sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

As mulheres em tempos de rebelião. Da greve de mulheres à greve por tempo indeterminado

A América Latina não é a mesma de um ano atrás, as lutas em cada um dos países nos encheram de esperança, porque, diante da onda de injustiças por parte do sistema capitalista, as ruas estão cheias de rebeldia e as mulheres que na história sempre estivemos presentes, não fomos uma exceção. Temos estado presentes na vanguarda, as mulheres indígenas, trabalhadoras, estudantes, camponesas, jovens, mães, idosas, saímos para nos mobilizar, para expressar nossa rejeição às medidas nocivas do FMI e o interesse de alguns poucos que se apoderaram da riqueza e querem cobrar suas perdas sem medo de nos deixar morrer de fome e desespero, sem futuro para os jovens, porque eles vêm tirando, aumentando a crise climática, oferecendo esmolas, aumentando diferença salarial. E toda essa crise é o dobro para nós, mulheres, que realizamos o duplo trabalho de criação e cuidados dos filhos.

Por: Comissão de Mulheres PST.
Este 8 de março, como todos os anos desde 1911, se comemora o dia da mulher trabalhadora, mas este 8 de março é especial porque acontece no meio do despertar da Colômbia e de milhares de lutas no mundo, o chamada para greve deve deixar de ser simbólico e tornar-se realidade. Devemos parar não apenas o trabalho da casa, mas principalmente o da fábrica e do escritório, porque somos mais que donas de casa. Devemos continuar sendo o motor das lutas, esse dia de luta não deve apenas ser articulado ao chamado internacional para greve das mulheres, mas deve ser o prelúdio da greve nacional por tempo indeterminado.
Neste 8, vamos sair para gritar que a mulher tem direito sobre seu corpo e decide sobre ele, sairemos às ruas para exigir a despenalização, descriminalização e legalização do aborto exigindo a garantia em tempo hábil e sem atrasos, a fim de garantir o direito de mulheres à vida e à vida digna. Acreditamos que essa é uma reivindicação muito importante no momento, dada a demanda da advogada antidireitos que pretende retirar o direito já reconhecido no julgamento C355 de 2006 que descriminaliza o aborto em três casos. Vamos exigir nas ruas que o tribunal elimine completamente o crime de aborto do código penal. Nós mulheres somos seres moralmente competentes para tomar nossas próprias decisões.
Iremos exigir medidas contra esse sistema opressivo que permite e promove a violência machista, que se expressa quando nos matam, nos estupram, nos desaparecem, nos agridem, em casa, na rua e no trabalho. Nesta ocasião, sairemos para exigir justiça e todo o peso da lei contra o policial que estuprou a jovem como punição por não pagar em Transmilenio, contra o que chutou uma companheira no rosto, contra aqueles que durante o processo de paralisação nacional praticaram assédios, desnudamentos forçados e outras humilhações.
As mulheres se juntam ao clamor da juventude pela limpeza do ESMAD. Esses casos não são sobre “maçãs podres”, mas uma cultura de estupro dentro dessa instituição podre e que usam a violência sexual como corretivo.
Vamos às ruas também porque somos violadas também pelas medidas governamentais que, desconhecendo que somos a maioria na sociedade e que centenas de mulheres são mães chefes de família, que passamos longas horas de trabalho mal remunerado e com salários mais baixos em comparação aos homens, aprovam reformas da previdência e trabalhista regressivas. Nos violentam e nos oprimem de maneira econômica e política, retrocedendo ainda mais nas condições básicas de vida de milhões, transformando o acesso aos direitos básicos em um negócio ao qual poucos têm acesso, como no caso da saúde, educação e aposentadoria. Este 8M estaremos nas ruas contra o Pacote de Duque.
Também vamos nos manifestar em solidariedade com as lutadoras perseguidas na América Latina e no mundo como María Rivera.
Solidariedade com María Rivera Iribarren e perseguidos por lutar no Chile
Desde 18 de outubro do ano passado, o povo chileno protagoniza uma insurreição contra o governo de Sebastián Piñera, um dos 7 empresários mais ricos do país, graças às políticas de privatização aplicadas desde a ditadura de Pinochet. As mesmas políticas que aumentaram as fabulosas fortunas de alguns capitalistas na América Latina e no mundo e levaram milhões à miséria no mundo.
O governo respondeu com uma dura repressão, que não conseguiu intimidar as massas que continuam com força e vitalidade revolucionárias nas ruas. O Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) aponta: 192 denúncias de assédio sexual e violência contra manifestantes praticadas por agentes do Estado; 405 torturas e tratamentos cruéis, 787 uso excessivo da força. 3.461 pessoas feridas como resultado das manifestações, 357 com lesões nos olhos por tiros de bala de chumbo. Mais de 25 mil processados nos confrontos, incluindo mais de 2.500 em prisão preventiva, com sentenças agravadas por participar do protesto.
María Rivera Iribarren é advogada e dirigente do MIT. Ela é uma sobrevivente das prisões da ditadura; hoje, como advogada da Defensoria Popular, encabeçou as acusações contra Piñera e suas forças repressivas, especialmente os carabineiros, e a defesa dos presos e criminalizados por lutar como os jovens da Primeira Linha. Isso rendeu a ela dezenas de ameaças de morte e uma recente denúncia de Carabineros por “sedição imprópria” apresentada ao Ministério Público, alegando que Maria fez um chamado às bases das forças repressivas, que vêm de famílias trabalhadoras, para parar de reprimir suas seu povo e se juntar a ele nesta luta.
Hoje, pedimos solidariedade a Maria e a todos os perseguidos por lutar. Chamamos que organizações de bairro, assembleias territoriais, sindicatos, organizações estudantis e de direitos humanos se juntem a essa defesa enviando vídeos e saudações de apoio. Que se exija o fim da perseguição política a Maria e a todos os lutadores, pela liberdade de luta dos presos por lutar, pelo julgamento e punição dos violadores dos direitos humanos.
tradução: Lena Souza

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