sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

María Rivera: "Todos juntos podemos tirar  Piñera do governo"

Na edição anterior do Avanzada Socialista [jornal do PSTU da Argentina] publicamos uma nota sobre quem é María Rivera e porque está sendo perseguida pelo Governo e pelas forças policiais chilenas. Neste número tivemos a oportunidade de entrevistá-la e aprofundar um pouco sobre a revolução chilena.

Por: PSTU-Argentina
Avanzada Socialista (AS): Qual é a situação atual quatro meses depois de iniciado o processo revolucionário da classe operária e do movimento de mulheres?
María: O processo continua aberto plenamente e continuam as mobilizações que não foram detidas com a forte repressão, já passamos de 2500 presos.
No início de janeiro foi realizado o segundo encontro plurinacional de mulheres. Houve uma grande presença, mais de cinco mil inscritas.  Dobrou a quantidade do primeiro encontro. Teve uma discussão muito boa e concluiu com resoluções muito importantes como o chamado à greve no dia 9 de março e mobilizações no dia 8.
Esperamos que a greve seja forte, profunda e extensa. Até agora a classe operária não participou com seus organismos. Porém participa de forma individual, junto às suas famílias. Muitos dos presos políticos são trabalhadores, inclusive os que participam da primeira linha.
A participação das mulheres tem sido muito importante, já conhecemos a intervenção das Las Tesis com a performance de “O estuprador é você” que foi realizada em vários países do mundo. As mulheres estão muito presentes inclusive na primeira linha. Participam junto aos companheiros homens em todas as linhas porque há uma divisão de trabalho nas mobilizações que é muito importante. Homens e mulheres que preparam alimentos, que trabalham nos organismos de saúde alternativos que foram criados nesta revolução levando agua, coletando roupa, etc.
AS: Como a greve do 9 de março está sendo preparada? Quais sindicatos participam?
María: Como sindicato até agora está a Associação Nacional de empregados Fiscais (Anef) que está se preparando para a greve. O mundo do trabalho privado está muito atomizado. O código trabalhista no Chile permite ter  tantos quanto caibam em uma indústria porque com 8 trabalhadores já é possível formar um. A burocracia é muito forte e os trabalhadores até agora não romperam essa barreira. Na greve de 12 de novembro participaram um setor dos portuários muito importante e da empresa de mineração privada do norte do Chile. Oxalá eles e mais trabalhadores se somem.
AS: Você dizia no início que há mais de 2500 presos políticos. Em que situação se encontra a perseguição aos lutadores?
María: Efetivamente o governo tem tido duas vias, duas políticas. Uma que é repressão. Fortalecer as leis criminalizadoras e por outro lado chegar ao acordo “pela paz”, assinado em novembro, para iniciar um processo constituinte. A repressão continua aumentando em todas as mobilizações, todas as semanas há novos presos. Constatamos que muitos jovens foram presos porque há infiltrados nas mobilizações. Há jovens de 14, 15 anos que estão vivendo situações de prisão muito duras.
Em uma de minhas intervenções na Plaza Dignidad chamei a tropa de Carabineros para que parrasse de atirar e bater no povo, que entregassem seus fuzis e passassem para o lado da luta. Porque nesta luta também estão suas famílias, namoradas, irmãos e filhos. Isso fez com que os Carabineros apresentassem a denuncia por “Sedição imprópria” contra mim.
Há uma queixa apresentada pela Defensoria Popular pelas ameaças que estou recebendo. Se for convocada a declarar pela denuncia eu não tenho nenhum problema, porque defendo minha liberdade de opinião e continuarei a defendê-la. Insisto, a tropa de Carabineros são filhos dos trabalhadores do país e a única coisa que lhes digo é que deixem de atacar seu povo e isso para mim não é delito.
AS: O processo  vivido no Chile teve repercussão na Argentina e trabalhadores e estudantes se solidarizaram. Que mensagem você tem para eles, como é possível apoiar a revolução chilena a partir daqui? Além disso, quais atividades você esteve fazendo em Buenos Aires estes dias.
María: Em primeiro lugar convocar os estudantes, trabalhadores, organizações populares e ativistas para tomar em suas mãos a defesa dos quase 3 mil jovens chilenos que estão em prisão preventiva. Tomar em suas mãos a denúncia contra Piñera com todos os meios que possam porque no Chile os direitos humanos são transgredidos.
Nas duas últimas semanas estive no Brasil e na Argentina fazendo esta denúncia, pedindo solidariedade pela liberdade dos presos. Fui muito bem recebida, recebi muito apoio por esta luta. O povo brasileiro nos lugares onde estive se mostrou muito aberto e receptivo para conhecer as histórias que estão acontecendo no Chile e apoiar. Aqui na Argentina também. Visitei o PSTU argentino, partido irmão do MIT do Chile, e foi uma recepção maravilhosa. Ontem estive na plenária do encontro Memória, Verdade e Justiça, também tive uma recepção muito importante dos companheiros e companheiras que estavam lá e pude expor o que acontece e tiramos fotos expressando solidariedade com os presos e com minha pessoa.
Hoje tive a honra de ir à manifestação das Madres de Plaza de Mayo que são um marco na luta pelos direitos humanos. Estive com Norita Cortiña e ali gritaram “ Fora Piñera!” E “aquele que não pula é paco!” foi maravilhoso. Por outro lado, estive no anexo do Congresso junto a uma série de personalidades expondo a situação e também recebi muito apoio. Dessa forma, vou embora carregada de novas energias para levar aos presos e presas. Dizer-lhes que não são anônimos, que todos sabem o que está acontecendo e que todos juntos poderemos tirar Piñera do governo e construir um futuro com justiça no Chile.
Tradução: Lilian Enck


 

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