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sexta-feira, março 29, 2024

Revolução em Burkina Faso. Fora os militares do poder!


A queda de Blaise Campaoré: uma grande vitória das massas

 

Diante do anúncio do presidente Blaise Campaoré de modificar a Constituição para poder se candidatar às eleições do próximo ano, as massas burquinesas saíram indignadas às ruas.



Desde 28 de outubro, dezenas de milhares de pessoas se manifestaram, levantaram barricadas e assaltaram o parlamento. A revolução ocorreu na capital Uagadugú, bem como nas principais cidades do país. Depois de uma tentativa por manter o poder, reprimindo os manifestantes e decretando o Estado de Sítio, Blaise Campaoré teve de renunciar.

 

Vazio de poder e o papel do exército

 

O chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Honoré Traoré, anunciou que assumiria o poder, dissolveria o parlamento e iniciaria uma transição democrática dentro de um ano. As massas não aceitaram e permanecem mobilizadas, pois veem no general Traoré a continuidade do regime.



Algumas horas mais tarde, o Tenente Coronel Zida proclamava-se também presidente. Fazia-o tentando diferenciar-se do presidente anterior (Zida era o número dois da guarda pessoal do ex- presidente), proclamando ser parte do povo e dos mártires que se levantaram contra seu chefe.



O exército parece que finalmente respaldou este último; no entanto a oposição civil chamou a se manifestar contra o poder do Exército e novamente dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas exigindo que se afaste Zida, também.



O governo de Campaoré a serviço da França e do imperialismo e da pobreza no país



 Blaise Campaoré permaneceu no poder por 27 anos depois de dar um golpe de Estado contra aquele que tinha sido seu amigo, Thomas Sankara, conhecido como Che Guevara africano, que foi assassinado.



Nos últimos anos, os indicadores econômicos mostram um crescimento de 9% ao ano (6,5% em 2013). Este crescimento é fruto do desenvolvimento da mineração do ouro, que já representa 20% do PIB, e do cultivo do algodão. No entanto, este crescimento não chega à população: Burkina Faso tem 17,5 milhões de habitantes e é um dos países mais pobres do mundo (181 entre 187). Três milhões de burquineses são emigrantes na vizinha Costa de Marfim. A alfabetização não chega a 30%. Esta situação tem relação direta com a política do deposto presidente Blaise Campaoré.



Blaise Campaoré tomou o poder em 1987 com o apoio da França, e reverteu todas as medidas do governo de Sankara. Interrompeu a estatização das terras que voltaram para as mãos dos latifundiários. Converteu-se em fiel discípulo das políticas do FMI e dos empréstimos do Banco Mundial. Abriu, novamente, o país às tropas francesas que, desde então, têm, em Burkina Faso, uma base privilegiada para o controle da região.Assim como para osEUA que, criando o AFRICOM (comando África norte-americano), se instalou em Burkina Faso. A presença militar francesa e norte-americana com seus sócios europeus, neste país como nos vizinhos (Senegal), serviu para a invasão de Mali e para reforçar o controle sobre os recursos naturais destes países.



Blaise Campaoré entregou a exploração mineira a empresas canadenses, australianas, sul-africanas, norte-americanas e russas. A extração de ouro coloca Burkina Faso como o quinto exportador africano deste precioso mineral. Contudo, as 32 toneladas de ouro anuais que exporta só revertem ao país 287 milhões de euros em impostos e só uns 5.000 postos de trabalho. As explorações mineiras promovem verdadeiros genocídios ao meio ambiente que já provocou contaminações e mortes de pessoas e de animais.



O outro grande negócio das multinacionais, em Burkina Faso, é o do algodão. A multinacional Monsanto assinou um acordo com o governo para introduzir o cultivo de algodão transgênico. Três empresas controlam todo o território agrícola e impõem aos agricultores as condições de compra deste algodão.

 

A Primavera Negra conseguiu uma grande vitória

 

A notícia de que Campaoré já não continuava no poder encheu de alegria dezenas de milhares de manifestantes. Mas isso não foi suficiente para que regressassem para suas casas. O general Traoré pretende manter o poder nas mãos do Exército. Ainda que, em uma das últimas mensagens do ex-presidente Campaoré propusesse eleições em 3 meses, o general Traoré não assumiu a propostae fala de uma transição daqui a um ano. Está testando seconsegue manter o poder ou se será varrido também pela mobilização popular. 



As mobilizações iniciaram-se com o anúncio da pretensão de Campaoré se perpetuar no poder. Esta reivindicação democrática irrompe dadaa miséria na qual se encontra o país, pela submissão imposta pelo imperialismo. O Estado burkinés, cuja garantia é o exército, está a serviço dos interesses das potências imperialistas e de suas multinacionais. No entanto, porta-vozes da oposição, ainda que permaneçam chamando à mobilização, propõem que o exército faça parte da transição política. Há divergência no exército sobre quem deve dirigir o país, Traoré ou Kouame Lugué, um ex- general aposentado que é apoiado por setores da oposição.



A revolução que se iniciou no norte da África, com a Tunísia, Egito e Líbia, chegou ao coração do continente. É importante que as massas africanas observem exemplos como o do Egito, onde o regime conseguiu sobreviver graças ao Exército, que permanece no poder e mantém seu país como aliado dos EUA.

 

África se incendeia

 

Produto das mobilizações, há 2 anos caía também o presidente do Senegal. Mas o novo governo de Macky Sall continuou a serviço do imperialismo e de seus tratados internacionais. Na verdade, o Senegal voltou a se curvar diante da antiga metrópole francesa.



Na África do Sul, a classe operária está mostrando sua força com greves históricas e levantando a necessidade de construir uma ferramenta independente para conseguir atingir seus fins. A revolução burquinesa, por sua vez, enfrenta um regime, produto de um golpe de Estado que ataca as instituições que o respaldavam, como o Parlamento, e sinaliza que não quer o chefe das Forças Armadas no poder.



Romper com o imperialismo, pela Unidade Africana



Colocar para fora os presidentes e suas camarilhas, que se perpetuaram nos governos de seus países durante décadas, protegidos e encorajados pelas potências coloniais, é o primeiro passo em direção averdadeira independência.



E o povo de Burkina Faso, assim como do resto da África, não parte do zero. Há poucas décadas, lutaram pela independência e, nestes anos, viveram importantes processos revolucionários. Recuperar o legado, com seus acertos e seus erros, dos grandes dirigentes africanos como Lumumba, Amilcar Cabral ou Thomas Sankara, será fundamental para construir os partidos revolucionários de que as massas precisam para acabar com as correntes que aprisionamseus povos.



Para sair da pobreza, os países africanos necessitam romper com o imperialismo e seus tratados. Há que expulsar as tropas imperialistas e fazer uma frente comum para não pagar a dívida externa que é o mecanismo pelo qual são impostas as políticas neoliberais aos seus governos. Os países africanos precisam recuperar suas riquezas e colocá-las a serviço de seus povos e não para manter os lucros de um punhado de multinacionais que as exploram.



Os soldados burquineses terão de enfrentar um dilema: ou seguir as ordens dos generais que querem manter Burkina Faso de joelhos, ainda que com uma nova cara na presidência, ou se negar a reprimir o povo e os trabalhadores, que são os que têm de governar. É o povo que deve definir como se governa e a serviço de quem.



As massas burquinesas continuam lutando e mostrando sua determinação ao não aceitar novas ditaduras militares.

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