seg abr 15, 2024
segunda-feira, abril 15, 2024

Michael Roberts| A queda pós pandêmica

A pandemia de COVID-19 marca o fim da maior expansão econômica já registrada nos EUA, que apresentará a maior contração econômica desde a Segunda Guerra Mundial.

Por: Michael Roberts

Figura 1: EUA: A expansão mais longa já registrada (número de meses, mínimos e máximos)
A economia global estava enfrentando o pior colapso desde a Segunda Guerra Mundial quando o coronavírus começou a atacar em março, bem antes do auge da crise, de acordo com o último índice de rastreamento da Brookings-FT.

Figura 2: Economia global à beira do abismo. Linha azul, economias avançadas; linha vermelha, economias emergentes. (índice composto por uma gama de indicadores)
2020 será o primeiro ano de queda do PIB global desde a Segunda Guerra Mundial. E foi apenas nos anos finais da Segunda Guerra Mundial/pós-guerra que a produção caiu.

Figura 3: PIB mundial real (%, base anual). Seta mostra a previsão para 2020.
Os economistas do banco JPMorgan calculam que a pandemia poderia custar ao mundo pelo menos US$ 5,5 trilhões em perdas de produção nos próximos dois anos, um valor superior à produção anual do Japão. E essa perda seria permanente. Isso representa quase 8% do PIB até o final do próximo ano. O custo apenas para as economias desenvolvidas será semelhante ao das recessões de 2008-2009 e 1974-1975. Mesmo com níveis sem precedentes de estímulo monetário e fiscal, é improvável que o PIB retorne à sua tendência pré-crise até pelo menos 2022.
O Banco de Compensações Internacionais alertou que esforços nacionais desconexos podem levar a uma segunda onda de casos, um cenário que deixaria o PIB dos EUA cerca de 12% abaixo do nível pré-vírus até o final de 2020. Isso é muito pior do que na Grande Recessão de 2008-9.

Figura 4: EUA: Queda cumulativa do PIB durante recessões.
A economia dos EUA perderá 20 milhões de empregos, de acordo com estimativas da Oxford Economics, fazendo com que a taxa de desemprego suba em maior grau desde a Grande Depressão (2008-2009) e afetando severamente 40% dos empregos.

Figura 5: Taxa de desemprego subirá 12% em abril, quando a economia perderá 20 milhões de empregos (EUA: folha de pagamentos e taxa de desemprego). Linha vermelha, folha de pagamentos; linha azul, taxa de desemprego. À direita: Mais de 40% do emprego total será severamente impactado (por setor econômico).
E há a situação das chamadas “economias emergentes” do hemisfério sul. Muitos deles são exportadores de commodities básicas (como energia, metais e agroalimentos) que, desde o final da Grande Recessão, viram os preços despencarem.

Figura 6: Retorno da venda de commodities anualizado a cada 10 anos.
E agora a pandemia intensificará essa contração. Prevê-se que a produção econômica em mercados emergentes caia para -1,5% este ano, o primeiro declínio desde que os registros confiáveis começaram em 1951.

Figura 7: Crescimento do PIB de mercados emergentes.
O Banco Mundial calcula que a pandemia levará a África Subsaariana à recessão em 2020 pela primeira vez em 25 anos. Em seu relatório Africa Pulse, o banco disse que a economia da região se contrairá de 2,1% a 5,1%, ante um crescimento de 2,4% no ano passado, e que o novo coronavírus custará à África subsaariana de US$ 37 bilhões a US$ 79 bilhões em perdas de produção este ano devido à interrupção do comércio e da cadeia de valor, entre outros fatores. “Estamos vendo   um colapso do preço das commodities e um colapso do comércio global, diferente de tudo que vimos desde os anos 1930″, disse Ken Rogoff, ex-economista-chefe do FMI.
Mais de 90 países ‘emergentes’ consultaram sobre resgates do FMI – quase metade das nações do mundo – enquanto pelo menos 60 tentaram se valer dos programas do Banco Mundial. As duas instituições juntas têm recursos de até US$ 1,2 trilhão, que estariam disponibilizados para combater as consequências econômicas da pandemia, mas esse número é pequeno se comparado às perdas de renda, PIB e fuga de capital.
Desde janeiro, cerca de US$ 96 bilhões saíram de mercados emergentes, de acordo com dados do Institute of International Finance, um grupo bancário. Isso é mais que o triplo da saída de US$ 26 bilhões durante a crise financeira global de uma década atrás.  “Uma avalanche de crises de dívida dos governos certamente virão”, disse ele, e “o sistema simplesmente não pode lidar com tantos resgates e reestruturações ao mesmo tempo”, disse Rogoff.
Não obstante, reina muitas vezes o otimismo de que, uma vez terminados os bloqueios, a economia mundial se recuperará de uma onda de demanda reprimida liberada. As pessoas voltarão ao trabalho, as famílias gastarão mais do que nunca e as empresas recuperarão seu antigo corpo de funcionários e começarão a investir para um futuro pós-pandemia mais brilhante.
Como disse o governador da (minúsculo) Islândia“O dinheiro que agora está sendo economizado porque as pessoas ficam em casa não desaparece – ele voltará à economia assim que a pandemia terminar. A prosperidade estará de volta.  Essa visão foi ecoada pelo timoneiro da maior economia do mundo. O secretário do Tesouro dos EUA, Mnuchin, falou bravamente que: “Esta é uma questão de curto prazo. Pode demorar alguns meses, mas vamos superar isso, e a economia estará mais forte do que nunca”.
O ex-secretário do Tesouro e guru keynesiano, Larry Summers, tendia a concordar: “a recuperação pode ser mais rápida do que muitos esperam, porque é como a recuperação da depressão total que atinge uma economia como a de Cape Cod[1] todo inverno ou a recuperação do PIB dos Estados Unidos que ocorre toda segunda-feira de manhãCom efeito, ele estava dizendo que os EUA e a economia mundial estão como Cape Cod fora de temporada; apenas pronta para reabrir no verão sem danos significativos às empresas durante o inverno.
Isso é algo otimista. Pois, quando esses otimistas falam sobre uma rápida recuperação em forma de V, não reconhecem que a pandemia de COVID-19 não está gerando uma recessão ‘normal’ e está atingindo não apenas uma região, mas toda a economia global. Muitas empresas, principalmente as menores, não retornarão após a pandemia. Antes dos bloqueios [das cidades], havia algo entre 10% e 20% das empresas nos EUA e na Europa que mal lucravam o suficiente para cobrir os custos operacionais e os juros de suas dívidas. Essas empresas, chamadas de zumbis, podem ter achado o inverno de Cape Cod o último prego em seus caixões. Já várias cadeias médias de varejo e lazer entraram com pedido de falência e companhias aéreas e agências de viagens podem fazer o mesmo. Um grande número de empresas de óleo de xisto também está debaixo de água (não de óleo).

Figura 8: Zumbis estão entre as menores empresas, classificadas por valor de mercado.
Como concluiu um dos principais analistas financeiros, Mohamed El-Erian: “A dívida já está provando ser uma linha divisória para as empresas que correm para se adaptar à crise, e um fator crucial na competição pela sobrevivência dos mais aptos. As empresas que entraram na crise altamente endividadas terão mais dificuldade em continuar. Aquelas que conseguirem, verão um cenário em que muitos de seus concorrentes desapareceram.
Portanto, levará muito mais tempo para retornar aos níveis de produção anteriores aos bloqueios. Os economistas da Nomura calculam que é improvável que o PIB da Zona Euro só exceda o nível do quarto trimestre de 2015 em 2023!

Figura 9: Recuperação do PIB aos níveis pré-vírus poder levar tempo. PIB do 3º trimestre da Zona Euro + 100. Seta indica previsão da Nomura.
E lembre-se, como expliquei em detalhes em meu livro A Longa Depressão, após a Grande Recessão, não houve retorno à tendência de crescimento anterior. Quando o crescimento foi retomado, foi mais lento do que antes.

Figura 10: PIB real per capita e tendência de 1947 a 2007. Linha cheia: PIB real per capita; linha pontilhada, tendência 1947-2007. Seta vermelha: pela primeira vez desde a segunda guerra mundial, não houve retorno à tendência de crescimento anterior.
Desde 2009, o crescimento médio anual do PIB per capita dos EUA é de 1,6%. No final de 2019, o PIB per capita estava 13% abaixo da tendência de crescimento anterior a 2008. No final da recessão de 2008-2009, estava 9% abaixo da tendência. Assim, apesar de uma expansão de uma década, a economia dos EUA caiu ainda mais abaixo da tendência desde que a Grande Recessão terminou. A diferença agora [entre os períodos pré e pós 2008-09] é igual a US$ 10.200 por pessoa – uma perda permanente de renda. E agora, o Goldman Sachs está prevendo que a nova queda do PIB per capita acabaria com todos os ganhos dos últimos dez anos!

Figura 11: PIB real per capita, dólares de 2012. Linha roxa, real; e linha azul, tendência 1970-2007. Ponto roxo: previsão do Goldman Sachs.
Depois, há o comércio mundial. O crescimento do comércio mundial foi relativamente igual ao crescimento do PIB global desde 2009 (linha azul), muito abaixo da tendência anterior a 2009 (linha pontilhada). Agora há uma trajetória mais baixa (linha amarela pontilhada). Mas, a Organização Mundial do Comércio (OMC) não vê retorno a essa trajetória mais baixa por pelo menos dois anos.

Figura 12: Tendências do comércio mundial. Linha azul: comércio atual; linha verde: cenário otimista [pós 2020]; linha vermelha: cenário pessimista; linha pontilhada cinza: tendência 1990-2008; linha pontilhada amarela: tendência 2011-2018.
Mas, e as injeções gigantescas de crédito e empréstimos que estão sendo feitas pelos bancos centrais de todo o mundo e os enormes pacotes de estímulo fiscal dos governos em todo o mundo? Isso não mudará as coisas mais rapidamente? Bem, não há dúvida de que os bancos centrais e até as agências internacionais como o FMI e o Banco Mundial entraram para injetar crédito através da compra de títulos do governo, títulos corporativos, empréstimos para estudantes e até ETFs em uma escala nunca vista antes, mesmo durante a crise financeira global de 2008-9. As compras [de títulos] pelo FED já estão à frente dos programas anteriores de flexibilização monetária.
E os gastos fiscais aprovados pelo Congresso dos EUA no mês passado superam o programa de gastos durante a Grande Recessão.

Figura 13: EUA: Fundos autorizados pelo Congresso. Coluna vermelha: desde a primeira morte por COVID-19 na China (11 de janeiro de 2020); coluna azul: desde os primeiros sinais da crise financeira (7 de agosto de 2007).
Fiz uma estimativa do tamanho das injeções de crédito e pacotes fiscais anunciados globalmente para preservar economias e negócios. Calculo que alcançou mais de 4% do PIB em estímulos fiscais e outros 5% em injeções de crédito e garantias do governo. Isso é o dobro do valor na Grande Recessão, com alguns países importantes empenhando-se ainda mais para compensar trabalhadores desempregados e pequenas empresas fechadas.

Figura 14: Pacotes fiscais (% do PIB) em 12 de abril.
Esses pacotes são ainda mais abrangentes. Envios diretos de dinheiro pelo governo a famílias e empresas são, na verdade, o que o infame economista monetarista do mercado livre Milton Friedman chamou de “dinheiro de helicóptero“, dólares caindo do céu para salvar o povo. Esqueça os bancos; coloque o dinheiro diretamente nas mãos de quem precisa que eles gastarão.
Economistas pós-keynesianos que pedira por dinheiro de helicópteros, ou dinheiro do povo, são assim justificados.
Além disso, de repente a ideia, que até agora foi rejeitada e descartada pela política econômica convencional, tornou-se altamente aceitável, a saber, gastos fiscais financiados, não pela emissão de mais dívida (títulos do governo), mas simplesmente ‘imprimindo dinheiro’, isto é, o Fed ou o Banco da Inglaterra depositam dinheiro na conta do governo para este gastar como quiser.
O comentarista keynesiano Martin Wolf, que já se havia aproximado da MMT[2]agora diz: “abandone os costumes ultrapassados. Os governos já desistiram de antigas regras fiscais, e com razão. Os bancos centrais também devem fazer o que for preciso. Isso significa financiamento monetário dos governos. Os bancos centrais fingem que o que estão fazendo é reversível e, portanto, não é financiamento monetário. Se isso os ajuda a agir, tudo bem, mesmo que seja provavelmente falso. …Não há alternativa. Ninguém deve se importar. Existem maneiras de gerenciar as consequências. Até o ‘dinheiro de helicóptero’ pode ser totalmente justificável em uma crise tão profunda”.
As políticas da Teoria Monetária Moderna (MMT) chegaram! Certamente, supõe-se que esse financiamento monetário puro seja temporário e limitado, mas os entusiastas do MMT estão convencidos de que podem se tornar permanentes, como advogam. Ou seja, os governos precisam gastar e, então, devem criar dinheiro para levar a economia ao pleno emprego e mantê-la lá. O capitalismo será salvo pelo Estado e pela moderna teoria monetária.
Eu discuti em detalhes em vários posts as falhas teóricas no MMT a partir de uma visão marxista. O problema com essa teoria e política é que ela ignora o fator crucial: a estrutura social do capitalismo. Sob o capitalismo, produção e investimento existem para o lucro, não para atender às necessidades do povo. E o lucro depende da capacidade de explorar a classe trabalhadora suficientemente em comparação com os custos de investimento em tecnologia e ativos produtivos. Não depende de que o governo forneça suficiente ‘demanda efetiva’.
A suposição dos economistas radicais pós-keynesianos/MMT é que, se os governos gastarem, isso levará as famílias a gastar mais e o capitalista a investir mais. Assim, o pleno emprego pode ser restaurado sem nenhuma mudança na estrutura social de uma economia (isto é, do capitalismo). Sob o MMT, os bancos não seriam tocados; nem as grandes empresas, os FAANGs[3] permaneceriam intocados; o mercado de ações continuaria na mesma. O capitalismo seria consertado com a ajuda do estado, financiado pela árvore mágica de dinheiro (MMT).
Michael Pettis é um conhecido macroeconomista residente em Beijing. Em um artigo convincente, intitulado MMT heaven and MMT hell[4], ele assume a suposição otimista de que imprimir dinheiro para aumentar os gastos do governo pode dar certo. Ele diz: “o ponto principal é o seguinte: se o governo pode gastar esses fundos adicionais de maneira a fazer o PIB crescer mais rapidamente do que a dívida, os políticos não precisam se preocupar com inflação descontrolada ou acumulação de dívida. Mas, se esse dinheiro não for usado produtivamente, o oposto é verdadeiro”.
Ele acrescenta: “criar ou tomar dinheiro emprestado não aumenta a riqueza de um país, a menos que isso resulte direta ou indiretamente em um aumento no investimento produtivo …  Se as empresas norte-americanas relutarem em investir, não porque o custo do capital é alto, mas porque a rentabilidade esperada é baixa, é improvável que eles respondam à troca entre capital mais barato e menor demanda investindo maisVocê pode levar um cavalo à água, mas não pode fazê-lo beber.
Suspeito que grande parte da generosidade fiscal e monetária acabe não sendo gasta, mas acumulada ou investida não em funcionários e produção, mas em ativos financeiros improdutivos – não é de admirar que as bolsas de valores do mundo se recuperem à medida que o FED e outros bancos centrais injetem dinheiro e façam empréstimos a juros zero.
De fato, até o economista de esquerda Dean Baker duvida do paraíso do MMT e da eficácia destes enormes gastos fiscais.  “Na verdade, é possível que vejamos muita demanda, se uma explosão de gastos pós-isolamento superar a capacidade imediata de restaurantes, companhias aéreas, hotéis e outros negócios. Nesse caso, podemos na verdade ver uma explosão da inflação, quando esses negócios aumentarem seus preços em resposta à demanda excessiva”; ou seja, o inferno do MMT. Portanto, ele conclui que “gastos genéricos não são aconselháveis neste momento”.
Bem, a prova do pudim se faz ao comê-lo[5], portanto, esperemos.  Porém, as evidências históricas que eu e outros compilamos ao longo da última década ou mais mostram que o chamado multiplicador keynesiano tem efeito limitado na restauração do crescimento, principalmente porque não é o consumidor que importa na recuperação da economia, mas as empresas capitalistas.
E há novas evidências sobre o poder do multiplicador keynesiano. Não é de um para um, ou mais de um, como frequentemente afirmam. Isto é, o aumento de 1% do PIB nos gastos do governo não leva a um aumento de 1% do PIB na produção nacional. Alguns economistas observaram este efeito na Europa nos últimos dez anos. Eles concluíram que “em contraste com as alegações anteriores de que o multiplicador fiscal foi bem maior um no auge da crise, argumentamos que o ‘verdadeiro’ multiplicador ex post[6] permaneceu abaixo de um”.
E há poucas razões para que seja diferente desta vez.  Em outro artigo, outros economistas tradicionais sugerem que uma recuperação em forma de V é improvável porque “a demanda é endógena e afetada pelo choque de oferta e outras características da economia. Isso sugere que o estímulo fiscal tradicional é menos eficaz em uma recessão causada por nosso choque de oferta. … A demanda pode realmente reagir exageradamente ao choque de oferta e levar a uma recessão por deficiência de demanda por causa da baixa substitubilidade entre setores e mercados incompletos, com consumidores limitados pela liquidez”, de forma que “várias formas de política fiscal, por dólar gasto, podem ser menos eficazes”.
Mas o que mais podemos fazer? Portanto, “apesar disso, a política ideal para enfrentar uma pandemia em nosso modelo combina tanto o afrouxamento da política monetária quanto previdência social abundante”.  E esse é o problema. Se a estrutura social das economias capitalistas permanecer intocada, tudo o que resta é imprimir dinheiro e gastos do governo.
Talvez a própria profundidade e alcance dessa queda pós-pandemia criem condições em que os valores do capital sejam tão desvalorizados pelas falências, fechamentos e demissões que as empresas capitalistas mais fracas serão liquidadas e as empresas tecnologicamente avançadas e mais bem-sucedidas ressurgirão em um ambiente de maior lucratividade. Esse seria o ciclo clássico de expansão, retração e expansão sugerido pela teoria marxista.
O ex-chefe do FMI e aspirante a presidente francês, o famoso Dominique Strauss-Kahn, sugere : “a crise econômica, destruindo o capital, pode fornecer uma saída. As oportunidades de investimento criadas pelo colapso de parte do aparato de produção, como o efeito nos preços das medidas de apoio, podem reviver o processo de destruição criativa descrito por Schumpeter.
Apesar do tamanho dessa crise pandêmica, não tenho certeza de que haverá destruição suficiente de capital, principalmente porque grande parte do financiamento de resgate  manterá as empresas, e não as famílias, operando. Por esse motivo, penso que o fim dos isolamentos não causará uma recuperação em forma de V ou mesmo um retorno ao ‘normal’ (dos últimos dez anos).
No meu livro, The Long Depression, desenhei um diagrama esquemático para mostrar a diferença entre recessões e depressões. Uma recuperação em forma de V ou W é a norma, mas há períodos na história capitalista em que a depressão domina. Na depressão de 1873-97 (mais de duas décadas), houve várias quedas em diferentes países, seguidas de recuperações fracas que assumiram a forma de um sinal de raiz quadrada, onde a tendência anterior de crescimento não foi restaurada.

Figura 15: A partir da esquerda: Recessão 1974-5 típica (em V); recessão 1980-2 típica (em duplo-V); depressão; depressão do fim do século 19 (1873 aos anos 1880); grande depressão dos anos 1930; longa depressão até agora. Trend growth: tendência de crescimento.
Os últimos dez anos têm sido semelhantes ao fim do século 19. E agora parece que qualquer recuperação da crise pandêmica será prolongada e também proporcionará uma expansão abaixo da tendência anterior nos próximos anos. Será mais uma prolongação da longa depressão que experimentamos nos últimos dez anos.
Fonte: Michael Roberts, The Post-Pandemic Slump
 
[1] Cape Cod é uma cidade de veraneio no litoral norte-americano.
[2] MMT – Moderna Teoria Monetária (Modern Monetary Theory)
[3] As empresas monopólicas de tecnologia, Facebook, Amazon, Google, etc.
[4] O céu e o inferno do MMT
[5] Famoso ditado inglês que significa que a prática é a única forma de julgar a qualidade ou veracidade de algo. Os marxistas costumam dizer que o critério da verdade é a prática.
[6] Expressão que significa baseado em conhecimento, observação, análise.
Tradução: Marcos Margarido

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