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sexta-feira, março 29, 2024

Livro sobre guerra contra o Paraguai ganha edição em português

A guerra até ganhou uma versão romantizada pela novela “Nos tempos do Imperador”, da Globo. Mas, na verdade, foi  um genocídio no país vizinho comandado pelo Império do Brasil

Por: PSTU Brasil

A Editora Sundermann publicou o livro A guerra contra o Paraguai em debate, de Ronald León Núñez, investigador paraguaio e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP). Lançada em 2019 no Paraguai, a obra teve grande repercussão na imprensa e entre a intelectualidade do país.

O lançamento no Brasil será nos dias 6 e 7 de abril (veja abaixo), e o livro já pode ser comprado no site da editora. A edição vem acrescida de um prefácio de Rodrigo Ricupero, professor da USP, e o texto da orelha é de Vitor Wagner Neto de Oliveira, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

A dimensão da guerra

A guerra contra o Paraguai (1864-1870) foi o conflito bélico mais prolongado e sangrento da América do Sul. A Tríplice Aliança, formada pelo Império do Brasil, pela Argentina e pelo Uruguai, invadiu o Paraguai após assinar um tratado secreto no qual dividia previamente o território e estabelecia que os paraguaios deveriam pagar uma dívida aos vencedores.

O Império do Brasil mobilizou 139 mil soldados durante a guerra, 1,52% de sua população naquele momento. Seria como se hoje o Brasil governado por Bolsonaro invadisse o Paraguai – um país oprimido, com 7 milhões de habitantes atualmente – com mais de 3,2 milhões de soldados. Isso dá uma pequena ideia das dimensões do conflito e do envolvimento do império escravocrata na destruição do Paraguai.

Dizemos destruição sem medo de exagerar. Segundo acadêmicos não marxistas, nem sequer de esquerda, o Paraguai perdeu entre 60% e 69% de sua população após o fim da guerra. Trata-se de um extermínio de proporção histórica. O país derrotado perdeu cerca de 40% de seu território, que foi anexado pelo Brasil e pela Argentina. Os exércitos aliados ocuparam o país até 1876. A dívida de guerra imposta ao Paraguai foi “perdoada” só em 1943.

É um tema extremamente polêmico e pouco estudado a partir de uma perspectiva marxista, isto é, a partir dos interesses das classes exploradas e das nações oprimidas de ontem e hoje. Neste livro, Ronald León Núñez oferece sólida pesquisa documental e oferece respostas aos principais debates historiográficos: qual o caráter da guerra? Qual o papel de Pedro II e do Império do Brasil? O Paraguai do século XIX era uma potência industrial? Qual o papel do Império Britânico? Houve um genocídio do povo paraguaio?

Dívida histórica

Restabelecendo a verdade histórica

Embora tenha sido a mais importante guerra internacional em que o país se envolveu, é notável o grau de desconhecimento que há no Brasil sobre a guerra contra o Paraguai. Independentemente da interpretação histórica transmitida pelo sistema educativo, o lugar que esse assunto ocupa é marginal. O estudo e o debate sempre estiveram restritos a seletos círculos intelectuais compostos por militares e, nas últimas décadas, por um punhado de historiadores profissionais.

Essa obra pretende estimular o estudo e os debates sobre o tema. O marxismo brasileiro e latino-americano ainda deve percorrer um longo e espinhoso caminho para se aproximar do estudo rigoroso do século XIX, em especial da guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Isso implica combater as pressões tanto da leitura tradicional emanada do liberalismo quanto do nacionalismo burguês.

Nesse sentido, o autor ressalta a necessidade de “estimular o debate necessário, não no terreno estéril de determinados espaços acadêmicos, mas em uma direção que permita extrair lições úteis para compreender e, sobretudo, transformar a realidade”. É hora de levar esse tema a escolas, universidades, sindicatos, partidos de esquerda. Fazer com que o movimento operário e social brasileiro conheça essa história e se aproprie dela.

Na nota à edição brasileira, León Núñez escreve que uma atitude internacionalista impõe compreender que “o povo trabalhador brasileiro tem uma dívida histórica com seus irmãos de classe paraguaios. Não por ter cometido o genocídio ou por ter dilacerado o pequeno país vizinho. A responsabilidade por esta atrocidade corresponde aos governos que compuseram a Tríplice Aliança […]. A dívida histórica da classe trabalhadora brasileira pode ser saldada conhecendo, debatendo, em suma, apropriando-se desta história. […] tal débito será honrado lutando lado a lado com o povo paraguaio; combatendo cotidianamente a opressão e a discriminação cultural-racial exercidas de diversas formas pela burguesia de seu próprio país sobre o Paraguai. Enfim, concretizando uma das máximas mais citadas do marxismo: Não pode ser livre um povo que oprime outros povos”.

Venha conferir

Participe do lançamento  do livro

6/4 – 19h – Live com o autor no Facebook e no YouTube da Editora Sundermann

7/4 – 18h – Sessão de autógrafos presencial em São Paulo, na livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509)

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