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sexta-feira, março 29, 2024

México | Que não se asfixie a economia, mesmo que seja sufocada pela pneumonia

A pandemia de COVID-19 com seu rastro de morte está revelando cada vez mais os lacres do perverso sistema capitalista, dominante no mundo inteiro. E a velocidade de propagação do vírus mostra até que ponto são absurdos os muros e barreiras com que os governantes pretendem segregar e marginalizar os mais vulneráveis, ameaçados pela falta de teto e sustento. E, também, até onde são genocidas os ineptos “sistemas de saúde pública” para cumprir com a função que anuncia seu nome, convertido em uma brincadeira macabra. E até que ponto a saúde, convertida em mercadoria pela privatização, também não ampara aos que pagam grandes somas por seguros de saúde. O reflexo no México dessa degradação social, tem aspectos particulares – ainda que não únicos nem originais – que a faz especialmente repudiável: a hipocrisia do governo ante a insultante desigualdade social.

Por: CST-México
A frase do título expressa o raciocínio irresponsável que veio se repetindo nas mensagens do presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO) e do Subsecretário da Saúde, o Doutor Hugo López-Gatell Ramirez – que também respondeu à a crise pela  Influenza – AH1N1, durante a presidência de Felipe Calderón em 2009. López- Gatell já se tornou notório como porta voz oficial do suposto combate ao Covid-19, em especial, por suas polêmicas afirmações públicas[1].
O Doutor López-Gatell sentenciou: “Não vamos perder de vista que cada país tem uma realidade diferente. 50% da população vive em condições de pobreza, isso significa que a metade da população vive a cada dia”… “famílias inteiras podem se quebrar se tomarmos medidas extremas”. E adicionou: “Se asfixiamos a economia do país podem ter consequências devastadoras, mais que a epidemia de coronavírus.” É realmente estranho e paradoxal que o responsável direto pela saúde e pelo combate à pandemia faça declarações apocalípticas sobre a economia do país e os perigos de uma recessão – um questão que deveria ser responsabilidade do Secretario da Fazenda – para justificar que não se deve declarara uma quarentena com a suspensão de atividades.
Magnata banqueiro saiu em pessoa no palanque público
A estranheza pelos prognósticos sócio- econômicos de López-Gattel durou pouco. Foi até ter essa semana o testemunho direto e explicito de Ricardo Salinas Pliego, um dos autores intelectuais, que elaboram essas expressões “tranquilizadoras” de AMLO e seus secretários, que chamaram a “não entrar em pânico” e ir comer em restaurantes e hotéis para não danar a economia. Esse multimilionário magnata e presidente do Grupo Salinas é dono majoritário do Banco Azteca (através do qual fluem os subsídios oficiais a grupos sociais vulneráveis), da TV Azteca, Italika e da corrente Elektra de vendas de eletrodomésticos e veículos de quase todo país, entre outras numerosas empresas.
Salinas Pliego é membro do Conselho de Assessores Empresários do atual presidente. Diga-se de passagem, com esses dados fica em evidencia a absoluta falsidade da “separação do poder econômico e poder político”, que foi um dos famosos “postulados eleitorais” de AMLO.
Salinas Pliego saiu furioso ao encontro das medidas obrigatórias ao colocar o México na Fase 2 da epidemia, adotadas a partir de 26 de março pela expansão acelerada do coronavírus. Segundo essas, se recomenda o distanciamento social, fechar comércios não essenciais e evitar ir aos locais de trabalho lotados. Afirmou que com essas ações “logo o México morrerá de fome” e pediu as pessoas para não entrarem em pânico e irem trabalhar.  Durante essa conferência assinalou que “a vida tem que continuar” e que o país não pode ser dar ao luxo de ter todos os seus lugares vazios por um “vírus que não é de alta letalidade”…
“Da forma como vão as coisas, parece que não vamos morrer de coronavírus, mas sim de fome. No México, a imensa maioria da população não vive de um salário, de suas economias ou do governo, a maioria vivem ao dia. Se essa população deixa de gerar renda hoje, amanha não tem o que comer, como também não terão o que comer se paralisam todas as atividades. Isso rapidamente desatará a delinquência, o roubo e o caos porque o estomago não sabe esperar.> » (https://www.mediotiempo.com/otros-mundos/coronavirus-mexico-salinas-pliego-habran-muertes-hambre). 
O apaixonado e eloquente chamado a “ir trabalhar” de um dos mais ricos capitalista do México, evidencia que está muito ciente da pobreza extrema em que vive a metade do povo mexicano. Demonstra seu pânico patronal das massas famintas “porque o estômago não sabe esperar” e também desmascara sua repentina e falsa filantropia, quando define a luta social como “a delinquência, o roubo…”
Sem dúvida, não consta em sua confissão pública que, tanto ele como Carlos Slim e seu grupo Carso, Banco Inbursa e Telmex, como Bailleres e seu Grupo mineiro Peñoles, Palácio de Hierro e outros oligarcas mexicanos, junto com as transnacionais financeiras, petroleiras e mineiras beneficiadas pelo T-MEC, são os responsáveis pela miséria e desamparo em que estão 60 milhões de mexicanos. Apenas a família Slim, a que mais acumulou de todos eles, declara uma fortuna de mais de 60 bilhões de dólares. Salinas Pliego acumulou mais de 11 bilhões (segundo a revista Forbes). Toda essa “máfia do poder” junto controla mais de 120 bilhões de dólares. Salinas ocultou em seu apocalíptico discurso que no México, nas mãos dessa minoria existe muito dinheiro, muitas, muitas riquezas a custa da espantosa miséria e fome da “imensa maioria da população..que vivem ‘por dia’..que amanhã não tem o que comer”….
”Para o bem de todos, primeiro os pobres”?
Já vemos que no México existem muitos recursos para declarar uma quarentena geral para frear os contágios, e não cair no plano genocida de Salinas Pliego. No México existem recursos de sobra para fazer massivamente os testes de contágios grátis. No México existem recursos para instalar leitos e equipamentos de Terapia Intensiva necessários com respiradores mecânicos e não a zombaria atual. Três mil Unidades de Terapia Intensiva, enquanto seguindo o cálculo mais rigoroso são necessárias 20 mil para a população que tem esse país-, que está colapsando à medida que aumenta o número de casos.
Existem muitos recursos. Sem dúvida, o que acontece é que esses recursos estão nas mãos dos oligarcas e todos os capitalistas. E eles nos querem mandar de “bucha de canhão” ao matadouro da produção, para que não se encolha suas colossais ganancias, para que não se asfixie sua economia, ainda que nos asfixie a pneumonia de sua pandemia.
Para o bem de todos, primeiro…’. Onde ficou essa famosa frase eleitoral com que AMLO ganhou a confiança e o entusiasmo das massas? Basta de farsa! Tudo o que foi feito e se faz até agora desvirtua bastante essas expectativas de milhões de trabalhadores.
Ante a emergência de coronavírus devemos nos unir todos os trabalhadores, os explorados e oprimidos, todos os “condenados da terra” e lutar por nossa subsistência, pela vida e saúde de nossas famílias, nossos filhos, nossos idosos, que por tantas décadas tem dado tudo e tem recebido quase nada.  E unirmos para exigir do governo que utilize essas enormes fortunas, acumuladas à custa da exploração de milhões e do roubo do patrimônio do país, ao serviço do combate a pandemia:

  • Imposto de emergência a todos os grandes capitais da oligarquia e empresas multinacionais. Suspensão temporária dos pagamentos externos aos agiotas internacionais e ao Banco Mundial, etc.
  • Teste de Covid-19 gratuito para toda população. Assistência universal sem exclusões de saúde pública e gratuita para todos os habitantes e imigrantes.
  • Colocar todos os hospitais e clínicas privadas a disposição da Saúde Pública e todos os hotéis de turismo – que hoje estão paralisados – para a assistência e isolamento dos contagiados e alojamento para mulheres ameaçadas pela violência de gênero.
  • Dispensar do trabalho – pelo período da quarentena com salário e benefícios – não apenas os grupos de risco já definidos, mas todos os que não tem tarefas na produção ou em serviços essenciais.
  • Fornecimento de proteção especial, aumento salarial e redução de jornadas a todos os trabalhadores da saúde, transporte, de serviços essenciais e alimentação básica.
  • Subsídios estatais a todos os trabalhadores autônomos e empréstimos a taxa zero a micro empresários da cidade e do campo.
  • Provisão gratuita de alimentos e medicamentos a todos os setores vulneráveis da população nativa e imigrante.

Nota:
[1] Durante sua coletiva da manhã do dia 16 de março, o presidente Andrés Manuel López Obrador foi questionado pelo contato físico que mantinha com pessoas de comunidades durante suas turnês e quando iria fazer o teste de COVID-19. A isso, López-Gatell respondeu que “A força do presidente é moral, não é uma força de contágio, em termos de uma pessoa, um indivíduo que pudesse contagiar a outros… O presidente não é uma força de contágio… ou ao contrário…”.

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