sáb abr 20, 2024
sábado, abril 20, 2024

Contra o ajuste: votar em branco

No mesmo dia em que foi confirmada a realização do segundo turno nas eleições argentinas, em 25 de outubro, Macri e Scioli começaram a adaptar seus discursos, tentando ganhar o apoio de todos aqueles que votaram em outras forças.

Por: PSTU – Argentina

Macri quer aproveitar o repúdio dos trabalhadores e do povo ao atual governo e seu candidato, afirmando ser o único capaz de derrotá-lo, o que supostamente traria melhorias nas condições de vida dos trabalhadores.

Por outro lado, o golpe recebido nas urnas pela Frente para a Vitória e pelo PJ fez com que Scioli e todo o kirchnerismo saíssem agitando o fantasma da volta da direita caso Macri vença as eleições. Pretendem, assim, que nos esqueçamos de que a década kirchnerista foi uma “década ganha” para o imperialismo e os empresários, à custa da política de ajuste aplicada contra os trabalhadores e o povo.

Queremos dizer claramente que nós, os trabalhadores, não devemos cair na farsa do “voto útil”. A derrota de Scioli imposta por Macri não trará nenhuma mudança que favoreça os trabalhadores e os setores populares. Se Macri for derrotado por Scioli também não impedirá que este continue aplicando os planos de ajustes que já estão em marcha, mediante a inflação, as suspensões temporárias e as demissões, as aposentadorias “voluntárias”, os tetos salariais e a entrega do petróleo e outros recursos naturais às empresas privadas e multinacionais como a Chevron ou a Barrick Gold.

Encontre as diferenças

Apesar de diferenças sutis no discurso de como avançar com o ajuste, Scioli e Macri estão de acordo nas políticas centrais sobre o modelo econômico que ataca os interesses dos trabalhadores.

O modelo de Macri é de mais endividamento externo para voltar aos mercados internacionais, conforme assegurou aos investidores, analistas e executivos de Wall Street, há mais de um ano, quando visitou os Estados Unidos para prestar contas de sua candidatura.1

Já Scioli se apresenta como quem vai dar continuidade e desenvolver um modelo que, em 12 anos, foi o que mais deu dinheiro ao FMI e aos abutres da dívida externa. Sua esposa, Karina Rabolini, afirmou o que seu marido não se atreveu a falar para não perder votos durante a campanha: caso seja eleito, cumprirá os compromissos internacionais, assim como Cristina vem fazendo.2

Acontece que ter as contas em dia com o imperialismo permite que grandes multinacionais tragam seus investimentos para o país, saqueando e destruindo nossos recursos naturais e superexplorando a mão de obra argentina e latino-americana por uns poucos pesos (moeda argentina) para levar seus lucros em dólares para o exterior.

Como ambos os candidatos defendem esses interesses, as brigas entre eles são para não ficarem fora do negócio. Porém, os dois estão de acordo em entregar e permitir a pilhagem do país. Sem ir muito longe, os dois candidatos apresentaram suas propostas de governo a Kelivin Dushnisky, copresidente da Barrick Gold, que recentemente derramou cianureto nos rios de San Juan.3

O que a classe trabalhadora e o povo necessita é a estatização, sob controle dos trabalhadores, de todos os recursos naturais, as grandes empresas, o comércio exterior e o sistema financeiro. Insistimos que, nessas questões fundamentais, Macri e Scioli já demostraram que têm uma postura contrária aos interesses do povo e do país, apoiando as multinacionais como Chevron e Barrick e permitindo o sucateamento dos serviços públicos, como saúde e educação,nas províncias onde são governadores, fomentando e subsidiando os investimentos privados nesses setores.

Uma semana antes das eleições, no dia 15 de outubro, todos os candidatos escutaram na conferência do IDEA (um encontro que reuniu os principais empresários do país) as orientações para o próximo período: não existe espaço para “gradualismos”.4 É preciso aplicar o ajuste sim ou sim. Não era necessário que Scioli ou Macri escutassem isso. Essa já vinha sendo política dos dois candidatos para os importantes conflitos operários e de trabalhadores nos últimos anos. Isso ficou claro na luta dos motoristas da Linha 60, nas demissões da Lear (empresa que produz cabos para carros produzidos pela Ford), na militarização da repressão aos petroleiros em Las Heras e na Patagônia, na repressão aos professores que não recebem salários, etc.
Em todos os casos, apoiaram os ataques dos empresários e se valeram da traição dos burocratas sindicais, que apresentam suas candidaturas para derrotar os trabalhadores, seja os que lutam por seu salário ou contra as demissões ou suspensões. Isso sem falar da postura hipócrita em relação ao movimento “Nenhuma a menos”, o aborto e os problemas das mulheres trabalhadoras em seus locais de trabalho e estudo.

Tanto Scioli como Macri, e tantos outros, tiraram fotos com o cartaz do movimento “Nenhuma a menos”, mas nenhum deles se preocupa em destinar orçamento para a Lei  de Combate à Violência contra as mulheres. Scioli considera a violência contra as mulheres uma “questão familiar” na qual não se deve intrometer5. E Macri, junto com María Eugenia Vidal, fecham os programas de atenção às vítimas de violência sexual na cidade de Buenos Aires6, enquanto nenhum dos dois faz nada para acabar com as casas de prostituição nos lugares em que governam.

Não podemos deixar de denunciar a postura dos principais dirigentes sindicais, como Moyano, Caló, Barrionuevo e companhia, que estão em plenas negociações de unificação para apoiar o plano de ajuste, independentemente de quem seja o encarregado de aplicá-los a partir do governo. Em troca, tanto Macri como Scioli se comprometeram em manter o modelo de sindicato único defendido pelos dirigentes traidores, contra o avanço da “equerda”, ou seja, de qualquer dirigente ou delegado honesto que pretenda defender os interesses dos trabalhadores.

Votar em branco e se organizar para enfrentar o ajuste

Definitivamente, seja Macri ou Scioli o próximo presidente, o ajuste vai ser imposto a serviço dos banqueiros e das multinacionais com o apoio dos velhos dirigentes sindicais traidores de sempre, para salvar os lucros dos patrões fazendo com que os trabalhadores paguem pela crise.

Logo após a derrota imposta ao governo por meio do voto e das eleições, nós, trabalhadores, temos que nos organizar para derrotar o ajuste em nossos locais de trabalho e estudo, nos bairros e nas ruas. Porque, enquanto eles querem nos fazer acreditar que Macri é a mudança ou que se Scioli não ganhar teremos a volta da direita, eles começam a fazer alianças e acordos com aqueles que até ontem eram irreconciliáveis, tudo isso para conseguir apoio e vencer o segundo turno.

Enfrentar o ajuste começa por não cair na armadilha do “voto útil”. Temos que dar as costas para esses candidatos votando em branco no segundo turno.

Este é o único voto útil para os trabalhadores, já que estaremos levantando nossa voz e dizendo-lhes que, independentemente de quem vença essas eleições, os trabalhadores estarão em pé de guerra para enfrentar seus planos de ajuste. O voto em branco é um voto para a luta pelo salário, contra as demissões e suspensões, contra o imposto ao salário, pelo não pagamento aos abutres da dívida, contra as multinacionais que exploram nossos recursos naturais e para acabar com o tráfico de pessoas e todo tipo de violência contra as mulheres trabalhadoras.

Por isso nós, do PSTU, que participamos da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, chamamos a enfrentar o ajuste desde já, votando em branco e nos organizando nos locais de trabalho e estudo para exigir da burocracia sindical que rompa seus acordos com os candidatos da patronal e convoque um plano de lutas.

Também é necessário que todos aqueles companheiros, comitês de delegados, comissões internas ou direções de seções sindicais combativas que protagonizaram lutas importantes e que são referência para muitos trabalhadores que querem enfrentar o ajuste se pronunciem e se somem a uma grande campanha unitária composta por organizações políticas, sociais, sindicais, de direitos humanos, entre outras, pelo voto em branco no segundo turno.

Notas:
1. http://www.lanacion.com.ar/1674126-macri-explico-su-plan-economico-en-eeuu
2. http://www.eldia.com/el-pais/rabolini-auguro-que-scioli-cumplira-con-los-fondos-buitre-89051
3. http://www.cronista.com/elecciones2015/-Scioli-Macri-y-Massa-presentaran-sus-propuestas-de-gobierno-en-el-Council-of-the-Americas-20150814-0105.html
4. http://www.lanacion.com.ar/1836591-una-idea-generalizada-que-refuto-a-scioli-no-hay-tiempo-para-gradualismo
5. http://www.perfil.com/politica/La-desafortunada-frase-de-Scioli-sobre-el-presunto-caso-de-violencia-de-genero-de-Ottavis-20151015-0066.html
6. http://www.infojusnoticias.gov.ar/nacionales/buenos-aires-cierran-programa-de-atencion-a-victimas-de-violencia-sexual-2819.html

Tradução: Luana Bonfante

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