ter abr 16, 2024
terça-feira, abril 16, 2024

Uruguai | necessitamos medidas urgentes a favor dos trabalhadores ante o coronavírus

A chegada do Covid-19 (cornavírus) no Uruguai remexeu com a vida social, política e econômica, como já vinha fazendo em todo o mundo. A ameaça é grande, e os exemplos do manuseio desastroso da crise da saúde por parte dos governos, com sua máxima expressão na Espanha e na Itália, mostram as consequências nefastas: os mortos são milhares e a pandemia está fora de controle.

Por: IST-Uruguai
Os governos tomam medidas fracas, insuficientes e a atrasadas porque só estão interessados em preservar os lucros de um punhado de poderosos, especulando com a saúde dos trabalhadores, os pobres e setores populares, que são os mais desprotegidos frente à crise sanitária.
A crise sanitária, o governo e os trabalhadores
Em nosso país, no momento de escrever este texto, se reconheciam oficialmente 79 casos confirmados de pessoas infectadas com o coronavírus e mais 392 casos de possíveis infectados. Uruguai se encontra entre os três países mais infectados em relação à quantidade de habitantes na América Latina, consequência da inoperância do governo e todo o regime político.
Ainda que já se soubesse que era iminente a chegada do Covid-19 ao nosso país, as autoridades políticas que saíram e as que entraram, que viviam sua “democrática e exemplar transição” negociando os cargos no Estado e a entrega de mandato, não prepararam nada para mitigar o máximo possível impacto deste vírus que já é uma pandemia declarada.
O novo governo “multicores” ao assumir, seguiu sem se preocupar nem tomar nenhuma medida preventiva a respeito. O governo que agora pede responsabilidade é quem atuou como o principal irresponsável.
Enquanto no mundo se aprofundava a crise da saúde e se esperava a chegada do vírus a cada canto do planeta, o novo governo somente começou com alguns controles no aeroporto no fim da semana passada quando já haviam entrado vários voos da Itália e de toda Europa. Os testes necessários e fundamentais para detectar o vírus também estão sendo aplicados de forma muito lenta e muito abaixo do recomendado (enquanto que em muitos países se fazem 600 testes por dia, no Uruguai se realizam 20, indicou El Observador).  Pelas previsões, o número de casos e infectados muito provavelmente aumente de forma drástica nos próximos dias e, portanto, se aprofunde a problemática.
Dizem que querem evitar o contágio, mas já são muitos os sindicatos (OSE, UTE, Frigoríficos, BPS, trabalhadores terceirizados) que estão denunciando que não garantem nem as mais mínimas condições de salubridade ante a pandemia.
Nos dizem para não sair de nossas casas, mas muitíssimos lugares de trabalho que não são indispensáveis, seguem funcionando pela irresponsabilidade patronal e esses trabalhadores se veem obrigados a ir trabalhar para não perder seus salários.
Além disso, são milhares de trabalhadores informais que vivem o dia a dia ou os que se encontram em situação de rua, e não existe nenhuma resposta para eles.
Já são milhares os pedidos de seguro desemprego, com a consequente perda do salário para os trabalhadores.
Frente a esta situação angustiante para os trabalhadores e setores populares que vem comprometendo sua saúde, seu trabalho, sua renda e sua subsistência, o governo não deu nenhuma resposta, mantendo o aumento das tarifas e não nos dizem nada mais do que… “mantenha a calma” e “sejam responsáveis”… Fácil dizer para os patrões e quem junto com eles não tem nenhum problema com seus altos salários de parlamentares e hierarcas, cuja renda permite acessar as melhores clínicas privadas!
Fica em evidencia a hipocrisia de seu discurso onde nos pedem para estabelecer uma “unidade nacional” e “levar todos para o mesmo lado” ante a crise sanitária. Eles só levam para o lado dos grandes patrões. Os trabalhadores e setores populares somos –como sempre- os que fazemos o maior esforço, os que estamos mais expostos e por tanto os mais afetados.
Fica evidente que não podemos ter nenhuma confiança no manuseio do combate à pandemia por parte do governo “multicores” e de todo o regime político.
Devemos exigir ao governo um programa de emergência que priorize a saúde e a estabilidade econômica dos trabalhadores e setores populares. Em alguns países existiram protestos contra os governos através de panelaços massivos ante a dificuldade para manifestar nas ruas. Temos que buscar todas as ferramentas de protesto possível por nossas reinvindicações.
A IST propõe lutar pelas seguintes medidas de emergência:
Pelo cuidado de nossa saúde:
-Defendemos o direito a ficar em casa, mantendo o salário para todos os trabalhadores. Que esta paralização seja sem demissões nem rebaixamento de salários para os setores não indispensáveis.
-Defendemos a paralização de todas as empresas, com exceção das voltadas à produção de alimentos, remédios e produtos farmacêuticos necessários para enfrentar a crise. Os trabalhadores dessas empresas devem contar com total proteção no trabalho.
-Ante a irresponsabilidade do governo e as patronais: que os trabalhadores escolham seus próprios delegados para fiscalizar a disponibilidade de toda a proteção necessária para desenvolver seu trabalho.
-Que o Estado realize distribuição massiva e gratuita de álcool gel, mascara e sabão, através dos sindicatos e organizações de bairro e populares.
-Incorporação imediata de todos os testes necessários para poder realizar um controle eficiente, massivo e gratuito. Todo o orçamento necessário para os cientistas da Faculdade de Ciências que estão trabalhando nisso. Isso é essencial para o diagnóstico de casos com pouco ou nenhum sintoma que disseminam a doença. Sem isso não se pode saber o número real de infectados e muito menos controlar a doença.
-Expropriação das casas e apartamentos desocupados assim como os hotéis e todos os edifícios necessários para garantir o teto a todas as pessoas sem lar ou que moram em assentamentos. Entrega de alimentos para as famílias que precisam, sempre através de organização sindical e popular, porque a alimentação é fundamental.
-Atenção médica gratuita para toda a população. Que todos os hospitais e clínicas e privadas coloquem de imediato e de maneira gratuita suas instalações e recursos à disposição do Estado. Em caso de negarem, que seja expropriados sem indenização e colocados para funcionar sob o controle de seus trabalhadores.
-Expropriação sem indenização da indústria produtora de remédios para garantir a fabricação e distribuição gratuita de medicamentos para a população.
Para enfrentar a atual incerteza trabalhista e econômica, exigir as seguintes medidas enquanto dure esta crise sanitária e depois avaliar:
-Proibição imediata das demissões
-Os trabalhadores que se encontram no seguro desemprego ou desempregados, devem receber 100% do salário.
-Estatização sob controle dos trabalhadores das empresas que ameaçam com o fechamento, suspendam ou demitam trabalhadores.
-Cancelar o aumento de tarifas de UTE, Antel, e OSE previsto para o primeiro de abril.
-Não cobrar impostos nem alugueis, nem tarifas de UTE, OSE, ANTEL, por 6 meses para os trabalhadores, aposentados, desempregados e pequenos comerciantes, com possibilidade de extensão se a situação não se resolva.
-Rebaixamento e congelamento de preços de todos os produtos de primeira necessidade, tanto de higienes como alimentação.
-Para garantir estas medidas é necessário deixar de pagar a dívida externa e colocar impostos progressivos ao grande capital. A dívida deve estar ao serviço da população e não do pagamento aos credores multimilionários dos bancos e do grande capital.
Tradução: Túlio Rocha

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