qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Carta dos imigrantes aos povos da África e Europa

Reproduzimos o Chamamento aos povos da África e Europa lançado em 24 de setembro passado por várias organizações de imigrantes do Velho Continente. A LIT-CI adere às reivindicações colocadas neste documento.

 

Reunidos em conferência internacional no domingo 24 de setembro em Bruxelas, a Coordenação Nacional das Pessoas sem documentos CNSP França), a Associaçaõ de Trabalhadores Imigrantes na Espanha (ATRAIE Espanha) e a União para a Defesa das Pessoas sem documentos (UDEP Bélgica), anfitriã da conferência, na presença das organizações de apoio do movimento democrático, anti racista, anti fascista e da imigração regular na Bélgica, decidiu dirigir-se a vocês, Presidente da União Africana, a todos os chefes de Estado africanos, em particular ao Presidente do Senegal, e aos povos da África e Europa.

 

Considerando, os assassinatos perpetrados pelos Estados espanhol e marroquino em Ceuta e Melilla, onde 15 candidatos à emigração, da África sub-sahariana, acharam a morte pelas balas disparadas pelas forças de repressão.

 

Considerando , as deportações de várias dezenas, ou inclusive centenas de candidatos sub-saharianos à emigração, no deserto onde vários encontraram a morte, alguns por sede.

 

Considerando , a incrível desesperação que obrigou cerca de 25.000 jovens dos povos negros africanos a por em risco sua vida, pedindo empréstimos para pagar coiotes a preço de ouro, para no final fracassar na tentativa às margens da Europa fortaleza, nas Ilhas Canárias.

 

Considerando, que esta desesperação encontra sua fonte no total fracasso, ainda que não confessado, das supostas políticas de desenvolvimento nacional dos Estados africanos e das supostas cooperações Norte-sul entre os países de imigração da União Européia e de emigração da África.

 

Considerando, que estas relações Norte-sul revelam sua verdadeira natureza de dominação, explorção e saque da África, pelas potências européias, em particular, as “ex coloniais”.

 

Considerando , que desde os anos 80, estes depredadores que são as Multinacionais, os Bancos, os grandes patrões europeus, acentuaram e pioraram a expoliação da África e do povo africano, com a cumplicidade de seus vasalos africanos, graças ao ditado do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (BM) e da Organização Mundial do Comércio (OMC). A África se converteu em um depósito de lixo para os resíduos tóxicos das multinacionais, é o caso da Costa do Marfim.

 

Considerando, que através destas “canoas da morte” e a esperança de encontrar um emprego na Europa, estes 25.000 jovens africanos, dos quais cerca de 1.000 se afogaram e encerraram assim sua vida no Oceano Atlântico, expressam objetivamente através desta tragédia africana a necessidade de uma vida honesta pelo trabalho e a dignidade;

 

Considerando, que os Governos europeus instrumentalizam mediaticamente os coiotes do novo “boat people” para mentir e atemorizar a opinião pública, levando-a a acreditar que estamos diante de uma invasão da rica União Européia, quando na realidade a emigração massiva segue sendo basicamente Sul/Sul. Recordemos que atualmente há mais de 300.000 refugiados no Sudão devido à guerra.

 

Considerando, que são estes Estados europeus quem ridicularizam todos os convênios internacionais que eles mesmos assinaram e ratificaram. Considerando , que os Governos africanos, tal como ocorre com Governo senegalês, utilizam esta situação para tirar partido das expulsões das pessoas sem documentação.

 

Considerando, que os Estados europeus, como ocorre com Espanha, Portugal, França e Itália, aproveitam para organizar no Senegal, Mauritânia e Cabo Verde, a ocupação militar naval das águas territoriais destos países africanos chamados independentes.

 

Considerando, que os mesmos Estados europeus transformam os países africanos em extensos campos de refugiados a céu aberto, em glacis para conter aos milhares de africanos que pretendem vir a Europa viver do seu trabalho, por falta de poder encontrar um emprego decente nos países da África.

 

Considerando, que o trabalho clandestino na Europa é um deslocamento de fato, explorado pelos donos europeus, negreiros da economia sumersa, em setores de atividades como a construção, a agricultura, a restauração, a vigilância, o turismo, o têxtil, ou inclusive pelos exércitos dos Estados alistando-os, como o soldado espanhol de origem equatoriana morto recentemente no Afeganistão.

 

Considerando, que este trabalho clandestino não declarado pelos empresários europeus constitui de 8 a 10% do Produto Interior Bruto (PIB) dos países europeus. Os sem documentos na luta nos distintos países europeus pela regularização global: – condenamos os acordos de expulsão das pessoas sem documentos vendidas hoje pelos Chefes de Estado africanos, igual que antes os negreiros brancos eram abastecidos de escravos negros pelos negreiros negros, denunciamos a guerra não declarada à juventude africana pela União Européia fortaleza e os dirigentes colaboracionistas africanos através da ocupação militar naval dos países africanos. – rechaçamos a transformação de alguns países africanos em “fronteira exterior” da Europa barricada. – exigem o final dos ditamens do fundo monetário internacional, do banco mundial e da omc, exigimos verdadeiras políticas de desenvolvimentoo nacional dos Governos africanos. – reivindicamos o fim das expulsões, o fechamento dos centros de deportação e a regularização de todas as pessoas sem documentos em todos os países da Europa. Bruxelas 24 de setembro de 2006.

 

Assinam Coordenação Nacional dos Sem Papéis (CNSP/França) – Associação de Trabalhadores Imigrantes na Espanha (ATRAIE/ Espanha) – União pela Defesa dos Sem Papéis (UDEP/Bélgica)

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