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sexta-feira, abril 19, 2024

Colômbia| Sair ou não sair às ruas? Protestar para exigir uma quarentena com garantias

Diante da suspensão das medidas de isolamento social por parte do governo de Duque e das prefeituras – no momento em que se supera 120 mil pessoas infectadas e 4 mil mortas – a classe trabalhadora e os setores populares começam a ir para as ruas para protestar contra as reformas decretadas no Estado de Emergência e por uma quarentena com garantias.

Por: Alonso C. H.
Em 30 de junho passado, a União Sindical Operária, USO, o Sindicato Nacional de Trabalhadores do Transporte, SNTT, o Comitê Distrital de Paralisação e Bloqueio por uma Paralisação Indefinida, entre outras organizações sindicais e políticas, convocaram uma jornada de protestos que levou centenas de pessoas às ruas.
Sair ou não sair às ruas tem sido uma discussão no interior das organizações da classe trabalhadora, dos setores populares e dos partidos revolucionários e reformistas. Nos primeiros dias da pandemia, foi suspensa a jornada de 25 de março, que tinha sido convocada como continuidade das mobilizações da Paralisação Nacional do final de 2019.
Entre a burocracia e o negacionismo
Para a burocracia sindical que dirige o Comitê Nacional de Paralisação, CNP, que desde o princípio do ano mostrava seu interesse por desmontar as mobilizações e negociar com o Governo de Duque, a pandemia serviu para suspender qualquer atividade de protesto. O MOIR, que orienta a direção do CNP, também está comprometido com as prefeituras “alternativas” das principais cidades e esperava que as novas administrações não tivessem que lidar com as pessoas nas ruas.
No outro extremo, grupos negacionistas da pandemia, ultra-vanguardistas convencidos de que é produto de alguma conspiração global, chamavam para as ruas para fazer jornadas isoladas e ignorar a quarentena, que no final serviam para que estes governos alternativos se mostrassem como “razoáveis” e para estigmatizar a esquerda.
Entre estes dois extremos estavam os partidos reformistas que, sem romper com a posição do MOIR no CNP, apoiavam algumas mobilizações de grupos de jovens, mas sem respaldá-las nem convocá-las de maneira aberta.
Desde o início do Estado de Emergência houve mobilizações e dias de protesto. As primeiras medidas da quarentena, apesar de parciais, serviram para conter a pandemia, mas o confinamento não teve garantias e nos bairros mais pobres as pessoas saíram desesperadas para as ruas.
Da mesma forma, o pessoal médico e trabalhadores da saúde, que suportam o peso da crise do coronavíruas, realizaram dias de protesto que no principio conseguiram visibilizar os problemas e explicar a dimensão da crise sanitária, denunciaram a Lei 100 e os precários salários e formas de contratação dos servidores da saúde.
O governo respondeu com uma campanha de desprestígio dizendo que existia um Cartel do Covid, como forma de atacar a luta contra a Lei 100 e ocultar que o verdadeiro cartel são as EPS e ARL, cujo resultado é a negação de boa parte da população da existência da pandemia, para justificar a abertura de setores econômicos.
Os protestos nos Estados Unidos
Um dos argumentos dos que – tentando mostrar uma posição radical – convocam protestos isolados das bases e muitas vezes anônimos, foram os protestos nos Estados Unidos, mas são dois processos diferentes.
Os protestos que se originaram nos Estados Unidos tiveram um caráter massivo, levaram milhões de pessoas para as ruas contra o racismo e a brutalidade policial, expressavam também a crise econômica e social que atravessa a classe trabalhadora e os pobres neste país.
Estes protestos mudaram o cenário político nos Estados Unidos e deixaram o governo de Trump em crise, também ultrapassaram o Partido Democrata, que dias antes havia declinado de Bernie Sanders, o candidato que atuava como ala reformista deste partido burguês.
O detonante dos protestos não foi uma ação de um grupo vanguardista, mas um fato da realidade que desencadeou uma ação de massas. O limite deste protesto é a ausência de uma organização revolucionária com capacidade de materializar as reivindicações.
Sair ou não sair, eis a questão!
Não tem sido fácil resolver a discussão de sair ou não sair para as ruas, entre uma burocracia que aconselha e negocia com os governos para “salvar a economia” sem sair de casa, e os setores que negam a pandemia e chamam para sair às ruas e ignorar a quarentena. Nós do Partido Socialista dos Trabalhadores, temos optado por apoiar os setores organizados que decidiram protestar contra as medidas de Duque, sobretudo continuamos exigindo uma quarentena real e com garantias.
Por isso, apoiamos a luta dos trabalhadores da saúde e impulsionamos o dia de luta em 30 de junho, porque a equação política é muito complexa: devemos nos mobilizar, protestar contra os decretos de emergência, mas nossa consigna principal deve ser a exigência do confinamento com garantias. Protestar, mas não para negar a pandemia e sim para exigir dos governos que parem de nos enviar para o matadouro, e contra os decretos que favorecem somente os ricos.
Assim entenderam desde o principio os trabalhadores da saúde, assim entenderam os trabalhadores petroleiros e do transporte que viram como foram afetados pela pandemia, tanto por contágios como pelos decretos de Duque.
Para as ruas para exigir quarentena, renda básica e não pagamento da dívida externa
Hoje, com 120 mil infectados, com mais de 4 mil mortos, é urgente a exigência da quarentena com garantias, renda básica e não pagamento da dívida externa para financiar o confinamento.
Ir ou não ir para as ruas não pode ser um dilema, não podemos aceitar os discursos negacionistas, mas também não podemos aceitar a posição da burocracia de não fazer nada e apresentar uma objeção inoportuna e inconsistente, que não contempla as necessidades urgentes da população no meio da pandemia.
Nós socialistas, continuaremos acompanhando as lutas da classe trabalhadora e dos setores populares, tomando todas as medidas de biossegurança, mas exigindo a quarentena real e com garantias, a renda básica e que o confinamento seja financiado com os recursos destinados ao pagamento da Dívida Externa.
É urgente que além das ações já tomadas, façamos um grande dia nacional de protesto, um dia de luta unitário contra as medidas criminosas de Duque. O governo nos leva à catástrofe, e nos diz hipocritamente “fique em casa” enquanto milhares não tem casa, e enquanto autoriza a abertura de toda a economia, sem se importar com a vida dos trabalhadores e suas famílias, entretanto eles e suas famílias cumprem estritamente quarentena. Nos dizem que é perigoso sair para protestar, mas promovem o dia sem IVA conhecido como “Covid Friday”, nos dizem para não fazer protestos de mais de 50 pessoas, mas centenas se amontoam no transporte público e nas fábricas.
Lutar não é contrario à quarentena, porque já não existe uma quarentena, Duque a suspendeu. Ficar em casa e não mobilizar-se, mas sim ir ao trabalho serve apenas para ajudar o governo. Não bastam os protestos virtuais, falta uma ação contundente, ou se organiza uma mobilização massiva nacional com um estrito protocolo de biossegurança, ou se organiza uma greve de braços cruzados, ou uma combinação das duas, ou o governo nos imporá seus planos sem pestanejar.
Estamos em uma encruzilhada, os dirigentes do Comitê Nacional de Paralisação, reduzido à CUT, CTC e CGT, renunciaram a quaisquer destas opções, está em nossas mãos organizar-nos urgentemente para esta tarefa que é de vida ou morte. É urgente recuperar as centrais para os trabalhadores, porque é necessária a organização centralizada da greve pela vida e das mobilizações que são necessárias.
Trata-se de organizar a greve como ação consciente e coletiva dos trabalhadores, não de chamar a “desobediência civil” como saída individual, nem ficar em casa e não fazer nada enquanto o governo avança nos seus planos. Temos que lutar para derrotar a política do governo criminoso.
Tradução: Lilian Enck

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