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segunda-feira, março 18, 2024

República Democrática do Congo: Uma luz no final do túnel

A República Democrática do Congo, ou Congo Kinshasa, possui e explora uma gigantesca reserva mineral composta por cobalto, coltan, ouro, cobre, urânio e , além disso, possui uma das maiores reservas florestais do planeta. Podemos dizer um país rico. Por outro lado, o desemprego, a pobreza e a fome transformam o Congo Kinshasa em um dos piores países do mundo para se viver. Essa imensa contradição é possível pela presença de milícias que impunemente matam todos os dias; as tropaS da ONU conhecidas como MONUSCO que são cúmplices diretas da violência; sucessivos governos ditatoriais como o atual Felix Tshisekedi que impôs um estado de sitio nas zonas de maiores conflitos, criminaliza as lutas sociais e não permite sequer música de protesto.

Por: Cesar Neto e Yves Mwana Mayas

Felix Tshisekedi: um ditador a serviço do imperialismo mundial e suas empresas

Felix Tshisekedi tem atuado como um verdadeiro árbitro diante das disputas inter imperialistas. Se em alguns países como Zimbábue, o ditador de plantão é apoiado pela China, o do Chad por Macron, Felix consegue ser um árbitro diante das disputas e receber o apoio de todos eles. E como um bom bonapartista, atua como árbitro e ao mesmo tempo, ditador e opressor de seu povo.

Na reunião da COP 26, Tshisekedi apareceu ao lado dos principais dirigentes do imperialismo e seus satélites. Apareceu em fotos com Biden, Macron, Boris Johnson, Ângela Merkel, etc.

Em sua recente visita a Israel recebeu o Titulo Honoris Causa da University of Netanya, comprou armas para reprimir o povo e se comprometeu também com: nomear um embaixador para Israel após um intervalo de duas décadas, abrir uma seção comercial em Jerusalém, apoiar Israel na ONU, além de apoiar a adesão de Israel à União Africana como Estado observador.

Internamente, Felix afrontou as mais elementares exigências democráticas ao impor Denis Kadima para a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) para conduzir as eleições presidenciais de dezembro de 2023. As reações foram imediatas. Milhares saíram às ruas protestando contra como foi composta a CENI. Mas diferente da eleição anterior, a luta nas ruas por eleições limpas, teve um elemento adicional: a crise econômica mundial, a pandemia e seus efeitos sobre os trabalhadores e o povo. Assim, na manifestação, além das faixas exigindo transparência no processo eleitoral, havia também faixas exigindo pagamento atrasado dos professores em greve.

Uma crise política se avizinha

Enquanto o descontentamento social aumenta e as greves são reprimidas, o governo de Felix pede para a população apertar o cinto porque não há dinheiro suficiente, há um fenômeno de enriquecimento ilícito e desaforado dos políticos. E tudo isso está acontecendo com o incentivo ativo ou passivo de Felix Tshisekedi.

Enquanto Felix Tshisekedi e seu governo intimidam professores para encerrar sua greve e pagar a um professor US $ 120 por mês, Felix Tshisekedi doou 500 jipes Hyundai Palisades para 500 deputados nacionais para que esses políticos apoiem sua coalizão política. Esses jipes foram pagos pelo erário público. Os deputados na RDC ganham em um mês o equivalente a dez anos de salário de um professor ou policial.

Mas, enquanto Felix enriquece os políticos, ele empobrece ainda mais os pobres extraindo de forma fraudulenta e mensal o equivalente a US $ 7 por ano de cada cidadão como taxa por uso de celulares. Observe que há mais de 38 milhões de congoleses que usam telefones. Esse dinheiro, que não é imposto e que não se justifica por nenhuma lei, é administrado por uma estrutura oculta cujas contas não aparecem em nenhuma rubrica das contas oficiais do Estado. Mas por detrás está o ministro encarregado dos Correios e Telecomunicações, cunhado do presidente e cabeça de uma empresa fantasma chamada 5C Energy.

Mas, é preciso lembrar que desde o início de seu mandato, em março de 2019, Felix Tshisekedi havia implantado um programa de construção de infraestrutura gerenciado sob sua coordenação que custou mais de US $ 400 milhões, a maior parte deles desviados. A justiça congolesa organizou julgamentos públicos, condenou todas essas pessoas e, em seguida, as colocou na prisão. Curiosamente, Felix Tshisekedi começou a assinar portarias concedendo perdão presidencial a todos esses ladrões que foram libertados da prisão sem reembolsar um único centavo o que mostra que Felix foi o último destinatário de todo esse dinheiro desviado. Em três anos no poder, Félix fez cerca de 118 viagens ao exterior com delegações de mais de 50 vereadores; que está corroendo os cofres do Estado. Seu gabinete cresceu de quase 400 pessoas sob Kabila para 1.018 pessoas hoje; o que aumenta a carga do Estado.

E no orçamento do Estado mais de 65% dos recursos são alocados ao funcionamento das instituições; o que é uma distribuição injusta da riqueza natural. Em suma, observou um enriquecimento de um círculo privado e familiar de Felix Tshisekedi enquanto pedia à população que apertasse o cinto, fosse paciente e esperasse por melhorias salariais para depois. Tudo isso explica também o endurecimento do descontentamento da população que, há pouco, acreditava que a saída de Kabila significava o fim de um sistema. Eles estavam, portanto, errados. O sistema herdado de Kabila seguiu seu curso com Felix Tshisekedi. E o inicio dessa percepção está por detrás das lutas que recém se inicia.

A luz no final do túnel

Os meses de setembro e outubro esteve marcado pela entrada em cena da classe trabalhadora organizada. Professores e trabalhadores portuários saíram à luta.

Os professores fizeram uma importante greve por causa de salários, bônus, idade de aposentadoria e outras questões. As instituições religiosas controlam cerca de 80% das escolas primárias, porém os professores são pagos pelo Estado Congolês.

A greve expõe toda a crueldade do sistema de exploração mineira à serviço do capital estrangeiro. No inicio de setembro o Ministro da Educação disse que 58.000 novos professores primários serão pagos até outubro e o restante será pago assim que os meios estiverem disponíveis, ou seja, sigam trabalhando e chegará (algum dia) o pagamento de vocês.

A greve também explicita o tratamento que a ditadura de Felix Tshekedi dispensa aos professores grevistas. O Ministro da Educação Primária, Secundária e Técnica (EPST), Tony Mwaba ameaçou os grevistas que eles poderiam ser todos demitidos.

A outra greve foi a dos trabalhadores da Société Congolaise des Transports et Ports (SCTP), empresa pública que administra o porto de Matadi,  em razão do absurdo atraso no pagamento de salários: 38 meses! Além disso, os trabalhadores lutam contra o desmonte da empresa e a presença de portos clandestinos e ilegais.

Société Congolaise des Transports et Ports (SCTP), atua em 17 províncias e conta com mais de oito mil agentes ativos. A greve que começou no dia 15 de outubro  foi radicalizando-se a tal ponto que no dia 22 do mesmo mês, “centenas de trabalhadores da empresa portuária estatal invadiram sua sede na sexta-feira, quebrando janelas, queimando móveis e entrando em confronto com a polícia. A polícia lançou gás lacrimogêneo contra o prédio na capital, Kinshasa, enquanto os trabalhadores da Sociedade Comercial de Portos e Transportes (SCPT) dançavam ao redor de uma pilha de móveis em chamas na escada da frente e atiravam pedras nos policiais”[1].

A greve seguiu radicalizando-se e as tropas da ONU, denominada de MONUSCO passou a monitorar a greve e, obviamente, se preparando para reprimir os trabalhadores como fizeram as tropas da ONU, no Haiti.

Frente a enorme pressão o governo chamou a negociar através do Ministro dos Transportes e Estradas, Chérubin Okende Senga e apoiado no recuo da direção sindical, os trabalhadores aceitaram o pagamento de apenas dois meses de salário e a volta ao trabalho.

A importância dessas greves

Em primeiro lugar é preciso ajudar os trabalhadores a expandir sua luta. Buscar aliados para sua greve no país e no estrangeiro. Da mesma maneira que o governo se apoia nas tropas da MONUSCO para reprimir, nós temos que buscar trabalhadores de outras partes do mundo para nos apoiar.

 

Em segundo lugar, e não menos importante, é preciso tomar em consideração que não é sempre que temos greves dos setores mais organizados dos trabalhadores. Além disso, os trabalhadores em movimento, em luta, ficam sempre mais sensíveis aos problemas políticos. A greve quebra a rotina de trabalho, casa, televisão ou outra alternativa. Nas lutas, a política começa a ser vista como algo importante na vida dos trabalhadores. Por esse motivo, nós que nos reivindicamos marxistas, devemos acompanhar bem de perto essas e outras lutas e convidar esses companheiros que começaram a descobrir a política que venha se reunir conosco.

Essas greves podem indicar que começamos a ver os trabalhadores organizados entrando em cena. Pode ser que estejamos começando a ver uma luz no final do túnel.

[1] https://www.reuters.com/world/africa/congo-port-workers-clash-with-police-over-unpaid-wages-2021-10-22/

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