qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Colômbia | Com panelaços e bandeiras vermelhas, os pobres lutam contra a fome

Nos bairros populares, soam os panelaços e em suas portas e janelas estão penduradas camisetas e toalhas vermelhas como bandeiras de luta contra a fome. A resposta do governo e até das prefeituras chamadas  progressistas, como a de Cláudia López, é a repressão policial com a presença do Esquadrão Móvel de Combate a Distúrbios (ESMAD), lançando atordoadores e gases de helicópteros em vez de lançar comida.

Por: PST-Colômbia
Pelo terceiro dia consecutivo, desde que a Quarentena Nacional foi decretada, foram organizados dias de protesto contra a fome nos bairros mais pobres. Em Bogotá, nas localidades de Ciudad Bolívar, Suba e Usme, se escutaram os panelaços, mas também os projéteis do ESMAD.
Em Cartagena, com bandeiras vermelhas – feitas de toalhas de mesa e camisetas velhas – os moradores de vários bairros protestaram contra a fome, porque o plano de emergência se limitou à distribuição de comida de maneira insuficiente e, além disso, não atingiu a  maioria das famílias em extrema pobreza, que é mais da metade da população da cidade.
Em várias cidades, incluindo Bogotá e Ibagué, os panelaços e manifestações foram realizados por setores da construção civil que, desesperados com a falta de salário, se voltaram para as ruas. Da mesma forma, os imigrantes venezuelanos levantaram suas vozes em protesto contra o abandono e abuso por parte das autoridades do Estado que se aproveitam de sua condição para persegui-los.

Tolima – Colômbia

Repressão em resposta à fome
No bairro da República do Canadá, na cidade de Ciudad Bolívar, houve uma noite de terror em 15 de abril, quando um panelaço contra a fome foi respondido pela administração do distrito com helicópteros que espalharam gás lacrimogêneo e o ESMAD por terra disparou contra a população.
À tarde, o ESMAD, junto com funcionários da prefeitura, despejou dezenas de famílias de uma ocupação no setor Paraíso da mesma cidade de Ciudad Bolívar, deixando centenas de desabrigados, a maioria mulheres e menores.
O Governo da Colômbia tem recursos para elaborar um Plano de Emergência que ofereça segurança alimentar às famílias, para que haja uma quarentena com garantias, bem como para implementar um plano de contingência em clínicas e hospitais para enfrentar a pandemia da Covid-19.
Existem 38 trilhões de pesos prontos para pagar a dívida externa que deve ser usados imediatamente para o plano de emergência que garanta comida, moradia, saúde e educação para toda a população.
Mas a resposta que o Governo de Duque e as principais prefeituras deram foi a repressão daqueles que, em meio ao desespero e a desesperança de suas casas, de seus bairros, penduram uma bandeira vermelha e fazem com que suas panelas soem para protestar contra a fome.
Não surpreende que, em meio a essa pandemia, o governo de Duque tenha comprado tanques e uniformes para a ESMAD por 7 bilhões de pesos, que o prefeito de Bogotá gaste a mesma quantia em propaganda de sua administração. Porque quer esconder a miséria em que a maioria da população vive com a repressão e com uma operação da mídia que oculte as cifras e a realidade.
Bandeiras vermelhas para lutar na quarentena
O que começou como uma proposta de solidariedade nas redes sociais em alguns países, em que os vizinhos pediam aos que estivessem em situação de emergência para pendurar um pano vermelho na janela, tornou-se um símbolo de luta pelos pobres em todo o mundo.
Hoje, as bandeiras vermelhas são um sinal não apenas de fome, mas de luta. As bandeiras vermelhas significam não apenas a existência de necessidades, mas a disposição de lutar – com panelaços, com bloqueios, com ações para as redes sociais – contra a fome.
A classe trabalhadora e os pobres, na ausência do Comitê Nacional de Desemprego e das centrais sindicais, que não foram capazes de liderar as lutas em meio à pandemia, encontraram suas formas de protestar.
Alguns são espontâneos e desesperados, como saques e assaltos a caminhões de alimentos, outros são organizados por comunidades, como as de Ciudad Bolívar, através de panelas e bandeiras vermelhas.
Rejeitamos enfaticamente o tratamento policial e a repressão à pessoas que se manifestam contra a fome em todo o país. As promessas que ninguém passaria fome na quarentena se tornaram vazias, o dinheiro continua sendo desviado para bancos e empresas, enquanto as pessoas sofrem em casas precárias e superlotadas e sem comida.
Precisamos intensificar essas formas de luta e organização para exigir uma quarentena com garantias, lutar contra o  pagamento da dívida externa e denunciar a brutal repressão policial, que tem sido a única resposta das prefeituras. Organizar comitês de bairros para coordenar as ações e a distribuição de alimentos disponíveis, a supervisão dos trabalhadores e a ação popular urgente contra a corrupção, que continua roubando grande parte dos recursos destinados a aliviar a fome.
Tradução: Luana Bonfante
 
 

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