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sexta-feira, março 29, 2024

Buizingen: os ferroviários sabem porquê

Nosso apoio em primeiro lugar, às famílias e aos amigos dos 18 mortos, assim como aos 171 feridos, que vivem momentos difíceis por causa da catástrofe ferroviária de Buizingen. Por outro lado, estamos convencidos que teria sido possível evitar este acidente; e isso nos traz mais uma vez brutalmente à dura realidade da rede ferroviária atual.
 
Independentemente do que diga a investigação judicial, não atribuiremos ao condutor ou ao técnico de manutenção da sinalização a responsabilidade final do acidente. Estes não são mais que os últimos elos da corrente de uma grande máquina que se arruína. Os verdadeiros responsáveis estão muito mais acima, mas para colocar isso em evidência, é necessário analisar os problemas de nossa ferrovia no seu conjunto.
 
Em 2009, os avanços de sinais foram entre 70 e 80, o que representa cerca de 1 a cada 5 dias.  Cada vez é um risco potencial de acidente como o de Buizingen. Depois do drama de Pécrot em 2001, e ante o recrudescimento destes avanços abusivos em 2008, se tinha alertado mais uma vez. A SNCB se recusava, apesar de tudo, a investir na formação dos condutores, enquanto aumentava progressivamente os ritmos de trabalho. Foi a escolha da direção para economizar.
 
Fica claro que um erro humano sempre é possível, mas a técnica deve estar ali para minimizar as conseqüências. E este famoso sistema TBL ("Transmissão Baliza- Locomotiva") que permite o freamento automático de um trem que cruza um sinal vermelho? Quase trinta anos depois do início dos debates, reativados por causa do acidente de Pécrot que teria sido evitado desta maneira, não temos ainda nenhum sistema funcional e eficaz deste tipo na Bélgica, ao contrário dos países vizinhos. Considerando que, talvez, 15% dos sinais dispõem deste sistema, e menos de 2% dos trens, a probabilidade que um trem equipado [com o sistema] cruze um sinal equipado é de 0,3%! Deter um trem assim seria então um milagre. Tecnicamente, há soluções, mas é necessário denunciar a dispersão e a inconsistência criminal das prioridades da direção.
 
Equipar a cabine de condução de um trem com o sistema TBL custa no máximo 20.000 euros. Para os aproximadamente 1.000 trens que circulam na rede, isso representa um total de aproximadamente 20 milhões de euros. Para termos de comparação, a estação "Calatrava" de Lieja- Guillemins custou 437 milhões de euros, dos quais a parte fundamental se destinou à parte estética e com prestígio de uma estação internacional. Infrabel é o primeiro investidor do país, mas é evidente que a segurança não é sua primeira prioridade! Isso também é uma questão de prioridade política.
 
De maneira mais geral, a ferrovia sofre de muitos males: falta de pessoal, perda de competência técnica por causa da política de não contratar, que durou quase vinte anos, inconsistência e incompreensão por causa da subdivisão da empresa e de seus serviços, aumento da pressão sobre cada ferroviário, etc. Tudo isso é conseqüência da profunda reestruturação em marcha na SNCB histórica. Em 2005, a Ministro Isabelle Durant (Ecolo), aplicando as recomendações européias, dividiu à "antiga SNCB" em três entidades: Infrabel, que administra a infra-estrutura, a SNCB, que hoje é apenas uma operadora que administra as máquinas que circulam sobre esta infra-estrutura, e a SNCB Holding, que é a empregadora do conjunto dos ferroviários, ainda sob o mesmo estatuto graças à luta sindical levado à época.
 
Esta divisão entre a infra-estrutura e o equipamento móvel permeia toda a estrutura da sociedade e esquarteja serviços inteiros. Tudo deve ser orçado. Isso só conduz a absurdos e contradições inconfessáveis pelos dirigentes, em nome da Qualidade da Era européia. Aqui também, trata-se de uma prioridade política, em acordo com todos os governos europeus, com a finalidade de liberalizar o mercado dos operadores ferroviários. Assim uma empresa privada pode alugar trilhos (escolhendo os mais rentáveis) e se beneficiar de investimentos públicos em infra-estrutura.
 
Esta liberalização, já em andamento no setor de carga (com, em particular, a recente incorporação da B-Cargo), se abriu no dia 1 de janeiro de 2010 ao setor de "Viagens Internacionais" e daqui a alguns anos se estenderá às "Viagens Nacionais".
 
Por um lado, tal como ocorre no setor da eletricidade, vemos que liberalização não é em nenhum desses casos, sinônimo de redução das tarifas. Por outro lado, como já somos vítimas da inconsistência da subdivisão da corporação histórica, perguntamos: como todas as operadoras vão ser acomodadas com os serviços de infra-estrutura enquanto buscarem seu benefício individual? Tudo leva a crer que a formação dos condutores será pior e que as operadoras privadas os colocarão mais sob pressão. Estes não são mais que alguns aspectos da anarquia tipicamente capitalista para a qual o governo nos conduz. Liberalização, abertura de filiais de serviços (B-Cargo, Syntigo, Tucrail, etc.), associação entre os setores públicos e privados (Diabolo, etc.), subcontratações (obra RER, limpeza, restaurantes, etc.). O único e infeliz objetivo dos dirigentes é o de privatizar tudo que puderem. Na sua maneira de ver, o serviço público deve ser a vaca leiteira de um mercado no qual o privado está se esgotando. E isso se dá em detrimento da qualidade do serviço, ou inclusive da vida dos ferroviários e passageiros, se necessário.
 
Tudo isso parece evidente para os ferroviários, que não ficam de braços cruzados. Para defender o serviço público, são muitos os que lutam, como foi o caso recente contra a abertura da filial B-Cargo, com várias greves e numerosas ações de protesto. Os condutores são os primeiros a exigir mais segurança nos trilhos, mas para obter medidas tão essenciais, é necessário seguir lutando. Os ferroviários são plenamente conscientes da amplitude do que está em jogo, mas é a relação de força que é necessário fortalecer, organizando, todos juntos, ações e greves unitárias.
 
A política neoliberal de destruição dos serviços públicos, aplicada por todos os partidos do governo, faz também estragos no Serviço dos Correios e no ensino superior. Unifiquemos a luta de todos os serviços públicos! Organizemo-nos para exigir das direções sindicais que apresentem um plano de ação contra toda liberalização, contra toda privatização, que nos informem corretamente da situação em assembleias abertas e democráticas. Mobilizemo-nos em unidade! Aalter, Pécrot, Buizingen. Chega!  Só a luta leva a vitória!
 
 
·         A direção é responsável pelo acidente, não os ferroviários!
·         Não à liberalização e a toda privatização!
·         Por uma sociedade de ferrovia única e pública!
·         Instalação imediata de um sistema de freios automáticos!
·         Unifiquemos as lutas!
·         Solidariedade entre ferroviários e usuários!
 
Liga Comunista dos Trabalhadores
Seção belga da Liga Internacional dos Trabalhadores – QI
www.lct-cw – lct.cwb@gmail.com
 
 

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