qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Desmontando os mitos sobre a imigração

A desinformação existente sobre as pessoas estrangeiras

Se você escreve “os imigrantes…” no google, as primeiras opções de busca que saem, isto é, as mais procuradas pelos usuários, são “… nos tiram emprego”, “…nos tiram as ajudas” e “…colapsam a saúde”. Isto é somente um reflexo virtual do racismo que escutamos dia a dia em conversas em casa, no trabalho ou na sala de aula. Queremos escrever este artigo para demonstrar que estes mitos são mentira e explicar sua origem.

Por: Daniel Aurel Neamtu e Mai Madhun

Há uma invasão migrante?

As pesquisas mostram que a população avalia a taxa de imigração ao redor de 21% do total da demografia espanhola. Não é de estranhar quando “políticos” como Pablo Casado fazem constatações categóricas como esta:

“Não é sustentável um Estado de bem estar poder absorver os milhões de africanos que querem vir à Europa”

Milhões?

Segundo (…) Europa Press entraram em toda a Europa 59.000 imigrantes pela fronteira sul, a maioria fugindo da guerra. Para a população da União Europeia, um continente com 508 milhões de pessoas, é uma cifra ridícula: só um imigrante para cada 10.000 europeus.

O número de estrangeiros em 2017 segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística) é de 4.464.997, o que equivale a 9,59% sobre a população total,  quase três pontos a menos que em 2011; e, obviamente, não é mencionado que 4 de cada 10 imigrantes pertencem à União Europeia.

Nos tiram o emprego?

Uma pesquisa realizada com mais de 7.000 entrevistados pela “Oficina de Emprego” reflete que 46,83% pensam que os estrangeiros estão “tirando o emprego” dos nativos, 41,89% mantém-se neutros a esta crença e somente 11,28% dos pesquisados veem como positiva a imigração no âmbito laboral.

Não é uma casualidade que o falso mito de que os migrantes nos tiram o emprego apareça quando a classe trabalhadora espanhola e migrante é golpeada pelos governos PSOE (com a colaboração de CCOO e UGT) com duas reformas trabalhistas que normalizaram a demissão coletiva, a precariedade laboral e o elevadíssimo desemprego para pagar a dívida dos banqueiros e especuladores. Isto é, foi o Governo, as empresas e a burocracia sindical com sua política de “assinar tudo” que nos tiraram o emprego.

Preferem que culpemos nosso companheiro de trabalho migrante para assim evitar uma resposta das massas contra os cortes de direitos e a precariedade laboral.

Porque em épocas onde havia falta de trabalhadores migrantes no país para gerar mais riqueza e em geral “havia emprego”, essa retórica não estava tão difundida: segundo dados da Oficina Econômica da Presidência do Governo por um informe de La Caixa, 30% do crescimento do PIB entre meados dos anos noventa e a primeira década deste século foi consequência do assentamento de imigrantes. Um efeito positivo que se elevou até 50% no período 2000-2005.

E as reformas trabalhistas e cortes, combinados com o racismo que as empresas exercem para economizar custos, também os golpeou: os imigrantes recebem em média 35% menos que os trabalhadores espanhóis, das mais de 18,5 milhões de pessoas ativas no país, somente 1 em cada 10, é estrangeira. A maioria não consegue validar os estudos superiores de seus países de procedência, razão pela qual tem menos acesso a trabalhos com melhores condições.

Além disso, em muitos casos reproduzem a força de trabalho ou exercem ofícios de cuidado para que outros possam ir a seus postos, não contam com uma rede de apoio e por último, sofrem racismo pelo seu aspecto ou nome nas entrevistas, razão pela qual têm menos possibilidades para acessar o mercado de trabalho. Os trabalhadores migrantes não nos tiram o emprego, são os mais explorados e precarizados.

Além disso, curiosamente atribui-se o desequilíbrio do emprego às classes trabalhadoras estrangeiras, esquecendo-se que os empresários e as multinacionais estrangeiras que chegaram à Espanha como Deutsche Bank, MC Donalds, Coca Cola, UPS, Barclays e que têm sido cúmplices dos que realmente criaram os desequilíbrios de empregos e salariais, limitaram os direitos dos trabalhadores, participaram na criação de empregos precários corrupções institucionais e um longo etc.

Ficam com as ajudas sociais e abusam da saúde pública?

Com a chegada de estrangeiros pensa-se que pela sua condição de vulnerabilidade vão precisar de mais ajudas ou que como “vêm de países menos desenvolvidos” vão precisar de mais atenção médica.

A crise obrigou muitas pessoas a pedir as ajudas econômicas que podem oferecer as comunidades autônomas, o estado ou organismos privados como as ONG. Mas estas ajudas que são um direito e não se regem pela nacionalidade dos indivíduos, são ajudas econômicas acessíveis para qualquer pessoa que esteja em uma situação que as instituições enquadrem dentro do limite de pobreza estabelecido.

Os dados que o Sistema Integrado de Usuários de Serviços Sociais oferece mostram que os estrangeiros que pedem esses serviços de ajudas econômicas não passam de 12,5% e os que recebem as pensões de trabalho da Seguridade Social não atingem sequer 1% pelo simples fato de que a maioria dos estrangeiros são jovens e adultos em idade de trabalhar. Portanto, 87,5% das ajudas econômicas de emergência social e 99% das pensões, quem recebe é a população espanhola.

O mesmo acontece no âmbito da saúde, as Pesquisas Nacionais de Saúde confirmam que as pessoas que vão aos centros médicos em sua maioria são espanhóis, já que as pessoas procedentes de outros países migram jovens, com melhor estado de saúde e com menos necessidade de atenção médica constante.
Também é importante assinalar, que tanto as pessoas nativas como as estrangeiras têm o mesmo direito à saúde, porque contribuem igualmente à Fazenda e com isso financiam os serviços médicos.

Combater o racismo é defender nossos direitos juntos.

O racismo, como o machismo, a transfobia e a homofobia são impulsionados devido ao interesse de desviar o olhar das políticas de austeridade que estão sendo aplicadas pelos governos e assim encobrir a brutal guerra contra o conjunto dos trabalhadores em todo o mundo, culpabilizando os mais oprimidos.

A resposta aos ataques dos governos, que os partidos socialdemocratas que deveriam representar “os debaixo” propõem, como Podemos, são eleitorais, de negociação, pacto ou subordinação aos mesmos governos que nos exploram, oprimem e realizam expulsão sumária na fronteira, (como o PSOE) em vez de chamar manifestações, organizar e lutar contra eles.

Esta ambiguidade eleitoralista é aproveitada por personagens como Trump ou Bolsonaro para promover políticas anti-imigrantes e assim satisfazer as empresas que sabem que com eles no governo, a violência não será exercida através de greves e sim através de agressões racistas e assim poder continuar retirando direitos e precarizando, e por outro lado, manter a classe operária dividida em nativa e estrangeira e assim impossibilitar uma organização mais forte e consciente.

Por isso, hoje mais que nunca chamamos a combater o racismo, não somente por principio, mas também por necessidade. Se lutarmos juntos nos postos de trabalho e nos institutos ou universidades, poderemos melhorar as condições do conjunto dos trabalhadores e estudantes com mais força e resistência.

Se sairmos juntos e juntas às ruas será mais difícil que possam tirar nossos direitos e no oprimir ainda mais.

Se combatermos o racismo junto ao nosso companheiro ou companheira que o estão sofrendo, já estamos construindo um movimento antirracista e de classe.

Muitos de nós, já somos ativistas migrantes e estamos dispostos a lutar contra o Governo da exploração e das fronteiras.

Tradução: Lilian Enck

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