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quinta-feira, abril 18, 2024

Honduras: Guapinol Resiste!

O extrativismo dos recursos naturais é um dos principais eixos da economia do país e as principais áreas são as comunidades indígenas e negras que têm que enfrentar com toda a ferocidade das empresas que buscam aumentar seus lucros em detrimento da destruição do meio ambiente. E, se isso não bastasse, elas também têm que enfrentar o governo que promove a construção de Cidades-Modelo ou ZEDE, que expulsariam de seus territórios os povos que viveram uma vida inteira nessas áreas.

Por: PST Honduras

Amapala e o Vale do Aguán estão na mira desses projetos. O mesmo acontece na comunidade de Barra Vieja, em Tela, onde a OFRANEH travou uma luta incansável para não ser despojado de suas terras e que estas não sejam cedidas para a construção de um mega empreendimento turístico que só vai beneficiar os mesmos de sempre.

Após o golpe de Estado em 2009 e o relançamento do neoliberalismo em Honduras se iniciou um vendaval de concessões para a exploração dos recursos naturais. Durante o governo de Lobo Sosa em 2013 foi dada a concessão de mineração para a empresa “Mineração Los Pinares” propriedade de Lenir Perez, genro do falecido proprietário Miguel Facussé. Por meio de negócios no Congresso Nacional, presidido por JOH, foram concedidos 217.34 hectares do Parque Nacional  Botaderos Carlos Escalera Mejía, sendo esta uma área protegida pelo decreto 127-2012.

Uma enorme avalanche de concessões de mineração ameaçam os recursos hídricos e o solo de Honduras, cerca de 950 concessões em todo o país ameaçam rios e terra. Apenas em Tocoa, Colón existem 59 concessões, das quais 34 estão concentrados na parte alta da região, a empresa “Los Pinares” tem permissão para extrair pedras de óxido de zinco, que é um dos piores poluentes para o rio Guapinol, que é a principal fonte de água de mais de 10 comunidades.

Repressão em Guapinol

Os congressistas, fazendo uso de seus poderes, reformaram o decreto e reduziram a zona protegida, para entregar a concessão à companhia de Pérez e Ana Facussé. A mineradora não só recebe o apoio do Congresso, mas em Tocoa são protegidos pelo próprio prefeito, Adán Funes, membro do LIBRE – Libertad y Refundación –  e que tem a aprovação de Mel (Manuel Zelaya). No Libre, eles se protegem dizendo que este não é assunto do prefeito, que é questão do Congresso. E todos concordam em dar um enorme apoio ao Sr. Funes, alegando que apenas um tribunal de honra – inexistente – em LIBRE pode julgar seu parceiro. Esquecendo que quem o colocou lá foi a população para a qual ele agora vira as costas.

A comunidade de Guapinol sofre agora a devastação das minerações e dos aparatos repressivos do Estado, um aumento da militarização na zona coloca o clima novamente tenso em uma área que de 2008 até hoje deixou mais de 128 mortos, entre camponeses , seguranças particulares e elementos policiais. O governo e os empresários querem tomar posse do rio de qualquer forma, então eles têm que continuar massacrando ou aprisionando os defensores do mesmo.

Desde agosto de 2018 os ânimos voltaram a esquentar, quando a empresa começou a trabalhar para abrir o caminho e iniciar a exploração da terra, mas a comunidade de Guapinol instalou um acampamento demonstrando que estão dispostos a defender o rio com todas as suas forças. O acampamento completa agora 6 meses, apesar do constante assédio dos militares e trabalhadores da mineradora. Em 7 de setembro de 2018, um jovem que estava no acampamento foi ferido por uma arma de fogo, mas a tensão aumentou em 28 de outubro, quando elementos da Polícia Nacional e do Exército tentaram realizar um despejo violento, resultando em um confronto entre moradores e tropas em que dois militares foram mortos e mais um foi ferido.

Defensores do rio também são perseguidos pelo Estado. Em 24 de fevereiro deste ano, 12 dos companheiros foram aos tribunais de La Ceiba voluntariamente, mas o juiz Carlos Irías de León, sem dar detalhes, ordenou a prisão preventiva e solicitou que fossem transferidos para Tegucigalpa onde a audiência seria realizada, além de advertir que havia processos contra outras 32 pessoas. Os companheiros foram acusados de: incêndio, usurpação, roubo agravado, injusta privação de liberdade e associação ilícita. Como não é de admirar, o processo foi manipulado, os advogados de defesa informaram que o juiz solicitou permissão do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Rolando Argueta, para resolver os recursos apresentados no julgamento, todos a favor da mineradora.

Sem dizer que eles estavam sendo julgados pelos Tribunais de Jurisdição Nacional, que foram criados para julgar casos de crime organizado (extorsão, tráfico de drogas e terrorismo).

A repressão da ditadura só diminui à medida que os povos defensores dos territórios e seus recursos a enfrenta, Guapinol nos dá uma bela lição de como fazê-lo. Mas a organização dos camponeses, dos trabalhadores e do movimento social é urgentemente necessária para desfazer toda a política extrativista de JOH, para expulsar as empresas de mineração, propor uma reforma agrária para a distribuição da terra aos camponeses, pela reivindicação dos direitos democráticos, a suspensão da criminalização e a liberdade definitiva dos presos políticos. Urge um espaço como a Coordenadoria Nacional de Resistência Popular, de classe, combativa e democrática.

“O capitalismo é contrário à vida”, Berta Cáceres

Não vão roubar as terras de Guapinol!

Tradução: Tae Amaru

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