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sexta-feira, março 29, 2024

Sudaneses em luta contra regime militar enfrentam desaparecimentos, estupros e assassinatos

Perto de completar dois meses de mobilizações, o povo sudanês segue em luta por liberdade e poder popular. Isolados, os sudaneses têm enfrentado violência extrema por parte de milícias e precária possibilidade de comunicação.

Por CSP-Conlutas

Desde o dia 11 de Abril, com a queda do regime de Omar al-Bashir, o Conselho Militar se mantém no governo contra a vontade da população e dos movimentos organizados, que exigem transição política democrática sob orientação dos civis.

Com o fim da ditadura de Bashir, os militares têm se mostrado fechados ao diálogo com a oposição que lidera as mobilizações no país. Pior que isso, têm atacado de maneira criminosa a população, em grave violação de direitos humanos acobertada pelo regime militar com o controle dos meios de comunicação e o corte no sistema de internet local.

Desde 3 de junho o serviço de internet no país foi interrompido por determinação das autoridades do governo militar de transição.

O professor sudanês Abdulaziz Mukhtar, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, confirma a tensa situação no país e a dificuldade em divulgar o que ocorre ao restante do mundo. Segundo ele, “o regime militar suspendeu o acesso à internet, e utiliza os canais de televisão e rádio estatais para disseminar o que interessa às autoridades e para espalhar fake news”.

Ele conta também que “há muitas manifestações acontecendo, ocupações, protestos massivos, vigílias noturnas em frente ao Quartel General que são duramente reprimidas”, e que de fato há informações de que ocorrem estupros, assassinatos, desaparecimento de pessoas além da repressão cotidiana contra qualquer manifestação contrária ao regime militar. Ele relata que, “apesar de não haver dados mais exatos, parece haver cerca de 500 pessoas desaparecidas, outras centenas de feridas em protestos, além dos estupros” que ocorrem em incursões criminosas de grupos de milícias. Segundo organizações locais, 12 casos de abuso sexual foram registrados, mas o número pode estar subnotificado. Além disso, há informações de que cerca de 130 pessoas tenham sido mortas, e que “corpos estão sendo retirados do Rio Nilo”.

Abdulaziz já foi um preso político no Sudão e sua família sofreu com a perseguição na época em Darfur. O ativista que hoje leciona na Cidade do Cabo iniciou sua militância no Sudão atuando no movimento estudantil, e traz em seu repertório a experiência de muitos conflitos de seu país de origem. Ele resgata a guerra civil e a independência em 1956, o regime do general Ibrahim Abud e a derrubada via revolução popular em 1964 e do General Jaafar Nimeiry em 1985, para enfatizar com isso que a instabilidade política sempre se mostrou presente na história do Sudão e de seus regimes totalitários.

Esses regimes, ele salienta, Esses regimes permitiram que o Sudão do Sul fosse separado e que outras regiões como Darfur, Nilo Azul e Nuba Mountain se tornassem locais de grave crise humanitária, com saldo trágico de mais de 300 mil pessoas mortas e milhões de deslocados.

“Não temos garantias de que a justiça será feita com o julgamento e a condenação de Bashir, seja pela Corte Internacional ou por meios internos. Há muitos cenários possíveis e abertos, mas o povo, as vítimas desse enredo ainda têm pelo que lutar e ainda têm demandas. Ainda precisamos de mudanças”, ressalta.

Apoio internacional – O ativista e acadêmico frisou “a importância do apoio internacional para que o mundo saiba o que está acontecendo no Sudão”, e que o povo sudanês precisa de “ajuda contra a milícia terrorista que tomou o poder”.

A CSP-Conlutas reforça esse chamado pela luta internacionalista contra os regimes autoritários e repressores. A Central também enviou moção de apoio à luta do povo sudanês contra a intransigência do governo militar e se junta a outras diversas organizações do mundo que se solidarizam com a causa de importância geopolítica e social enormes para a região.

A Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, organização que reúne entidades sindicais e de movimentos sociais do mundo todo, e da qual a CSP-Conlutas faz parte, também publicou e enviou mensagem de apoio aos sudaneses em luta.

Solidariedade aos camaradas no Sudão em luta por liberdade e pelo fim do regime militar!

 

 

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