O PO volta a atacar Nahuel Moreno. Dessa vez em um artigo de Julio Magri[1], que acusa Moreno de ter apoiado a ditadura de Batista contra Fidel Castro, de ser parte da esquerda gorila durante o peronismo, de apoiar a “Libertadora” contra Perón, de capitular à buro
Moreno se destacou dentre outros dirigentes trotskistas não apenas por sua preocupação em encontrar as melhores táticas para levar o programa revolucionário à classe operária, mas também por sua atitude frente a seus erros. Na fundação da LIT-QI, dizia: “(…) os dirigentes do movimento trotskista se consideravam colossos que não erravam nunca… Essa desagradável experiência de andar sempre entre “gênios” levou-nos a fazer propaganda sobre nossa base para convencê-la de que nos equivocamos muito, que devem pensar por sua própria conta, já que nossa direção não é garantia de genialidades”. Assim, Moreno disse em mais de uma ocasião que: 1) num primeiro momento não identificou a revolução cubana como tal e que (da mesma maneira que a imensa maioria da esquerda argentina) associou a revolução cubana com a chamada “revolução libertadora” que derrubou Perón; 2) no princípio teve uma política sectária em relação ao peronismo; 3) enganou-se na primeira caracterização que fez da ditadura de Videla.
Altamira, um desses “colossos” que nunca erram, educa sua base de outra maneira: inunda a Capital Federal com panfletos que explicam como ele é um desses poucos homens “imprescindíveis” de que falava Brecht[2] e incentiva seus es
Altamira segue o conselho de Goebbels (chefe de propaganda de Hitler): “minta, minta, minta. que alguém a
Moreno fez parte da esquerda “gorila”[3] e apoiou o golpe contra Perón?
A verdade histórica é que a primeira organização dirigida por Moreno, o GOM, superou o sectarismo de seus primeiros anos e, embora seus dirigentes tivessem em média apenas 20 anos, teve o mérito de ingressar na CGT e em seus sindicatos. Acompanhando a nova classe operária, Moreno e sua corrente foram fundadores de sindicatos e federações. Conseguiram assim uma integração com a classe operária como nenhuma outra organização trotskista conseguiu. Onde está o acordo com a esquerda gorila (PC, PS), se ela se negava a entrar nos sindicatos com o argumento de que sua direção era fascista? Qual é a capitulação à buro
Quanto ao golpe de 1955, é suficiente observar os números do jornal La Verdad[4] dessa época, exigindo ao governo Perón armas para enfrentar o golpe e chamando a CGT a encabeçar a resistência operária, para saber de que lado Moreno se colocou frente ao golpe da Igreja e do imperialismo ianque. O historiador Milcíades Peña cita um dirigente operário que, referindo-se à corrente de Moreno, em 1957, dizia: “Desejo declarar publicamente que eu, dirigente peronista, gostaria de ter a clareza e a valentia com que os companheiros trotskistas identificaram os erros do peronismo enquanto combatiam à revolução libertadora”.[5]
A resistência peronista e o “entrismo” nas “62 Organizações”
Pouco antes de triunfar o golpe, surgiu uma forte resistência operária e popular. A vanguarda dessa luta se agrupava nas chamadas “62 Organizações Peronistas”. Para aprofundar sua relação com essa vanguarda operária e avançar na construção do partido revolucionário, Moreno aplicou a tática que Trotsky havia aconselhado ao pequeno grupo peruano em relação ao APRA[6]: o “entrismo”.
O “entrismo” impõe algumas condições, nesse caso a de colocar no jornal que a corrente de Moreno editava (Palabra Obrera) que se aceitava a disciplina do General Perón. Condição fácil de aceitar porque nesse momento Perón não impunha disciplina alguma. Por isso, através do Palabra Obrera era possível chegar a milhares de militantes, questionando a direção da buro
Cúmplice da saída institucional de Lanusse-Perón?[7]
Isto é o que nos diziam todos os que, no início dos anos 70 gritavam: “Nem golpe, nem eleição: revolução!” e em 73 terminaram chamando o voto no peronismo. Moreno foi o único que soube ver que o Cordobazo obrigaria a ditadura a dar uma saída eleitoral. Com a consigna “A legalidade é um triunfo das massas, não aproveitá-la é uma traição”, desde 1971, chamávamos a construção de um Pólo Operário e Socialista para organizar a vanguarda classista surgida com o Cordobazo e dar uma alternativa para as lutas e para as eleições.
Nenhum setor da esquerda aceitou essa proposta. Fomos os únicos que demos uma alternativa de classe às massas que iriam para as eleições confiando em que a saída seria a volta de Perón.
Essa política possibilitou a construção do PST como um aguerrido partido que esteve na primeira linha nas lutas operárias e estudantis contra os governos de Perón e Isabel. Não foi por casualidade que sofremos os massa
E o PO? Foi uma dessas organizações que por não saber analisar a dinâmica da luta de classes ficaram sem saber o que fazer nas eleições. No final, Altamira terminou indicando uma política ambígua: Vote em branco ou Vote no PST.
Moreno e o PST capitularam à ditadura de Videla?
Essa é a acusação mais
A intransigência antiditatorial e a política de pôr em primeiro lugar a derrota do imperialismo durante a Guerra das Malvinas fez com que nossa corrente saísse muito fortalecida após a queda da ditadura. Isso permitiu, a partir de
Chegou a hora de que os militantes do PO reflitam
Sabemos que temos diferenças, por isso estamos em partidos diferentes. Vocês podem opinar que o “entrismo” nas “
É possível que os militantes do PO a
Nunca lhes passou pela cabeça perguntar por que Altamira ataca com tanta sanha um dirigente trotskista morto há 20 anos? Pode ser que este último ataque de Magri tenha sido detonado pelo Le Monde Diplomatic, que publicou a biografia de Moreno e não a de Altamira. Entretanto, seguramente há alguma razão de fundo que explique esse ataque persistente. Essa histeria não seria provocada provavelmente porque, apesar da derrota histórica que significou a destruição do MAS, o projeto de Moreno segue vivo, como o demonstram a construção do PSTU, da CONLUTAS e as novas organizações que se aproximam da LIT-QI? Altamira poderá dizer a mesma coisa de seu projeto autoproclamatório e de sua ridícula pretensão de haver reconstruído a IV Internacional?
[1] “Nahuel Moreno, uma biografia recente”, por Julio Magri, em www.po.org.ar
[2] Bertold Brecht es
[3] Nome dado à esquerda antiperonista aliada à burguesia e às forças pró-imperialistas “demo
[4] Jornal da corrente morenista entre 1954 e o golpe.
[5] Citado em O trotskismo operário e internacionalista na Argentina, Tomo I.
[6] APRA: organização nacionalista burguesa de massas, que nos anos 30, com um discurso antiimperialista organizava o melhor da vanguarda operária e popular do Peru.
[7] Em 1971, com a intenção de desviar o ascenso operário e popular aberto com o Cordobazo (1969), o presidente militar, general Lanusse propôs um plano de abertura demo