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segunda-feira, abril 15, 2024

Colômbia | Eleições parlamentares e consultas: A explosão social se expressou nas urnas, mas as mudanças serão conquistadas nas ruas

A explosão social na Colômbia, que se iniciou em fins de 2019 e teve sua maior expressão na Paralisação Nacional de 2021, se expressou nas eleições parlamentares e nas consultas presidenciais de 13 de março passado. O Pacto Histórico foi a lista mais votada no Senado e Câmara e sua consulta obteve o dobro dos votos das consultas do centro e da direita. Além disso, a candidatura de Francia Márquez- que reunia os setores mais consequentes com a luta social na Colômbia – teve quase 800 mil votos.

Por: PST-Colômbia

Depois das eleições, nas quais o Pacto Histórico teve 5.580.000 votos, Equipo Colombia teve 3.980.000 votos e Centro Esperanza 2.150.000 votos, o panorama eleitoral para as presidenciais tende a agrupar-se em duas candidaturas, a de Federico Gutiérrez, que reuniria o uribismo, os conservadores e os demais setores da direita, e a de Gustavo Petro, que reuniria o reformismo e os setores liberais. Prova disso é a renúncia de Óscar Iván Zuluaga à sua candidatura do Centro Democrático e sua adesão a Federico Gutiérrez um dia depois da consulta.

E quanto à votação do Pacto Histórico, coalizão que reúne a maioria dos setores que participaram das lutas sociais, a votação de Francia Márquez expressa um descontentamento com as alianças que Gustavo Petro faz e seu método de formação das listas parlamentares, que privilegiou os acordos com setores da política tradicional. Sua importante votação hoje envia uma mensagem a Gustavo Petro não somente a respeito dos acordos de que a segunda votação ocupe a vice-presidência, mas que o programa do Pacto Histórico responda mais às lutas sociais do que as alianças com o liberalismo.

E apesar da votação de Gustavo Petro ser histórica, os quase seis milhões de votos obtidos não cumprem os objetivos propostos de ganhar no primeiro turno e assim evitar que todos os candidatos o enfrentem unidos no segundo turno. Esta situação pressionou os setores mais petristas do Pacto Histórico que buscam um acordo com o Partido Liberal, inclusive negociando a vice-presidência.

Parlamentares: cai o uribismo, crescem os tradicionais

A queda do Centro Democrático de 51 para 30 congressistas e o crescimento do Pacto Histórico, que obtém mais de 40 parlamentares, não implica em um cenário legislativo favorável a um eventual governo de Gustavo Petro.

No Senado da República, o Pacto Histórico teve 16 cadeiras; a Coalición Centro Esperanza, 14 cadeiras; o Partido Liberal, 15 cadeiras; o Partido Conservador, 16 cadeiras; o Centro Democrático, 14 cadeiras; Cambio Radical, 11 cadeiras; Partido de la U, 10 cadeiras; Coalición Mira-Colombia Justa Libres, 4 cadeiras; Comunes, 5 cadeiras; Mais, 1 cadeira e AICO, 1 cadeira.

Na Câmara de Representantes, o Pacto Histórico, obteve 25 cadeiras, a Coalición Centro Esperanza 12 cadeiras e Fuerza Ciudadana 1 cadeira, enquanto os partidos liberal e conservador tiveram 32 e 25 cadeiras respectivamente.

Da mesma forma, os setores mais retardatários da política ganharam várias cadeiras de paz, como o filho do paramilitar Jorge 40 o fez, ou na circunscrição especial afro, na qual o uribismo ganhou ambas as cadeiras.

As mudanças se conquistam nas ruas, não nas urnas

Este panorama mostra que os chamados alternativos alcançariam apenas cerca de 75 cadeiras no Congresso da República, o que levaria a negociar com os partidos tradicionais. Por isso, nós socialistas, temos insistido que as mudanças não são conquistadas através das urnas e que inclusive em um governo do Pacto Histórico, será necessária a mobilização nas ruas para derrotar o regime político que perpetua a pobreza e a miséria. Hoje, a pobreza alcança 45% da população e o desemprego, 19%. O custo de vida superou amplamente o aumento salarial, mesmo que o considerem histórico. É necessário continuar exigindo deste, e do próximo, governo medidas urgentes como o não pagamento da dívida externa e a ruptura dos tratados comerciais com o imperialismo; distribuição das horas de trabalho sem redução salarial (plano de pleno emprego) e congelamento do custo da cesta básica, entre outras, como parte de um plano de luta contra a fome a que este sistema capitalista nos leva. Igualmente, devemos continuar exigindo o esclarecimento dos crimes do Estado e a punição dos culpados pelo massacre policial e paramilitar.

Por isso, apesar do otimismo que os resultados das eleições parlamentares deixaram e as perspectivas que se abrem de eleições presidenciais nas quais a candidatura uribista se enfrentaria com a candidatura reformista, é necessário que aqueles de nós que estivemos apoiando o nome de Francia Márquez e que propusemos um programa que resolva os problemas da classe trabalhadora e dos pobres, devemos organizar as lutas, porque as mudanças não podem ser obtidas nas urnas – com um sistema eleitoral antidemocrático – mas nas ruas, com a mobilização organizada das massas.

Tradução: Lilian Enck

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