguns elementos) fizeram com que os anos 1950, em termos sócioculturais, fossem marcados pelo embate de projetos.

 

De um lado, estavam os conservadores, tentando desesperadamente resgatar a ordem perdida. Do outro, uma infinidade de questionamentos tomavam forma ora em rebeliões e revoluções que sacudiam o mundo, ora no surgimento crescente de novas formas de ver, interpretar e representar o mundo.

 

No campo cultural, o rock n’roll, a poesia beatnik de gente como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs e o movimento hippie (ou Flower Power) foram algumas das formas tomadas por esta rebelião. Já no início dos anos 1960, todas estas tribos e tendências se cruzavam pelas rotas da contracultura.

 

Um exemplo pitoresco aconteceu no início da década. O alucinado praticamente marginal e beatnik Neal Cassidy, no qual foi inspirado o personagem Dean Moriarty, protagonista de On the road (Jack Kerouac), servia como motorista de um ônibus que excursionava pelo país, conduzindo bandas como o Jefferson Airplane, e ficou famoso por transportar quantidades industriais de ácido lisérgico (LSD), que eram gratuitamente distribuídas pelas cidades pelas quais a turnê passava.

 

No cenário político, além dos movimentos já citados, a Revolução Cubana, a luta pela independência na África e, já no final da década de 1960, a intensificação das mobilizações contra a Guerra do Vietnã (e, particularmente nos Estados Unidos, ao governo de Richard Nixon) serviam de combustível para uma permanente e crescente a insatisfação.

 

Um sentimento que, no verão de 1969, havia sido potencializado por uma série de eventos bastante recentes, como o assassinato de Martin Luther King, que ainda provocava furiosos protestos por toda parte, o verdadeiro campo de batalha em que havia se transformado a Convenção Nacional dos Democratas e a radicalização crescente dos movimentos sociais em geral.

 

Inevitavelmente, as duas pontas destes processos se influenciavam mutuamente. Assim, formas de protestos utilizadas pelos movimentos sociais ganhavam novas formas nos palcos da cultura. Foi assim que a prática do sit-in (“sentar e ocupar”), um tipo de manifestação que consistia em invadir locais (de prédios públicos a bases militares) e permanecer sentado até a retirada pela polícia, transformou-se nos human be-in (“ocupações humanas”): a invasão de locais públicos, preferencialmente parques, que eram transformados em palco para exibição gratuita e espontânea de shows e todo tipo de atividade artística.

 

Um dos locais mais conhecidos para esta prática foi o Central Park de Nova York, como foi mostrado por uma das peças mais famosas da época, o musical Hair, transformado num filme genial por Milos Forman, em 1979. Do outro lado dos EUA, em San Francisco, a “Meca” do movimento contracultural, gigantescos human be-in tomavam as ruas como Haigh-Ashbury, o centro nervoso do movimento hippie, e o parque da famosa ponte Golden Gate, promovendo agitados encontros entre figuraças como o poeta beatnik homossexual Allen Ginsberg (autor de poemas como “Uivo” e “Kaddish”) e o militante antiguerra Jerry Rubin, embalados por bandas como o Grateful Dead.

 

Entre o final dos anos 1950 e os anos 60, a simpatia e o ativismo de várias bandas musicais engrossaram este caldo, através de uma infinidade de festivais, dentro e fora dos EUA, como o Monterey Pop Festival (San Francisco, 1967) e o Festival da Ilha Wight, (Inglaterra, 1969).

 

Os músicos que se apresentaram em Woodstock

 

Abaixo, veja a lista dos músicos e grupos que se apresentaram no festival.

 

Arlo Guthrie, Bert Sommer, Blood, Sweat and Tears, Canned Heat, Country Joe McDonald and The Fish, Creedence Clearwater Revival, Crosby, Stills and Nash (acompanhados de Neil Young), Janis Joplin, Jimi Hendrix (e The Gypsy Sun and Rainbows), Joan Baez, Joe Cocker, John Sebastian, Johnny Winter. Melanie, Mountain, Quill, Ravi Shankar, Richie Havens, Santana, Sha Na Na, Sly and the Family Stone, Sweetwater, Ten Years After, The Band, The Grateful Dead, The Incredible String Band, The Jefferson Airplane, The Keef Hartley Band, The Paul Butterfield Blues Band, The Who e Tim Hardin.

 

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Artigo publicado no site do PSTU em 20/08/2009

 

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