sáb abr 20, 2024
sábado, abril 20, 2024

Um fato simbólico: o Primeiro de Maio nos EUA

Como vimos, o 1º de Maio, como dia de luta operária, nasceu nos Estados Unidos, em 1886, com a manifestação pela jornada de oito horas convocada pela organização sindical Cavaleiros do Trabalho, de Chicago. Vários de seus dirigentes foram depois presos, julgados e executados, e entraram para a História como os Mártires de Chicago.

Desde então, a burguesia dos Estados Unidos tentou por todos os meios apagar esses fatos da memória dos trabalhadores desse país e, assim, separá-los de seus irmãos do restante do mundo. Na Haymarket Square (Praça do Mercado de Feno) de Chicago não resta nenhum indício da manifestação ou dos enfrentamentos entre operários e policiais. Um monumento em homenagem aos Mártires de Chicago, colocado pouco depois de sua execução, foi retirado pelas autoridades. Em contraposição, um busto de um policial morto foi destruído anonimamente.

O 1º de Maio, dia de luta operária, se transformou em um misterioso May Day (Dia de Maio) e, ao mesmo tempo, decretou-se que o Labour Day (Dia do Trabalho), seria comemorado em cada primeira segunda-feira de setembro, uma data sem nenhuma significação histórica.

 

O ano passado

 

Mas nem sequer a burguesia mais poderosa do mundo pode ocultar para sempre a verdade histórica ou evitar a luta de classes. Cada vez mais o 1º de Maio volta a ser um dia de luta operária nos EUA, através das ação dos trabalhadores imigrantes, especialmente latino-americanos, que trazem essa tradição de seus países.

Depois das massivas manifestações realizadas nos dias 9 e 10 de abril de 2006, em defesa de seu direito de viver e trabalhar legalmente nos EUA, as organizações convocaram, para o 1º de Maio passado, uma jornada de luta com a consigna “Um dia sem imigrantes”. Tratava-se, de fato, de uma greve geral dos trabalhadores de origem estrangeira para mostrar sua importância na economia do país. Não era uma medida fácil de conseguir, pois, nos EUA, é um dia de trabalho normal. Era necessário desafiar o risco de demissão, a perda do green card[1] ou, para os imigrantes ilegais, a deportação imediata; além das ameaças de grupos fascistas a várias organizações e dirigentes.

Mas a jornada foi um grande êxito. Centenas de milhares deixaram seus empregos e voltaram a marchar pelas ruas das grandes cidades do país, como Nova York, Los Angeles ou Chicago, e também pelas cidades médias e pequenas. Mesmo em Anchorage (Alaska), algumas dezenas de manifestantes desafiaram nas ruas o gélido clima da cidade.

Em muitos casos, marcharam com seus uniformes ou roupas de trabalho, com pequenos cartazes que diziam: “Não somos criminosos, somos trabalhadores”, ou agrupados atrás das bandeiras de suas organizações, como a Rede Nacional de Jornaleros[2] (trabalhadores agrícolas mexicanos) e sua consigna: “Não queremos ser escravos de ninguém”. Dessa forma, apesar do esforço de mais de um século da burguesia norte-americana, o 1º de Maio voltava a ser um dia de luta dos trabalhadores.

 

Sua importância

 

A dimensão da paralisação e das manifestações do ano passado não é um fato de menor importância. Atualmente, cerca de 25% da classe trabalhadora dos EUA compõe-se de imigrantes, especialmente latino-americanos. Basta percorrer qualquer cidade dos Estados Unidos para comprovar este fato, no comércio, hotéis, restaurantes, na construção civil ou na manutenção das ruas.

O fato de que milhares de trabalhadores voltem a marchar no 1º de Maio pelas ruas dos EUA tem, sem dúvida, um grande valor simbólico. É também um fato de grande importância para todos os povos do mundo: são os setores mais explorados e marginalizados da classe operária norte-americana aqueles que saem ao combate e começam a sacudir essa sociedade desde suas bases. O futuro dirá se, com esses fatos, não estamos assistindo a construção da ponte que unirá os processos revolucionários latino-americanos e o início da revolução socialista nos EUA.



[1] Permissão para que um estrangeiro possa viver e trabalhar nos EUA.

[2] Trabalhadores que recebem por jornada, normalmente um dia de trabalho.

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