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sexta-feira, março 29, 2024

Há 33 anos da morte de Nahuel Moreno

O internacionalismo como lema da vida
A segunda metade do século XX foi um teste decisivo para revolucionários em todo o mundo. Leon Trotsky, que tinha dirigido a Revolução Russa em 1917 que colocou os trabalhadores no poder, foi assassinado pela burocracia stalinista, que usurpou o poder na Rússia e ameaçava as conquistas da revolução.

Por: Leandro Aznar
Processos revolucionários estavam ocorrendo em todo o mundo – começando com o triunfo sobre o nazismo – mas quem estava na vanguarda desses processos era o mesmo aparato stalinista que pôs em xeque a revolução de outubro. Isso causou apenas confusão nas fileiras da Quarta Internacional, uma organização que Trotsky havia fundado em seus últimos anos de vida.
Foi nesses anos que o GOM (Grupo Operário Marxista), uma pequena organização trotskista argentina que tinha sido fundada por Nahuel Moreno, se aproxima das fileiras da Quarta Internacional.
Naquela época, na Argentina, o trotskismo limitava-se a comentar a realidade, fechado em discussões intermináveis ​​no Café Tortoni, longe dos processos reais de luta da classe trabalhadora. O GOM rompeu com isso e foi ao bairro operário Villa Pobladora, aos frigoríficos, aos curtumes. Este foi um grande passo em frente. Mas a vida de Moreno e desse partido mudaria radicalmente com sua entrada na Quarta Internacional.
Considerando que o sistema capitalista, que causa fome e miséria a bilhões em todo o mundo não pode ser derrotado definitivamente dentro dos marcos de qualquer fronteira nacional, toda organização revolucionária, que se afirme como tal, deve fazer parte da construção de uma organização. Internacional Essa máxima marcaria a vida de Moreno.
Os anos se passaram e as capitulações dos líderes do IV às direções stalinistas, reformistas e frente populistas terminaram em crise e dissolução. O revisionismo invadiu as fileiras do trotskismo. Mas Moreno continuou firme na construção de uma ferramenta internacional para a revolução operária e socialista.
Processos revolucionários ocorreriam na Bolívia, Cuba, Angola, Portugal, Nicarágua e muitos outros países. No Peru, a participação em uma insurreição camponesa permitiu a construção de um partido revolucionário. Na Revolução dos Cravos em Portugal, o diálogo iniciado por jovens ativistas com a corrente de Moreno permitiria a construção de um partido no país. Na Revolução Sandinista na Nicarágua, participa uma brigada de apoio internacional impulsionada pela mesma corrente, a Brigada Simon Bolivar. A corrente fundada por Nahuel Moreno se estendia ao calor de sua participação nessas revoluções e processos.
A reconstrução do IV esteve sempre na preocupação de Moreno. Às vezes, acordos programáticos permitiam a aproximação a outras correntes do trotskismo. O apoio à Revolução Cubana reunificou Moreno com a corrente de Ernest Mandel e o SWP dos EUA no Secretariado Unificado. Mas a capitulação deste último às direções castristas, e especificamente à direção sandinista que expulsou a Brigada Simon Bolivar da Nicarágua quando tentava organizar sindicatos, os separou novamente. O mesmo aconteceu com o lambertismo no início dos anos 80. Mas novamente a capitulação dessa corrente, neste caso para a socialdemocracia francesa de Miterrand, frustrou novamente o objetivo.
Em 1982, Nahuel Moreno fundou a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), com a tarefa de reconstruir o IV. Hoje, 38 anos depois, podemos dizer que, sem dificuldades, continuamos com a tarefa que Moreno nos confiou.
O legado de Moreno
Se tivermos que escrever um artigo detalhando todo o legado deixado por nosso mestre, poderíamos escrever um livro. Parágrafos inteiros poderiam ser dedicados à sua relação com a classe operária, como a única classe capaz de liderar a transformação da sociedade.
Ou a suas contribuições teóricas, à Atualização do Programa de Transição, suas incorporações à Teoria da Revolução Permanente de Trotsky, no quadro de uma luta para manter a construção de partidos revolucionários fortemente ancorados na teoria marxista. No entanto, neste artigo, desenvolvemos um aspecto específico: o internacionalismo (isto é, a construção de uma organização revolucionária mundial).
E por quê? Porque estamos passando por momentos de grandes mobilizações e processos revolucionários em todo o mundo, principalmente na América Latina.
Em nossa América do Sul, centenas de milhares enchem as ruas no Equador, na Colômbia. Na Bolívia, a classe operária e o povo são vítimas de um golpe, diante da deserção de sua direção, o MAS de Evo Morales e sua predisposição à luta, que ainda não foi derrotada, buscam um caminho para se expressar. No Chile, o governo Piñera está sendo confrontado há três meses por uma revolução em andamento, que questiona as bases do capitalismo chileno. É um grande momento para redobrar a luta pela construção de uma direção para esse processo, um partido internacional que assuma a tarefa de unificar a luta de toda a classe operária e das massas de nossos países e conquista sua segunda e definitiva independência do imperialismo, e para uma Federação das Repúblicas Socialistas da América Latina.
Dentro de suas possibilidades, os partidos da LIT estão na vanguarda dos confrontos com a repressão. As bandeiras do MIT tremulam na Plaza Italia (agora renomeada Plaza de la Dignidad) sozinha entre milhares de ativistas que lutam contra a polícia, enquanto os jornais da direita destacam essa realidade, apontando para a repressão. Na Colômbia, o PST, o único partido trotskista que se mantém na classe trabalhadora, apesar de décadas de assassinatos e perseguição aos lutadores operários e populares, apresenta suas bandeiras em cada mobilização e na recente e heroica greve geral. Nos diferentes países, nossos partidos tentam participar das mobilizações e processos como Moreno nos ensinou: entrelaçados com nossa classe, na primeira fila da luta, compartilhando perigos, sofrimentos e também alegrias e triunfos.
Contornando as pressões da democracia dos patrões, que por todos os meios tenta frustrar o ascenso revolucionário e canalizá-lo para as armadilhas do regime para sustentar o capitalismo. E enfrentando os desvios de toda a esquerda (incluindo, infelizmente, os setores que reivindicam o trotskismo e a IV internacional), que capitula ao mel da “democracia”, que concede cargos parlamentares e televisão, em troca da domesticação de partidos e o “arquivo” do programa da revolução para os tempos futuros.
Com esse mesmo espírito, nosso PSTU-A pagou com perseguição e prisão as lutas contra Macri e suas reformas, o que levou Daniel Ruiz a 13 meses de prisão, e Sebastián Romero a continuar hoje (com o novo governo) perseguido e com uma ordem de captura internacional .
A realidade é mais internacionalista do que nunca. Fica mais que demonstrada a necessidade de construir uma ferramenta que unifique as lutas dos trabalhadores em todo o mundo, para derrotar esse sistema mundial que aniquila o planeta e condena a humanidade à barbárie. A tarefa de reconstruir a Quarta Internacional está presente e atravessa a realidade da América Latina e do mundo inteiro. E a Liga Internacional dos Trabalhadores, nossa organização mundial, se coloca a serviço dessa tarefa.
Fazemos desse ensinamento que nos deixa a vida de Moreno, uma bandeira, como ele fez. Não é uma tarefa fácil. Não há atalhos. Mas, como ele mesmo disse, “não há nenhum deus que tenha escrito que não podemos vencer”.
Tradução: Lena Souza

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