qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Existem muitas razões para não confiar no próximo governo do PSOE-UP

Governe quem governar, é preciso defender os direitos!

O PSOE e a UP (Unidos Podemos) chegaram a um pré-acordo para estabelecer um “governo de coalizão progressista”. Após o fiasco eleitoral de Sanchez, a queda da UP e o ataque da ultradireita Vox, o que era “impossível” em seis meses se tornou realidade em 36 horas.

Por: Corriente Roja

Será preciso aguardar alguns dias para ver se será obtido o apoio suficiente para a posse, para conhecer o programa de governo e quem o formará. Por enquanto, temos a base do pré-acordo, que já é muito eloquente; e também sabemos que Iglesias ocupará uma “vice-presidência social”, juntamente com Carmen Calvo (vice-presidência política) e Nadia Calviño, a delegada da UE (União Europeia) no governo, como vice-presidente econômica.

Existem companheiros e companheiras lutadores que respiraram aliviados com o pré-acordo alcançado. Eles acham que um governo do PSOE-UP servirá como um freio à extrema-direita e confiam que fará concessões sociais ao povo trabalhador e abrirá caminhos para uma solução democrática ao problema catalão. Eles ficarão profundamente decepcionados.

Sem dúvida, a UE e os grandes empresários do Ibex 35 prefeririam um governo PSOE-PP, mas eles se adaptaram rapidamente às circunstâncias. O jornal El País anunciou que “Bruxelas acolhe com alívio o desbloqueio político na Espanha” (El País, 12/11/19). A grande patronal catalã se pronunciou em termos semelhantes: “O pré-acordo do governo transmite uma mensagem de responsabilidade das forças políticas”.

E, de fato, não estamos diante de uma radicalização do PSOE ou de um governo que deu um giro à esquerda. Pelo contrário, estamos diante da entrega da UP nos braços do PSOE. A UP admite abertamente que a direção política e econômica do governo corresponde ao PSOE e a assume com “lealdade e solidariedade governamental”. A UP se limitará, supervisionada por Nadia Calviño, a gerenciar “ministérios sociais”. Este é o preço da cobiçada vice-presidência de Iglesias e de alguns postos ministeriais.

Sánchez e Iglesias se vangloriam no pré-acordo de que seu futuro governo será “uma referência para a proteção dos direitos sociais na Europa”, mas a UE não está preocupada com as frases grandiloquentes: “a frente econômica tampouco parece se preocupar muito em Bruxelas, depois de um princípio de acordo do governo de coalizão que, expressamente, sujeite as futuras medidas sociais ‘aos acordos de responsabilidade tributária da Espanha com a Europa’”.

Submissão à União Europeia

A submissão à UE é um dos pontos principais do acordo de coalizão: tudo será feito sob os ditames da UE, da Europa das multinacionais, bancos e os fundos de investimento. Para a UE, “a continuidade de Nadia Calviño como Ministra da Economia seria a maior garantia de que a Espanha continuará na mesma trajetória orçamentária que tem seguido até agora” (El País).

É muito significativo que, nesta linha, o pré-acordo não mencione a revogação da reforma trabalhista de Rajoy (sem falar na de Zapatero), algo que Nadia Calviño já havia descartado meses atrás. De fato, o PSOE comprometeu-se recentemente com a UE a ir mais longe, implantando a chamada “mochila austríaca”.

Certamente, o pré-acordo mantém intacto o artigo 135 da Constituição, que o PSOE e o PP votaram e que define como “prioridade absoluta” do Estado pagar os serviços da Dívida Pública a bancos e fundos de investimento, acima de qualquer prioridade social.

O pré-acordo engana ao falar de sua “proteção” das aposentadorias. Escondendo-se atrás da “reavaliação de acordo com o custo de vida” (muitas vezes prometido por Sánchez, mas nunca consagrado em lei), eles estão de fato apresentando uma nova contrarreforma em nome da “sustentabilidade”.

Juntos contra Catalunha

O outro ponto-chave do acordo governamental é a Catalunha. O preço da vice-presidência é a venda da Catalunha. Iglesias já havia admitido que, se entrasse em um governo de coalizão, eles aceitariam lealmente que Sanchez impusesse o artigo 155. Antes da campanha eleitoral, também renunciou ao referendo acordado. Agora, no pré-acordo, assumem diretamente o ponto de vista do PSOE. Eles não vão questionar mais as ameaças de Sánchez e Marlaska e sua repressão, nem a recusa retumbante do PSOE em reconhecer o direito à autodeterminação da Catalunha. Agora, também para a UP, o problema é “a convivência na Catalunha”.

Mas não será fácil porque o povo catalão não vai desistir, apesar de muitos de seus dirigentes políticos. Isso se demonstrou com a resposta à decisão brutal do Supremo e até nas eleições, em que o independentismo alcançou seus melhores resultados em uma eleição geral.

Assim não se luta contra a extrema-direita

O grande argumento da UP para justificar a coalizão com o PSOE é a necessidade de coibir a extrema-direita. Mas se o Vox chegou onde está não é apenas porque o PP e C’s deram carta de cidadania. O PSOE contribuiu decisivamente para entrar na competição com PP e C’s para ver quem era mais brutal com a Catalunha.

Nesta corrida, só podia vencer o Vox, com sua exigência de prisão a Torra, de tornar os partidos independentistas ilegais, estado de exceção, eliminação radical da autonomia catalã e fim do “estado das autonomias”. O Vox fez uma campanha xenófoba e racista contra os imigrantes sem sofrer críticas firmes e profundas por parte do PSOE ou da UP, que se limitaram a agitar o medo da extrema-direita.

Abascal obteve votos principalmente entre os franquistas e os senhores dos bairros ricos, mas também entre os setores socialmente mais castigados. Esses setores foram contaminados pelo discurso venenoso que culpa os imigrantes pela ruína social causada pelo grande capital e seus governos.

A Unidos Podemos, quando aparecia como uma força antissistema, era um freio à extrema-direita. Sua total integração no “regime de 78”, convertido em força auxiliar do PSOE, só pôde facilitar o fortalecimento de Vox que, a menos que a esquerda levante uma alternativa que entre em confronto com o governo, aparecerá como a única força política de oposição ao governo da coalizão.

Governe quem governar, é preciso defender os direitos

O governo do PSOE-UP vem com a intenção de estabilizar a situação política a serviço da Monarquia e governar a desaceleração econômica e a provável recessão que se avizinha, de acordo com os ditames da UE e do Ibex 35. Em troca, aprovarão algumas medidas parciais para tentar justificar o injustificável e farão muita política de fachada.

Mas, com a Catalunha sublevada, a instabilidade se aprofundará e, uma vez decorrido algum tempo, a mobilização social será retomada, desta vez contra o governo do PSOE-UP, apesar da cumplicidade da burocracia do CCOO-UGT e de suas tentativas de instrumentalizar organizações unitárias como a Coordenadoria de Defesa do Sistema Público de Aposentadorias.

Como dissemos no início, há companheiros e companheiras lutadores/as que olham com confiança, mesmo que seja relativa, para o novo governo de coalizão. A vida vai dar e tirar razões, mas todos nós, juntos, queremos parar os pés de Vox; revogar reformas trabalhistas e acabar com a precariedade; que as aposentadorias dependam dos Orçamentos e que nenhuma esteja abaixo de 1.084 euros; que os prisioneiros políticos catalães sejam anistiados, que se acabe com a repressão e que a Catalunha possa decidir livremente seu futuro; os CIEs devem ser fechados e os direitos dos imigrantes devem ser reconhecidos; que haja recursos reais e não apenas conversa para combater a violência machista e que o aparato judicial seja depurado. Todos, juntos, continuaremos a lutar por essas reivindicações, governe quem governar.

Perante a situação que se avizinha, é necessário:

  • ampliar e fortalecer a solidariedade com o povo da Catalunha
  • denunciar sistematicamente e fazer frente à extrema-direita do Vox
  • preparar-se para retomar a luta massiva contra as agressões que virão do novo governo e organizar a oposição de esquerda.

Este é o compromisso do Corriente Roja, em sua luta para construir uma força revolucionária, à qual convidamos você a trabalhar junto. Chile e Equador nos mostram o caminho!

Tradução: Nea Vieira

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