qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

8M no México | Sobram motivos para marchar e não trabalhar

Aproxima-se outro 8 de Março, e tal como presenciamos nos últimos anos, acontece no contexto de um auge extraordinário das lutas das mulheres em todo o mundo contra a opressão. O movimento de mulheres tem demandas tão diversas quanto sentidas por milhares de milhões. E em cada país assume diferentes formas e coloca o eixo em diferentes expressões da opressão. Opressão e agressões alimentadas pela imperante ideologia machista e pelas instituições que a sustentam sob o domínio do capitalismo imperialista.

Por: CST-México
Esta nova onda de lutas das mulheres em todo o mundo faz parte da luta mundial dos oprimidos e explorados. Nós mulheres somos a metade oprimida da humanidade e também saímos para lutar. A luta das mulheres no México é parte deste ascenso.  Os protestos acontecem há meses ante feminicídios, estupros, assédio sexual e violência contra as mulheres. Muitos destes fatos foram cometidos por forças policiais, com cumplicidade de autoridades ou do próprio poder judicial, de modo que na maioria dos casos, os agressores acabam impunes.
Ante tanta aberração e injustiça, um clamor foi surgindo de abaixo, e não apenas entre as mulheres.
Os feminicídios de Ingrid e Fátima fizeram explodir a indignação e aproximando-se a data de 8 de Março, além das marchas e atos nesse dia, surgiu a iniciativa de parar na segunda dia 9. A ideia tem o antecedente da Paralisação Internacional de Mulheres que se realizou em 8 de Março de 2017, e que se repetiu em 2018. Estas paralisações replicaram outras realizadas em 2016 pelas mulheres polonesas contra um projeto de lei que pretendia criminalizar o aborto, ou  as mulheres argentinas que tomaram as ruas por “Nem uma a menos” contra os feminicídios e pela legalização do aborto seguro e gratuito.
A violência  continua sendo o mal principal que afeta as mulheres. A ilegalidade do aborto é parte dessa mesma violência feminicida, que não permite decidir o momento da maternidade e deixa a mulher que decide interromper uma gravidez entregue à sua própria sorte. Nesse caso, sobrevive aquela que paga milhares de pesos em uma clínica privada e morre aquela que sem dinheiro, recorre a qualquer método desesperado ante a falta de acesso.
35 % das mulheres do mundo foram vítimas da violência física ou sexual ao longo de sua vida, ao que devemos acrescentar que a maioria das vítimas não denuncia os abusos. Abusos verbais e físicos, estupros, escravidão sexual – 72% das vítimas de tráfico no mundo são meninas, adolescentes e mulheres -. Assédio sexual, nas ruas, intrafamiliar ou no trabalho – só 1 em cada 144 mulheres que o sofrem se animam a denunciar -, todas são formas de violência machista que tem que ser erradicadas. E machismos exercidos de forma sutil para fazer acreditar a cada instante que as mulheres são inferiores.
No Chile, as mulheres estão na primeira linha das mobilizações enfrentando o governo de Piñera, saqueador e repressor herdeiro do pinochetismo. Sua performance “Um estuprador no seu  caminho” cantada em diferentes idiomas percorreu o mundo, denunciando os assassinatos, as torturas e estupros por parte dos carabineiros e outras forças repressivas. Na Bolívia, as mulheres trabalhadoras e os povos originários resistem ao governo golpista de Jeanine Añez, uma mulher empoderada presidenta pelos militares. Na Colômbia, as trabalhadoras participaram das gigantescas mobilizações e da greve geral, assim como na França e Hong Kong.
No México, as mulheres estão encabeçando lutas emblemáticas como a greve contra as demissões na SutNotimex (Agência de Noticias do Estado Mexicano), que enfrenta  Sanjuana Martínez, a diretora designada pelo presidente López Obrador. Ou as greves protagonizadas pelas operárias e operários das montadoras de Matamoros e da fronteira Norte e dirigidas por líderes mulheres.
Destaca-se o exemplo que hoje nos dão as bilheteiras do STC – Metrô da Cidade do México, que superando a opressão, o temor e a submissão de longas décadas, sentem a urgente necessidade de parar seu trabalho este 9 de Março, para expressar suas reivindicações: desigualdade salarial, as insuportáveis condições de trabalho que custaram vidas e sequelas em sua saúde e a atual ameaça aos seus postos de trabalho pelos planos de privatização.
Dia Internacional de luta das mulheres trabalhadoras
Este 8 e 9 de Março temos a oportunidade de retomar o caráter de classe, socialista e internacional que a luta das mulheres trabalhadoras tem. Assim surgiu na história, como o 1° de Maio, com greves e mobilizações operárias. Unir forças sem fronteiras para lutar por nossas reivindicações junto aos nossos companheiros trabalhadores e avançar para a superação do sistema capitalista.
Porque esta não é uma luta de mulheres contra homens. É uma luta contra a opressão das mulheres. Opressão que é usada para dividir a classe trabalhadora e favorecer maior exploração de suas mulheres e homens. É preciso combater o machismo para UNIR a nossa classe. O “separatismo” não serve à luta contra a opressão das mulheres. Porque o combate ao machismo é para unir trabalhadoras e trabalhadores em uma luta comum contra essa e todas as opressões.
Não nos engana que Margarita Zavala ou Hillary Clinton ostentem o “feminismo”, e nem que o chanceler Marcelo Ebrard diga que a SRE é “feminista”. Na hora de impor a exploração com demissões, baixos salários e violações aos direitos humanos e trabalhistas, não só os homens são portadores do “virus” do machismo, mas também há “portadoras empoderadas” como Sanjuana Martínez e Olga Sánchez Cordero que perseguem e castigam as mulheres a serviço do capital.
No México hoje, que ninguém se engane nem pretenda nos enganar, o movimento de 8 e 9 de Março surge de muito abaixo, das profundas entranhas das mulheres exploradas. Não tem donas nem donos. Não há mãos negras, nem “fifís” (grã finos), nem direitas conservadoras nem golpistas que possam se apropriar deste clamor pela vida, pela integridade física ou psicológica, e também, pela igualdade de direitos das mulheres. Os que tentam desacreditar esta luta e isolá-la guiam-se pela sua própria ignorância ou pelo interesse de perpetuar a opressão e a exploração.
Também não nos enganam os oportunistas que ao ver o tsunami da luta das mulheres, se reacomodam e querem aparecer concedendo a dádiva de não sancionar as grevistas. A paralisação do dia 9 é um direito que foi conquistado com a luta, e não uma permissão de bons patrões e governos.
Para que nossas reivindicações sejam ouvidas, é preciso exigir que todos os sindicatos e centrais sindicais que se dizem  defensoras das trabalhadoras e trabalhadores convoquem uma paralisação ativa do conjunto dos trabalhadores para 9 de Março, e que esses dirigentes sindicais não fiquem esperando a indulgência e as licenças das patronais, dos governos locais ou do governo federal.
A partir de agora, precisamos nos organizar para participar e exigir das direções a partir das bases, nos locais de trabalho, o impulso à paralisação do dia 9, que todas e todos necessitamos. E em cada lugar de estudo decidir em assembleia a participação e o pronunciamento dos centros e federações estudantis.
CORRENTE SOCIALISTA DOS TRABALHADORES – CST
Tradução: Lilian Enck

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