qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

7 meses de prisão: ativista argentino Daniel Ruiz fala sobre a mobilização por sua liberdade

Nesta sexta-feira (12) completa-se 7 meses da detenção política do petroleiro argentino Daniel Ruiz. O ativista, preso desde 12 de setembro de 2018, foi detido por lutar nas manifestações contrárias à reforma previdenciária no país.

Por: CSP Conlutas

Sua prisão é denunciada pelos movimentos sociais como injusta e ilegal, em meio a tantas outras que o governo de Mauricio Macri realiza contra lutadores e militantes na Argentina, assim como as absurdas perseguições políticas, como ocorre com o ativista Sebastian Romero, a quem Daniel Ruiz também apoiou em diversas campanhas de solidariedade.

Neste dia em que completa-se 7 meses de sua prisão, e que marca de alguma maneira a violência contra os direitos democráticos na Argentina e no mundo, a CSP-Conlutas publica entrevista concedida pelo ativista, que vive a dureza do cárcere mas que segue resistindo por receber apoio dos que lutam por sua liberdade.

Liberdade para Daniel Ruiz, já!

Confira abaixo a entrevista:

CSP-Conlutas: São sete meses de uma detenção totalmente arbitrária. Eu gostaria de saber como você viveu esse período dentro da prisão naquele período?

Daniel Ruiz: Desde 12 de setembro de 2018, quando me prenderam na penitenciária de segurança máxima de Marcos Paz, Buenos Aires, sabia que a intenção do governo era a de me humilhar, quebrar, com hostilidade, somente pelo fato de me juntar aos milhares nas jornadas históricas de luta de dezembro de 2017.

No entanto, apesar dessa difícil situação, acredito que os verdadeiros delinquentes não estão nesta penitenciária, mas sim no Congresso Nacional, que votou o roubo das aposentadorias. Sob esse ponto de vista, minha estadia nesse tempo todo foi de melhora contínua com os presos desse pavilhão (somos 50) e juntos fomos aprendendo muitas coisas, têm me ensinado muito, como por exemplo sobre como me cuidar aqui, e eu compartilho comentários sobre política, minha cidade de Comodoro Rivadávia, os petroleiros e a luta sindical.

O cárcere pode ser muito difícil, mas também tem sido valorosa essa convivência com os demais presos. Me solidarizo porque apesar de tudo, somos todos pobres, viemos todos da mesma classe social.

CSP-Conlutas: Qual é a sua situação judicial atual?

Daniel Ruiz: Minha situação jurídica nesse momento é que estamos em um processo no Tribunal Federal Oral nº3, de Comodoro PY, sem data prevista, ainda que a parte de instrução já tenha sido finalizada por parte do juiz federal Sergio Torres, do 12º Juizado Federal, com aceitação da promotoria.

E ainda assim continuam me negando liberdade. Diante disso, apesar das manobras judiciais, estamos apelando com recurso ao Tribunal de Justiça, que já nos informou que será a sala I do Tribunal da Corte de Cassação quem receberá nosso pedido.

As acusações são de intimidação pública e atentado contra a autoridade, ambas acusação não são puníveis com prisão, ainda mais com a justiça tendo a comprovação de que não tenho antecedentes criminais.

CSP-Conlutas: Você recebeu apoio de movimentos e ativistas da Argentina e de outros países? Como tem sido?

Daniel Ruiz: Tenho recebido muito apoio não somente de deputados de diferentes partidos como também de legisladores de diversos locais, autoridades municipais, centrais sindicais, como a CTA, CGT de Comodoro Rivadavia, de movimentos sociais como a CTEP, MTE, CCC, de partidos de esquerda de diversos países por meio da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas e da CSP-Conlutas, de entidades da Colombia, Chile, Bélgica, Costa-Rica, Peru e tantos outros como México e, na Europa, Itália e Espanha.

Foram todos às embaixadas e Consulados. Para mim, cada ação dessas me deu muita força, por meio de cada assinatura ou saudação, e isso me ajuda a seguir em pé, resistindo. Como trabalhador petroleiro da Patagônia e membro do PSTU-LI, digo que estou muito agradecido por todas as demonstrações de solidariedade.

CSP-Conlutas: O que os movimentos e entidades sindicais podem fazer para fortalecer a campanha por sua liberdade e para combater essas perseguições políticas contra os trabalhadores mobilizados por direitos?

Daniel Ruiz: Nós dos movimentos sociais e de sindicatos devemos unir todas as lutas em uma só mobilização. Além de lutarmos contra o desemprego, a fome, por aumentos salariais, devemos nos somar a lutas contra as opressões, pelo direito ao aborto legal, contra o feminicídio, pelos aposentados, contra as tarifas abusivas de luz, gás, água, assim como pelas liberdades democráticas.

Em unidade na luta poderemos avançar contra os governos, que somente defendem as políticas do FMI e das multinacionais, que nos roubam e que por isso necessitam reprimir o povo trabalhador. Somente por esse caminho alcançaremos a liberdade dos presos políticos e aos que são perseguidos, como Sebastian Romero e demais lutadores.

CSP-Conlutas: Você tem algo a dizer e que eu não tenha perguntado?

Daniel Ruiz: Nunca me perguntaram o que eu faria se me libertassem hoje, e desde o primeiro minuto em que fui detido eu penso em sair e pens que a primeiro coisa que faria se estivesse livre seria agradecer a minha família e meu filho, que viajam 2000 km para me ver na prisão, e a todos os que lutam por minha liberdade.

Agradecer aos meus camaradas do PSTU, da Rede Sindical Internacional, da CSP-Conlutas, aos meus amigos que não me abandonaram nunca. Ainda que não tenha acesso à internet, nem celulares ou computadores, ainda assim consegui me comunicar com as pessoas que compartilham comigo lutas e momentos de minha vida.

O que gostaria de fazer também é regressar a minha cidade, ver o mar, as montanhas, me juntar aos meus. Ainda que sejamos uma pequena cidade da Patagônia, graças ao internacionalismo da classe nossa luta chegou ao mundo. Por tudo isso, não posso deixar de agradecer a CSP-Conlutas, por tudo o que fazem pela luta do povo argentino.

 

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