sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Bancários enfrentam direção e vão à greve

Direção da CUT reconhece que há uma ‘rebelião de bases’.

Em São Paulo, sindicato boicota greve e ajuda banqueiros

 

Contrariando o chamado Comando Nacional da Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), ligado à CUT, bancários de várias partes do país rebelaram-se e partiram para a greve por tempo indeterminado. O estopim foi a rodada de negociação entre bancários e a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) no dia 27, quando os banqueiros apresentaram uma proposta absurda para impedir a greve.
Depois de mais de 50 dias de negociação, os patrões ofereceram apenas 2% de reajuste, o que sequer cobre a inflação do período. A proposta também inclui PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de 80% do salário acrescida de R$ 500 nos bancos que tiverem 25% de aumento em seus lucros. Isso num ano em que os bancos estimam aumentar em 43% seus rendimentos e a defasagem da categoria chega a 30% nas instituições privadas e supera 100% no Banco do Brasil.

 

Sindicato de São Paulo boicota greve

 

Apesar da intransigência dos banqueiros e da radicalização da base dos bancários, dispostos a parar por tempo indeterminado, o sindicato da categoria em São Paulo recusou-se a chamar a greve. A entidade da região que concentra a maior parte dos trabalhadores dos bancos limitou-se a convocar 24 horas de paralisação no dia 26. Por trás desse boicote, o medo de prejudicar a reeleição de Lula.

 

No entanto, na mesma semana, os bancários entraram em greve no Maranhão, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco, em Salvador, em Florianópolis, no Rio de Janeiro e em Bauru, no interior de São Paulo. Revoltados com o Comando Nacional da Contraf (CUT), constituído majoritariamente por sindicalistas ligados à central do governo e ao PT, os bancários aprovaram em várias assembléias o pedido de destituição imediata do mesmo.

 

“A Contraf (CUT) vem enterrando a greve desde o início da campanha salarial. Os bancários estão revoltados. Em Bauru, onde estamos em greve desde o dia 26, vamos lançar um jornal com o lema: ‘Bancário grevista não pode ser representado por bancário fura-greve'”, afirma Luís Alberto Castilho, representante de base, em referência ao fato de o comando não apoiar a greve, mas negociar em nome dos bancários grevistas.

O sindicato de São Paulo, dirigido por Luís Cláudio Marcolino, da mesma turma de Ricardo Berzoini e outros envolvidos em escândalos de corrupção, como Luiz Gushiken, adiou a greve para o dia 4, após as negociações com a Fenaban, marcadas para o dia 3. Burocraticamente, tentou impedir a todo custo a realização de assembléias.

O Movimento Nacional de Oposição Bancária, por outro lado, exigiu convocação de assembléia imediata para a deflagração da greve por tempo indeterminado. O racha no movimento teve destaque na imprensa. Na revista IstoÉ, um diretor da CUT que não se identificou reconheceu que a central estava sendo atropelada pela categoria. “Foi uma rebelião da base”, afirmou.

 

Mesmo com a posição traidora do sindicato, a greve ampliou-se para outros estados, demonstrando a disposição de luta dos bancários. Além dos que permaneciam em greve desde a semana anterior, bancários do Piauí, da Paraíba, de Alagoas, do Tocantins, da Bahia, de Belo Horizonte, de Brasília, de Goiás e de Porto Alegre aderiram à paralisação. Os próprios sindicatos dirigidos pela Articulação, mesma corrente petista da direção da CUT e da Contraf, foram obrigados a aderir à greve.

 

Apesar do fortalecimento da greve, a posição do sindicato de São Paulo permitiu que os banqueiros não avançassem na proposta de reajuste. Na nova rodada de negociações, realizada na tarde do dia 3, a Fenaban propôs apenas 0,85% a mais de reajuste, aumentando sua proposta para ridículos 2,85%.

 

Bancários X Contraf (CUT)

 

Para enfrentar o sindicato, os bancários elegeram representantes de base nas regiões em greve, constituindo o Comando Nacional de Base, que se reuniu no dia 2 em São Paulo. Estiveram presentes representantes da base de Bauru, do Rio Grande do Norte, do Maranhão, de Florianópolis e de Salvador. Eleito democraticamente na base da categoria, ao contrário do comando da Contraf (CUT), o grupo exige participar de todas as negociações dos bancários com a Fenaban.

 

“Estamos com uma greve muito forte no Maranhão, sobretudo nos bancos públicos. Aprovamos a destituição do Comando Nacional dos Bancários e elegemos um representante de base, mas a Contraf não aceitou que participássemos das negociações”, denuncia Davi Sá Barros, representante de base. “A Articulação atropelou seus próprios sindicatos, que perderam a finalidade de representar a categoria”, afirma o bancário.

Hamilton Garcez, bancário do Banco do Brasil e representante de base de Florianópolis, diz que a categoria está indignada com a direção da confederação. “Está todo mundo revoltado. Fui eleito como delegado de base à revelia do sindicato. Todo mundo sabe que esse comando da Contraf sofre interferência política”, afirma. “O Comando Nacional é chapa branca. Eles estão lá só para representar os interesses do governo”, denuncia Juari Luís Chagas, representante do Rio Grande do Norte.

 

Em carta lançada à categoria, o Comando de Base convoca os bancários que não estiverem em greve a aderir ao movimento. O grupo defende ainda “impulsionar as negociações dos bancos públicos em torno das mesas específicas, rompendo com a mesa única e reforçar a campanha unificada da categoria”. Mesmo com a orientação de greve a partir do dia 4 pela Contraf, os bancários não devem depositar nenhuma confiança nos representantes da CUT e do governo, e precisam eleger seus próprios representantes de base para negociar com os banqueiros.

 

Iniciativas da Conlutas

 

A Conlutas está solicitando aos sindicatos no país inteiro que apóiem a greve e disponibilizem suas estruturas para a luta. A entidade, junto com a Oposição Bancária, está realizando um levantamento diário da greve para informar imprensa e sindicatos. Tais iniciativas mostram o comprometimento da entidade com essa luta, ao contrário da paralisia da CUT.

 

Bancários em greve lançam carta

 

O comando de bancários grevistas eleitos nas assembléias de base do Maranhão, Rio Grande do Norte, Bahia, Bauru e Florianópolis, reunidos em São Paulo no dia 02/10/2006, para representarem a categoria fortemente mobilizada Brasil afora, discutiram e resolveram o que segue:

 

Considerando:

1) Que a greve da categoria, iniciada dia 26/09, cresce vigorosamente a cada dia por todo o país;

2) Que apesar do calendário do Comando Nacional da Contraf/CUT apontar o início da greve para 04/10, a cada dia aumentam as adesões mesmo nas bases sindicais que seguem a orientação da própria Contraf;

3) Que a greve é expressiva nacionalmente no BB, na Caixa e demais bancos públicos, como BESC, BNB e BASA, e também cresce nos bancos privados;

 

4) Que é importante superar a tática do governo de não negociar diretamente as questões específicas dos bancos públicos, invariavelmente ignoradas na mesa única de negociação da Fenaban, como também ignoradas nas “pseudo-negociações específicas”, que nunca trouxeram qualquer resultado concreto aos bancários do BB e da Caixa;

 

5) Que as questões específicas (Cassi, Saúde Caixa, previdência, jornada de 6 horas sem redução de salário, isonomia para os novos bancários, reposição das perdas salariais, retorno do anuênio e antigo PCS, anistia dos dias parados) são muito caras aos bancários do BB e da Caixa para não serem tratadas adequadamente na mesa única da Fenaban;

 

6) Que para a greve ser vitoriosa é preciso as demais bases aderirem imediatamente a greve, particularmente São Paulo, maior concentração de bancários do país;

 

Resolvem:

1) Convocar a parte da categoria que ainda não tenha aderido ao já expressivo movimento a entrar urgentemente em greve para fortalecer ainda mais a luta dos bancários;

 

2) Conclamar assembléias que ainda não elegeram seus representantes para o Comando Nacional de Base que o façam para se somarem a este Comando;

 

3) Que estes representantes legitimamente eleitos pelos bancários grevistas devam participar da negociação com a Fenaban e bancos públicos, já a partir de hoje 03/10, para também exigir o não-desconto dos dias parados como um dos itens fundamentais da mesa;

 

4) Impulsionar as negociações dos bancos públicos em torno das mesas específicas, rompendo com a mesa única e reforçar a campanha unificada da categoria.

 

Assinam,

David Sá Barros

Representante de base do Maranhão (BB)

 

Juary Luís Chagas

Representante de base do Rio Grande do Norte (Caixa)

 

André Luís Esteves Mendes

Representante de base de Bauru-SP (Caixa)

 

Carlos Alberto Castilho

Representante de base de Bauru-SP (Caixa)

 

Neri Clademir de Azevedo

Representante de base da Bahia (BB)

 

Hamilton Garcez

Representante de base de Florianópolis-SC (BB)

 

Jorge Silva Oliver

Representante de base de Salvador-BA (Caixa)

 

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