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quinta-feira, março 28, 2024

Oito anos sem Carolina Garzón: carta aberta ao Presidente Moreno e Duque

“Carolina, eu te procuro, te ligo, te reivindico, te espero…
ainda que às vezes parece que o medo e o cansaço vão vencer a batalha,
não me deixo derrubar, não me resigno, não te esqueço…
Não acredite que me venceram.
Farei de tudo para saber de você, para levá-la para casa. “

Por: Alix Mery Ardila – Mãe de Carolina Garzón
Faz oito anos, 2920 dias, que em nossa família começou esse pesadelo… Num sábado, 28 de abril de 2012, Carolina Garzón desapareceu na cidade de Quito – Equador e começou para nossa família essa dolorosa, incansável e inabalável luta. Caro foi vista pela última vez quando entrou no banheiro de sua casa no setor de Paluco, nordeste da capital.
Durante esses oito anos ouvimos várias promessas; conhecemos centenas de funcionários e escritórios; foram feitas várias entrevistas; foram feitos plantões na Plaza Grande da cidade de Quito; caminhamos centenas de vezes pelas mesmas ruas, pelos mesmos parques; conseguimos ser recebidos pelo presidente, ministros e promotores…. Conhecemos a enorme solidariedade de famílias, de vítimas, amigos e artistas, comunicadores sociais, de outras organizações e podemos ter certeza de seu apoio honesto e permanente.
Mas não é suficiente, porque se passaram 2920 dias sem ela e esses dias nos permitiram confirmar os enormes vazios e omissões que têm os Estados equatoriano e colombiano na busca e investigação deste caso; durante esses oito anos foi a família que teve que insistir ao Ministério Público, aos Estados sobre o cumprimento de suas obrigações e fornecer permanentemente elementos para que sejam devidamente valorizados e processados ​​pela autoridade… Oito anos depois não existe uma hipótese que se sustente e que possa explicar o que aconteceu, quem a fez desaparecer, onde está Carolina Garzón?
A família Garzón Ardila emite esta carta para uma vez mais denunciar esses oito anos de impunidade e silêncio por parte dos Estados, para reconhecer o progresso alcançado graças à luta de familiares, vítimas, organizações de direitos humanos e escuta recebida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos; para agradecer a solidariedade de todas as pessoas e organizações que estiveram próximas durante esses oito anos; para dizer a todos que continuamos; porque termos o direito de saber a verdade, por mais difícil que possa ser, temos o direito de saber o que aconteceu com Carolina, quem a levou, onde está… e encontrá-la… Que os responsáveis ​​sejam julgados e que se possa levá-la de volta à Colômbia.
Mais de 89 pastas, mais de 100 diligências e Carolina não está!
É que, no final das contas, 100, 500 ou 1000 diligências disparando em todas as direções não garantem o direito à verdade, não garantem que se possa saber onde está, quem a levou … 2920 dias sem Carolina.
Por que quem tinha a obrigação de buscar não conduziu investigações rápidas, diligentes, sérias, exaustivas, imparciais e independentes? O que era necessário para esclarecer os fatos e as circunstâncias que os cercavam?  Sete promotores e mais de cinco agentes policiais passaram pelo caso de Carolina e até agora não têm uma hipótese clara sobre seu paradeiro e nem identificaram os responsáveis ​​por seu desaparecimento.

O artesanato acompanhava todas as atividades de Carolina Garzón (2011). Com sua renda podia viajar e contribuir em casa. Foto: arquivo familiar

Em memória de Carolina, por ela, uma vez mais escrevemos essa carta solicitando uma resposta real aos casos de desaparecimento; que os processos de investigação sejam estruturados; que os procedimentos sejam aprimorados para que o tratamento com as vítimas seja reparador e não signifique um dano pior; portanto, esperamos que os Estados equatoriano e colombiano deem respostas concretas a nossos pedidos.
Agora o caso está perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) devido à falta de garantias judiciais e à negligência do Estado, o que levou ao fato de que, após esses oito anos, não temos mais nenhum indício do paradeiro de Carolina. Essas são obrigações internacionais às quais o Estado equatoriano deve responder.
Não há dor maior do que a que sentimos agora, mas também não há força maior, luta mais digna do que a que estamos realizando, tentaram tirar nossa dignidade, a esperança, a família e diariamente continuamos em pé, procuramos respostas, exigimos verdade e justiça…
Oito anos depois, sabemos que é uma conquista desta luta que o nome de Carolina Garzón continue vigente; graças a muitas organizações e muitas pessoas no mundo, o nome de Carolina é visível, bem como o rosto das milhares de pessoas desaparecidas no Equador e das quais também não sabemos nada. De maneira persistente e resistente, continuaremos exigindo verdade e justiça do Estado equatoriano e colombiano.
Atenciosamente:
Família Garzón Ardila Pazos
Bogotá – Colômbia, 28 de abril de 2020
* A carta foi enviada hoje, 28 de abril de 2020, ao presidente do Equador, Lenín Moreno; e ao Presidente da Colômbia, Iván Duque, com cópia para Diana Salazar, procuradora geral do Estado; Maria Paula Romo, Ministra do Governo; Freddy Carrión, defensor público; e Jorge Flores, promotor do caso. Se você, leitor ou leitora, deseja se juntar a esta cadeia de e-mais, pode enviar aos seguintes e-mails: ivanduque@presidencia.gov.co claudia.blum@cancilleria.gov.co pesantezj@presidencia.gob.ec mariapaula.romo@ministeriodegobierno.gob.ec salazarmd@fiscalia.gob.ec floresj@fiscalia.gob.ec fcarrion@dpe.gob.ec
Tradução: Tae Amaru

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