ter mar 19, 2024
terça-feira, março 19, 2024

Catalunha: “As ameaças do Estado españhol”

Entrevistamos Nuria Campanera, militante de Corrent Roig e candidata número 18 da lista da CUP-Crida Constituinte (CUP-CC). Apesar de sua juventude, tem uma longa experiência de luta no movimento estudantil e popular. Foi candidata da lista municipal de Crida por Sabadell. Acabou o nível superior de FP e está filiada ao sindicato Co. Bas.

Por que você se apresentou às primárias da CUP-CC?

Nuria: Apresentei-me porque, em Corrent Roig, acreditamos que a lista da CUP-CC era a única comprometida com a ruptura com o Estado espanhol e com a troika. É a candidatura que está: 1) por uma declaração unilateral de independência (DUI); 2) pela abertura de um processo constituinte unilateral e popular que fixa as bases da República catalã; e 3) por um plano de choque que enfrente realmente o empobrecimento generalizado de um amplo setor das classes trabalhadoras, revertendo os cortes trabalhistas e sociais e as privatizações, e garantindo que não se pague nenhum euro da dívida enquanto as necessidades sociais básicas não forem atendidas.
“Junts Pel Sí” (JPS), a candidatura do Mas e Junqueras, ao contrário, condiciona a proclamação da independência a algumas hipotéticas negociações com o Estado. Quer evitar a todo custo uma ruptura clara e drástica com o Estado. Propaga a falsa ideia de que, com a ajuda da UE, será possível “dialogar” e “negociar” sem romper com a legislação e as instituições do regime. JPS não quer nenhuma mudança real no sistema social atual. O Conselho Assessor da Transição Nacional deixa isso claro: “o funcionamento regular da vida social e econômica estará baseado no princípio de continuidade, sem mudanças repentinas de tipo ‘rupturista’ ou revolucionária”. Também não querem um processo constituinte popular, mas controlado por cima. E, sem dúvida, querem manter o euro e a UE acima de tudo…Justo quando a Grécia demonstrou que a zona do euro e a UE são máquinas de guerra contra a classe trabalhadora e contra os povos. JPS quer uma independência formal na qual, em vez de depender de Madri, nos submetamos a Berlim e Bruxelas. Querem, além disso, outro governo. Mas, desta vez, com Oriol Junqueras como vice-presidente e personalidades “civis”.
“Cataluña Sí que é Pot” (CSQEP), formada por Podemos e ICV-EUiA, fala de um “processo constituinte próprio, não subordinado”, mas acontece que Pablo Iglesias, a suprema autoridade de Podemos, se nega a isso. Quando lhe perguntam o que faria se fosse presidente espanhol e o Parlamento catalão aprovasse uma DUI, ele responde: “Digo-lhes que não é juridicamente viável. Não porque a mim me pareça mal, mas porque a Constituição não permite, e então lhes digo: o que deve ser feito é um processo constituinte. Em nível estatal? Pois, claro que em nível estatal” (Público 25/6/15). Ou seja, que o direito para decidir depende de maiorias impossíveis nas Cortes espanholas. Na realidade, CSQEP complementa, pela esquerda, os partidos da direita espanhola. E quanto a seu programa social, também não vai muito longe, já que está submetido às normas e limites da zona do euro e da UE.
 
O PP e companhia aprovaram há pouco a lei de Defesa Nacional e anunciaram que estão dispostos a tudo para impedir a independência catalã. O que você pensa sobre isso?
Nuria: Pensamos que as ameaças não são vãs e que temos que contar com uma investida brutal. Eles já disseram que estão preparados para intervir na Generalitat, que poriam os Mossos sob as ordens de um general da Guarda civil e que farão o que for necessário … O regime espanhol atual é herdeiro do franquismo e um de seus pontos capitais é a negação do direito à autodeterminação e a unidade forçada. Não cederão sem uma enorme resistência. Por isso temos que denunciar a escandalosa rapidez com que se estão fazendo estas ameaças.
JPS tira-lhes a importância, como se estivéssemos diante de um Estado democrático convencional, e atribuem tudo a uma suposta pressão da UE ao Estado espanhol para abrir o “diálogo” e uma negociação “civilizada”. Capitulam antes da batalha.
A CUP-CC, ao contrário, em sua Declaração de Ripollet, defende que “deve-se prever e organizar a  resistência para responder a uma previsível intervenção estatal das instituições catalãs. Neste caso, terá que impulsionar a mobilização popular (incluindo a construção dos organismos necessários para uma greve geral) em defesa da República catalã e das reivindicações populares e apelar à solidariedade ativa da classe trabalhadora e dos povos em nível internacional, muito especialmente do resto do Estado”. Isso é o que se tem que fazer.
 
Um dos possíveis resultados das pesquisas é uma maioria independentista na qual os votos da CUP-CC seriam determinantes. Qual teria que ser a atitude da CUP-CC?
Nuria: Acho que nisto a CUP-CC tem que ser muito clara, porque, neste cenário, as pressões serão brutais. As decisões e o “programa plebiscitário” definidos pelas bases estabelecem “cinco pontos inegociáveis no momento de estabelecer qualquer acordo de governabilidade”. Estes pontos são: a DUI; o programa de emergência social; a suspensão da aplicação de toda a legislação estatal e da UE que prejudique as classes populares; o caráter auto-organizativo e popular do processo e a busca do reconhecimento internacional.
São condições básicas e necessárias para o povo trabalhador e para a Catalunha como nação. Mas são também condições que Mas e Junqueras não aceitarão. Eles não farão nada que incomode a Merkel e a Bruxelas e têm pânico de uma ruptura “traumática” com o Estado que dê o protagonismo ao povo e questione o sistema. A CUP-CC não pode apoiar um governo de JPS, que preparará uma saída “à Tsipras”. Ao contrário, temos que defender nossas propostas e nos preparar os novos cenários que virão.
 
Vocês da Corrent Roig são uma força de âmbito estatal e lutam por uma união de repúblicas livres. Como formam parte de uma candidatura independentista?
Nuria: Nós não somos uma organização “independentista”, mas sempre temos defendido o direito à autodeterminação dos povos, que não é outra coisa do que o direito à secessão. E, na Catalunha, chegou-se a um ponto que ficou evidente que não é possível exercer o direito de autodeterminação sem romper com o Estado. A Catalunha é, hoje em dia, acima de tudo, a vanguarda do Estado na luta democrática contra o regime monárquico. Uma ruptura independentista catalã o arrebentaria e eliminaria  um peso muito grande de cima de nós.
Além disso, só lutando por uma República catalã independente e soberana é que nos investimos de legitimidade para defender uma união livre de repúblicas livres ibéricas, que queremos que seja a vanguarda, por sua vez, na luta por uma Europa dos trabalhadores e dos povos. Para nós, a defesa da unidade da classe trabalhadora é essencial. Quem divide a classe trabalhadora é o nacionalismo opressor e é lutando juntos contra ele que poderemos forjar a unidade.
A CUP-CC é a força que desempenha atualmente um papel “rupturista” e é um espaço de agrupamento do ativismo. A vida tem posto sobre a CUP-CC uma grande responsabilidade. A ela cabe encabeçar o caminho à DUI e à transformação social. É a CUP-CC que tem que se pôr na primeira linha da resistência contra a investida do Estado. Mas e Junqueras nunca o farão.
 
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