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quinta-feira, março 28, 2024

O nascimento da IV Internacional: entre o estalinismo e o fascismo

A Revolução Russa foi um impacto mundial. Pela primeira vez na história, a classe operária foi capaz de tomar o poder e começar a transformar radicalmente a sociedade para acabar com a exploração e a opressão. Centenas de organizações em todo mundo olhavam com simpatia tal exemplo. Podemos utilizar como exemplo o fato de que inclusive a CNT espanhola aprovou em seu Congresso de dezembro de 1919 “unir-se incondicionalmente à Revolução Russa, apoiando-a tanto por meios morais quanto materiais, na medida de suas possibilidades”.

Por Juan P.

Nesse contexto, sob o impulso dos bolcheviques, nasce a III Internacional como deliberação de um Congresso realizado em março de 1919 com a presença de delegações de 30 países. Os quatro primeiros congressos da Internacional Comunista, realizados em anos consecutivos, estabeleceram os princípios fundamentais do que aspirava ser o Partido Mundial da Revolução Socialista. No entanto, a degeneração da URSS destruiu a III Internacional transformando-a em um mero apêndice da política externa de Stalin.

Stalin abandonou a perspectiva da Revolução Internacional e através da teoria “do socialismo em um só país” assinou a paz com o capitalismo, comprometendo-se não só a não impulsionar novas revoluções, mas combater com ferocidade as que ocorressem. Um bom exemplo é a Revolução Espanhola de 1936, onde o PCE não hesitou em assassinar centenas de revolucionários/as, como Andreu Nin. A Comintern (abreviação da Internacional Comunista ou III Internacional) foi expurgada para que fosse controlada ferreamente pelos adeptos estalinistas.

Trotsky encabeçou a oposição a essa degeneração, primeiro tentando recuperar a III Internacional. Mas depois de alguns anos, ficou claro que não lhe restava mais vida. A política de Stalin permitiu a vitória do fascismo (Hitler, Franco…) e os Partidos Comunistas do mundo digeriram uma das grandes tragédias da história sem questionar. Sob essas condições, os bolchevique-leninistas, mais tarde conhecidos como “trotskistas”, decidiram impulsionar uma nova Internacional.

O fio vermelho da Revolução

Se a III Internacional nasceu da maior vitória (Revolução Russa), a IV Internacional, ao contrário, nasceu das maiores derrotas (degeneração da Revolução Russa – ascensão do fascismo). A IV Internacional foi marcada a fogo por essa situação, e um bom exemplo foi sua própria fundação. Ela se deu, clandestinamente, em uma pequena Conferência de apenas 30 delegados em um único dia de 1938, na casa particular de Alfred Rosmer, na periferia de Paris. Trotsky não pode participar por razões de segurança (Rudolf Klement, organizador da Conferência, acabava de ser assassinado).

Naquela época, havia apenas 6.000 trotskistas espalhados por todo o mundo, que estavam morrendo aos punhados nos campos de concentração nazistas e nos gulags estalinistas. Naquele momento, o maior partido trotskista era o SWP norte-americano, fundado graças a… uma incrível casualidade. Chegou às mãos de James Cannon, por engano, um documento de Trotsky em pleno Congresso da Comintern!

Apesar dessa extrema debilidade, Trotsky sempre considerou a IV Internacional como a grande obra de sua vida. Isso dizia quem havia sido o grande dirigente da Revolução Russa depois de Lenin e o máximo dirigente do Exército Vermelho de operários e camponeses que conseguiram derrotar a invasão de 14 exércitos imperialistas. Como poderia ser sua grande obra?

Trotsky era consciente de que a Revolução Russa teria triunfado na sua ausência, desde que Lenin permanecesse de pé. Mas, naquele momento, a IV Internacional era a única que nos momentos mais difíceis garantia a continuidade histórica do bolchevismo. Depois de várias tentativas, Stalin finalmente conseguiu assassinar o último dos dirigentes bolcheviques em 1940. Mas, a IV Internacional e o trotskismo já eram uma realidade.

Tradução: Rosangela Botelho

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