Depois de muito tumulto, terminou por volta das 16h, desta quinta-feira, a assembléia dos trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo (SP). A assembléia contou com a participação de 10 mil pessoas. Muitas manobras garantiram que o sindicato do ABC conseguisse aprovar um plano firmado com a direção da fábrica.
A votação foi repleta de polêmicas. O presidente do sindicato dos metalúrgicos, José Lopez Feijóo, declarou a imprensa que 70% dos metalúrgicos votaram pela proposta. Mas o número é contestado pelos próprios operários da Volks, que afirmam que 55% votaram a favor do plano e 45% contra.
Manobras
A assembléia foi marcada por diversas atitudes inéditas que auxiliaram na aprovação da proposta do sindicato e da direção da Volks. Utilizando-se de chantagens sobre os operários, a direção da Volks distribuiu uma carta um dia antes da assembléia. A carta dizia: “No caso de não haver acordo, a fábrica Anchieta não receberá investimentos (…), colocando em risco o emprego de todos”. Tais ameaças pretendiam colocar uma espada sobre a cabeça dos trabalhadores. Muitos ficaram com medo de a fábrica fechar, caso o acordo não fosse aprovado.
Outra manobra da Volks foi a colaboração dos trabalhadores mensalistas, que foram liberados do serviço para votar a favor do acordo. Segundo metalúrgicos da Volks, estavam presentes de
Também foi evidente a presença de várias pessoas que não eram ligadas aos metalúrgicos da Volks. Muitos eram de Comissões de Fábricas de outras empresas e militantes com camisas onde estava es
Além disso, ônibus foram colocados ao lado das grades que separam a fábrica da Via Anchieta, impedindo que faixas contra o acordo – entre elas as da Conlutas – fossem vistas pelos operários na assembléia.
Na assembléia se destacou a atuação da oposição, que distribuiu panfletos e o boletim “Ferramenta” contra o acordo, chamando a continuidade da luta dos operários. Mas infelizmente, a oposição não conseguiu ter acesso à palavra na assembléia devido a mais completa falta de demo
O acordo
O acordo aprovado prevê a implementação de um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para 3.600 funcionários até 2008. Na primeira fase do programa, a meta é atingir entre 1.300 e 1.500 adesões. Para aqueles que aderirem ao plano até 25 de novembro, a fábrica vai pagar 1,4 salário extra por ano trabalhado. Além disso, cerca de 500 metalúrgicos que estão no CFE (Centro de Formação e Estudo) serão demitidos, mas para eles a fábrica vai pagar salários de apenas 0,6 por ano trabalhado.
Um metalúrgico que não quis se identificar, com 27 anos de casa e há dois anos do CFE, disse que não vê perspectivas diante de sua eminente demissão: “Minha perspectiva é péssima porque se você tem 51 anos de idade e vai para a rua, tem poucas condições de arrumar outro emprego”.
Também será
Até o final de 2008, outras 1.600 demissões serão feitas em mais quatro etapas do PDV, com salários que variam de
Revolta
Muitos trabalhadores deixaram a assembléia revoltados com o sindicato. Acusavam a direção de ter explicado mal a proposta em uma assembléia anterior, realizada na segunda-feira, dia 11.
“Não foi explicado direito pra nós. A primeira coisa que eles colocaram pra nós é que eles não negociariam demissões, mas acabaram de negociar. O sindicato simplesmente traiu a categoria. Depois desse acordo ninguém tem mais garantia de emprego”, disse um operário que está há três anos no CFE.
Desde o início da assembléia, José Lopez Feijóo recebeu vaias dos metalúrgicos. Ele respondeu: “Muitos estão tumultuando aí dentro”. Depois da votação, um grupo de metalúrgicos cercou Feijóo e o chamou de traidor. Outros operários, claramente descontentes, também chamaram a direção do sindicato de “mentirosos” e “traidores”.
Um sindicato associado a patronal
Após a assembléia, Feijóo deu uma entrevista coletiva na sede do sindicato do ABC. Ele disse, sem disfarçar seu orgulho, que o acordo foi importante, pois garantiu “um processo de reestruturação que dura há mais de 20 anos. É o mais lento do país”. Para Feijóo, o papel de qualquer sindicato é negociar demissões, mesmo graduais, dos trabalhadores.
O presidente também disse que o acordo prevê a fabricação de dois novos modelos de automóveis na fábrica do ABC, e que não poderia revelá-los, pois se tratava de uma questão de “segredo industrial”. “Não queremos que a concorrência saiba quais são esses novos modelos. É uma questão de segredo industrial”.
Taubaté e ABC
O modelo imposto pela empresa em conjunto com a direção do sindicato é muito semelhante ao acordo realizado na unidade da Volkswagem em Taubaté (SP), finalizado em 1º de agosto entre a empresa e o sindicato, dirigido pela Articulação, mesmo grupo que dirige o sindicato do ABC. Nele, a primeira etapa da reestruturação cortou 160 funcionários. Outros 140 serão demitidos até dezembro e mais 400 nos próximos dois anos.
Diante da revolta dos operários do ABC, Feijóo se viu obrigado a rejeitar o acordo feito em Taubaté: “Não vale para a fábrica da Anchieta e não será aceito como exemplo”, disse na ocasião. Entretanto, o pacote fechado na Anchieta é praticamente o mesmo ao de Taubaté.
Pedra no sapato
As mobilizações dos operários da Volks, iniciadas em maio, estavam se transformando em uma pedra nos sapatos da direção do sindicato do ABC. Desde o início, esta tentou, por diferente meios, terminar o mais rápido possível com as mobilizações. A preocupação era de que o re
O acordo aprovado na assembléia do ABC não acaba com o fantasma das demissões na Volks. E está sendo visto como uma traição do sindicato a toda luta dos metalúrgicos da Volks.
Mesmo com a aprovação do acordo, o sindicato acumulou um grande desgaste perante os metalúrgicos da Volks. Para os trabalhadores, fica cada vez mais clara a parceria entre a direção da empresa e o sindicato. As demissões são o único resultado do dito “sindicalismo de resultados”.
Ferramenta
Jornal da oposição que foi distribuído na Volks
Os textos publicados no jornal Ferramenta de Luta, da oposição na Volks ligada à Conlutas, estão abaixo. O jornal foi distribuído antes da assembléia deste 14 de setembro.
Proposta de 1,4 é válida só para os 1.500. Os demais pegam 0,8. Vamos rejeitar!
Muitos companheiros estão achando que a proposta de 1.4 é para quem se ins
O 1.4 é só para os primeiros 1500, sendo que 1300 para novembro e 200 ficarão na geladeira. Além disso, terão que atender os
Essa proposta é muito ruim e desigual, já que uns pegam 1.4, enquanto outros pegam 0.8, 0.6, 0.3 etc. Vamos rejeitar essa proposta e vamos construir outra que não passe pela demissão.
Proposta negociada é a mesma de Taubaté!
Diga não às demissões e à retirada de direitos
A proposta apresentada pelo Vagnão segue mesma essência do acordo feito
E, além disso, a cada ano será a mesma agonia para os que ficam, pois a intenção é demitir mais 1.200 trabalhadores no ano que vem e mais 600 em 2008, completando assim as 3.600 demissões que a VW queria.
Assim, vemos que esta é a mesma proposta que foi aceita em Taubaté, com o diferencia no valor do pacote, que é de 1,4.
A proposta da Volks é desumana, principalmente, com os companheiros que adquiriram doença profissional, pois os jogam para fora da fábrica e dão um pacote especial.
Com essa proposta a VW e o Sindicato estão passando por cima da lei, que dá garantia de emprego até a aposentadoria. Então, por tudo isso, na quinta-feira vote NÃO na proposta negociada pela Volkswagen e a direção do Sindicato.
É possível construir outra saída com luta
A luta mostrou que é possível construir outra saída, tanto que a proposta inicial da empresa era outra. A Volks só suspendeu as demissões e o Governo só suspendeu o empréstimo do BNDES depois da greve dos trabalhadores e da pressão feita pela Oposição e pelo Ferramenta. Mas, se dependêssemos da direção do Sindicato, iríamos nos dar mal, pois com certeza eles mudado a tática e talvez nem essa proposta existisse.
A paralisação da planta Anchieta obrigou a VW a dar coletivas por falta de peças em Taubaté e São José dos Pinhais. Isto também aconteceria nas autopeças da região, como na Arteb, Kostal, ex-Metal Leve, etc.
A solidariedade que despertou em toda a classe trabalhadora é outro elemento positivo que surgiu durante nossa mobilização. Enfim, tudo isso indica que é possível enfrentar a empresa e ganhar a parada. A direção deve fazer um fundo de greve.
Na Bélgica os trabalhadores lutaram contra a Renoir e ganharam. Na França, a luta contra as demissões obrigou o Governo a reduzir a jornada de trabalho para 35 h semanais.
O nosso movimento, com cinco dias de greve fez a Volkswagen apresentar outra proposta. Isso mostra que é preciso luta e mobilização.
Direção da empresa falta com a verdade quando diz que a Volks está
A matéria do jornal Folha de São Paulo do último dia 09 de setembro com o título “Volks mundial afirma que Brasil vai bem” mostra que a empresa mente quando diz que está
A direção do Sindicato, ao fazer o acordo, mostra que concorda com as demissões e só discordava da forma que a empresa estava fazendo. E, para piorar, o Sindicato aceita que a empresa retire direitos dos trabalhadores.
A direção do Sindicato do ABC só está preocupada em garantir o emprego do Lula. Foi por isso, que o Ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e a Ministra das Minas e Energia, Dilma, vieram negociar o acordo.
Os dois só compareceram à fábrica porque o movimento ganhou dimensão nacional e começou a ser debatido nos programas eleitorais.
Esse era o melhor momento para fazer o debate sobre o emprego, mas, a direção sindical preferiu negociar um pacote que aceita demissões, ao invés de enfrentar o debate.
Volks mundial afirma que Brasil vai bem
ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo
Em conversa com analistas na última segunda-feira, em Londres, o comando do grupo Volkswagen disse que há previsão de “forte demanda“ por veículos da marca na América do Sul, com uma “bem-sucedida mudança nos rumos“ da empresa na região. Afirma ainda que “as vendas aos consumidores no Brasil têm
A taxa de
O lu
Os dados fizeram parte da exposição a analistas coordenada pelo presidente do grupo Volkswagen, Bernd Pischetsrieder, e por seu diretor financeiro, Hans Dieter Poetsch.
Manter a luta e exigir de Lula a estatização da Volks sobre o controle dos trabalhadores
Temos que rejeitar a proposta da empresa e manter a luta até que os patrões recuem, caso contrário, vamos exigir que o Governo nacionalize a empresa sob o controle dos trabalhadores.
Isto porque o dinheiro que a empresa pegou emprestado nesses últimos anos e , que ainda não pagou, pertence aos trabalhadores, portanto, devemos confiscar as máquinas. É mentira que a Volks quer sair do Brasil, mas, se quer ir realmente embora, que vá.
Podemos transformar a Volkswagen em uma empresa verdadeiramente brasileira de automóveis, fazendo carros baratos e mantendo os empregos dos trabalhadores. Por isso, nesta quinta-feira, vote NÃO ao acordo e vamos melhorar a proposta, para que ela que sirva para todos.
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