qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Igreja: a favor da vida?

Está chegando o dia em que os deputados vão votar a favor ou contra a legalização do aborto.

As igrejas, especialmente a Católica, não deixaram de dar sua opinião em diferentes âmbitos.

Por: Nora Moscoso

O Cardeal Mario Poli, arcebispo de Buenos Aires, na Tedeum de 25 de Maio, citou o Papa Francisco: “A defesa do nascituro inocente deve ser precisa, firme e apaixonada, porque está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada”. “Que vivam os dois. Para Deus não há excluídos“, acrescentou o cardeal, em nítida referência ao debate sobre a legalização do aborto. (Clarín 25/05/18)

A Igreja diz estar “a favor da vida”. Que vida? “a dos inocentes?” … estes inocentes, por exemplo, que quando chegam aos 10 anos ou 11 anos de idade são vítimas de abusos sexuais por padres da própria Igreja Católica que diz se preocupar com eles?

Padres abusadores se opõem ao aborto

É tão hipócrita essa preocupação, que o próprio Papa defendeu primeiro, com todo rigor, aos padres e bispos que tinham encoberto a seus pares abusadores no Chile, durante a sua visita à região. E depois teve que voltar atrás pela pressão de membros dos familiares que não se conformavam com as declarações de Francisco de que “não havia provas”. Eles continuaram insistindo e se mobilizando até que o forçaram a pedir a renúncia dos 34 bispos chilenos que estiveram em silêncio diante desses aviltantes abusos.

Nosso país, sem dúvida, não escapa dessa situação. A começar pelo padre Grassi até os mais recentes casos de Paraná: “Três padres já enfrentaram à justiça, o último deles na última segunda-feira, quando um tribunal ordenou a prisão por 25 anos de Justo José Ilarraz, culpado de abuso de sete seminaristas menores de idade que estavam sob seus cuidados. No ano passado, foi o padre colombiano Juan Escobar Gaviria, também condenado a 25 anos por abusar de quatro coroinhas. E o padre Marcelino Moya está aguardando julgamento, por dois casos”. (El País, 22/05/18).

A Igreja é uma instituição internacional e estas situações vêm ocorrendo faz muito tempo, mas pelos medos, pressões e a vergonha das vítimas há apenas alguns anos começaram a aparecer as denúncias nos EUA, Irlanda, Austrália, Colômbia, Equador e poderia continuar uma longa lista. À medida que esses casos são conhecidos, dá força e coragem aos outros para denunciar, mas há muitos que ainda não se sentem encorajados.

Separação da Igreja e o Estado

É macabro escutar o bispo da catedral pedindo pelos “inocentes”, segundo ele, vítimas da legalização do aborto, mas mantendo silêncio diante dos padres abusadores e estupradores. A Igreja tem uma incrível impunidade. Os governos não apenas a subsidiam com cifras milionárias enquanto fazem ajustes para os trabalhadores e os pobres, constantemente atacando suas conquistas e suas próprias vidas. Também a encobrem, ainda que mantenha em suas filas perversos ou genocidas e cúmplices da ditadura.

As trabalhadoras e trabalhadores devem tomar partido nisso. Para além das crenças pessoais, o debate sobre o aborto legal deve ser feito sem a interferência da Igreja Católica ou de outras igrejas. É antidemocrático que os dogmas religiosos prevaleçam sobre questões de decisão íntima. Nosso direito de escolher o momento da maternidade não pode ser governado por uma instituição que protege estupradores e abusadores. E que, além disso, ao se opor à legalização, longe de se preocupar com a vida, defende os interesses de grandes corporações farmacêuticas e clínicas de aborto que lucram com a clandestinidade.

É necessário lutar pela separação da Igreja do Estado e para que todos os padres pedófilos e todos os que os encobrem sejam presos.

É necessário que continuemos nas ruas pelo direito ao aborto legal seguro e gratuito. Chega de mulheres pobres presas ou mortas por abortos clandestinos e inseguros.

Tradução: Lena Souza

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