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quinta-feira, março 28, 2024

Mineiros fazem greve contra a filial da Vale do Rio Doce

Mineradora com matriz no Brasil tenta retirar direitos de trabalhadores da Vale Inco, no Canadá

 

Igor Garcia, de Minas Gerais

 

Não é só no Brasil que a mineradora Vale (ex-Vale do Rio Doce) ataca os trabalhadores. A empresa, privatizada nos anos 90, sob o governo de FHC, atua como qualquer outra multinacional, explorando a mão-de-obra e saqueando os recursos naturais em todo o mundo. No Canadá, a empresa comprou em 2006 a mineradora Inco, e passou a atuar sob o nome Vale Inco. Agora, utiliza a crise econômica para iniciar um grande ataque contra os direitos dos mineiros do Canadá, que reagem com uma forte greve.

 

Os trabalhadores da Vale Inco estão parados desde 13 de julho, contra a proposta final de acordo coletivo feita pela Vale para o período de 2009 a 2011. Participam da greve cerca de 3.500 mineiros das comunidades de Sudbury, Port Colborne e Voisey’s Bay na província (estado) de Ontário. Juntas, as minas desta região são responsáveis por 31% da produção mundial de níquel da Vale.

 

A proposta final feita pela empresa foi rejeitada por 85% dos filiados ao sindicato USW (United Steel Workers), pois contêm diversos ataques a direitos dos canadenses, como o abono do níquel, o plano de pensões, a reposição automática da inflação e a luta contra a terceirização.

 

A Vale quer elevar o valor mínimo para conceder o abono do níquel dos atuais 2,25 dólares canadenses para 5 dólares canadenses, além de impor tetos que reduzem significativamente futuros abonos. O sistema de abono do níquel é uma forma de participação nos lucros parecida com a PLR, usada em empresas brasileiras ao final de cada ano, de acordo com os resultados. Quando o preço do níquel está alto, os trabalhadores recebem um percentual deste valor. Quando o preço do níquel está baixo, a empresa não paga nada. Mesmo estando agora em um momento de baixa do preço, em que a Vale não está pagando nada, a empresa quer impor uma reestruturação estratégica e reduzir permanentemente o valor deste benefício.

 

Em relação ao plano de pensões, a proposta da Vale criaria um sistema de dois níveis de aposentadoria, em que os antigos funcionários continuariam recebendo na forma de Benefício Definido, mas os novos funcionários passariam a receber na forma de Contribuição Definida, perdendo vários benefícios e tornando-se de fato trabalhadores mais precarizados.

 

Há também a proposta de congelamento dos salários, através de cortes no sistema de reposição automática da inflação. Hoje, os trabalhadores têm uma espécie de “gatilho”, que reajusta os salários automaticamente de acordo com a inflação. A Vale está propondo que o reajuste não seja mais incorporado aos salários, o que causaria dois problemas: o congelamento dos salários e a possibilidade de perda futura deste benefício.

 

A Vale quer ainda ampliar a terceirização dentro das minas, permitindo que empregados das terceiras operem empilhadeiras e guindastes e dirijam caminhões da empresa, o que não é permitido hoje.

 

Como se vê, os ataques são muito violentos, e caso a Vale consiga implementá-los, poderá significar uma derrota histórica dos mineiros canadenses, rebaixando seus direitos e salários aos níveis praticados em outros países.

 

Por isso, a postura da Vale tem sido tão intransigente. A empresa quer aproveitar a crise econômica para cortar custos, reduzindo direitos dos trabalhadores.

 

Mas na verdade, a empresa não precisaria fazer nada disso. A Vale é a mineradora mais lucrativa do mundo. Lucrou US$ 10,5 bilhões em 2008, tem US$ 12,6 bilhões em caixa, pagou US$ 2,5 bilhões aos acionistas este ano, e ainda distribuiu US$ 6,5 milhões a cada um dos seus 6 diretores executivos mundiais, valor que um trabalhador brasileiro levaria 800 anos para ganhar.

 

Depois que a Vale comprou a Inco, em 2006, ela lucrou US$ 4,1 bilhões em apenas 2 anos, enquanto a Inco havia lucrado US$ 2,2 ao longo de 10 anos!

 

Solidariedade


Por isso, é uma tarefa urgente dos trabalhadores brasileiros e de todo o mundo, em especial os da Vale, apoiar ativamente a greve dos mineiros canadenses e ajudar para que ela possa ser vitoriosa. A Conlutas e seus sindicatos de mineração já enviaram moções e cartas de apoio, que estão publicadas no site da greve.

 

Além disso, uma delegação de companheiros do sindicato USW estará no Brasil entre os dias 11 e 19 de agosto, divulgando sua greve e conhecendo os sindicatos da Vale daqui. Além dos sindicatos ligados à CUT, os canadenses também visitarão os sindicatos ligados à Conlutas, como os de Itabira e Congonhas, em Minas Gerais. Esta será uma oportunidade única para estreitar nossos laços de solidariedade e fortalecer esta greve, que caso seja vitoriosa, se transformará em um exemplo a ser seguido em todo o mundo.

 

Todo apoio à greve dos trabalhadores da Vale Inco do Canadá!

 

Visite o site da greve – http://www.fairdealnow.ca/ e envie sua mensagem de solidariedade – info@fairdealnow.ca

 

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Artigo publicado no site da Conlutas em 29/07/2009

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