qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Entrevista com Edward Gallardo dirigente Mineiro: “ É fundamental nos organizar para conquistar a nacionalização da mineração em grande escala e as bandeiras históricas da classe trabalhadora”.

Edward Gallardo Basay (Edu) é um operário mineiro, subcontratado da Chuquicamata subterrânea, presidente do Sindicato Nacional Interempresa dos Trabalhadores da Mineração, 18 de Outubro – SIM. Também é dirigente do Movimento Internacional dos Trabalhadores – MIT.

A Voz dos Trabalhadores (LVT): Olá companheiro, obrigado pela entrevista. Em primeiro lugar, poderia nos contar um pouco como está a situação da Covid na mineração?

Edu: Olá, o problema da Covid é tão preocupante como foi desde o início da pandemia, muitos contágios, condições de trabalho que propiciam a propagação e o trabalhador fica exposto e sem garantias de subir e descer com boa saúde. As empresas não assumem a responsabilidade e no final o trabalhador termina destinado à sua própria sorte. As empresas mineradoras poderiam ter acabado com o vírus se tivessem parado a produção por um ou dois meses, com salário integral para os trabalhadores, mas não o fazem, porque se trata de produzir custe o que custar, inclusive a saúde e a vida daqueles que produzem essa riqueza.

LVT: A formação do SIM foi uma grande notícia entre os mineiros. Pode nos contar um pouco como tem sido esse processo e como está o SIM hoje?

Edu: Somos o primeiro sindicato que nasce dentro da Chuquicamata subterrânea. Foram discussões políticas muito clandestinas por cerca de quatro anos, até que já tínhamos uma base muito importante e com um programa conhecido e aprovado pelos trabalhadores, o que nos sinalizou que era o momento. Os acontecimentos de outubro de 2019 foram chave para a consciência de nossos companheiros. Hoje estamos em muitas minas, Chuqui, Salvador, Teniente, Escondida, Centinela, Pelambres, Collahuasi, Quebrada Blanca e outras, com trabalhadores de planta e de empresas contratadas, que já chegam aos milhares. O principal, é que este sindicato se dá a tarefa de discutir os problemas existentes na obra e a realidade mineira e também os problemas históricos que são empurrados para nós por esta sociedade burguesa.

LVT: Você é um dos 3 dirigentes que as empresas querem manter fora de Chuquicamata e sem salário depois da formação do SIM, o que aconteceu com as demandas pela reintegração e que ações tomaram?

Edu: Tem sido difícil, sem um só peso, você tem que comer e viver. No meu caso tenho três filhos e não posso dizer a eles que a empresa não me paga o salário há meses. Mas apesar de tudo, dos ataques patronais e dos quais a burocracia sindical tem sido parte, porque veem ameaçadas suas “verbas”, apesar disso, os trabalhadores na base têm confiado na organização que construímos conjuntamente. Temos mais dirigentes e delegados nas minas que continuam se organizando, na rinha como nós mineiros dizemos , junto às bases e respondendo às reivindicações e necessidades da própria luta.

As reintegrações de meus dois companheiros estão determinadas pelo tribunal e estão em processo de execução. Quanto à minha causa, minha audiência ainda não foi realizada, está prevista para abril.

LVT: Você foi parte importante da campanha pela nacionalização da mineração em grande escala do cobre, lítio e ouro, inclusive indo expor na Convenção Constitucional. Como essa proposta foi recebida entre os mineiros?

Edu: Levamos a discussão da nacionalização da mineração em grande escala às obras, através do boletim La Voz del Minero,  pelo espaço de dois anos e meio. Distribuímos milhares nas mineradoras, de mão em mão, portanto este sindicato assume esta demanda com a aprovação dos trabalhadores e a impulsiona desde o primeiro dia. Nós escrevemos a norma que foi apresentada na Convenção Constitucional, com 24 mil assinaturas populares, que foi distribuída por milhares nas minas.

É fundamental que os mineiros, subcontrados e de planta, nos organizemos junto aos demais setores da classe operária para conquistarmos a nacionalização da mineração em grande escala e as bandeiras históricas da classe trabalhadora.

LVT: Algo mais que você queira comentar ?

Edu: Só terminar dizendo que devemos estar conscientes de que nem o governo de Boric, nem a Constituinte, poderão resolver nossos problemas. Se nos mobilizarmos podemos pressionar algumas mudanças, mas o real e profundo, só vamos conquistar lutando organizados. Como militante do MIT, não posso deixar de mencionar a importância de nós trabalhadores discutirmos sobre a construção de uma organização que vá mais além dos sindicatos e que nos agrupe e organize politicamente a partir de nossa posição de classe para pensar decididamente em lutar para acabar com este sistema e ir em direção a um governo dos trabalhadores.

Tradução: Lilian Enck

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