qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Outra infâmia do PO contra Nahuel Moreno

O PO volta a atacar Nahuel Moreno. Dessa vez em um artigo de Julio Magri[1], que acusa Moreno de ter apoiado a ditadura de Batista contra Fidel Castro, de ser parte da esquerda gorila durante o peronismo, de apoiar a “Libertadora” contra Perón, de capitular à burocracia peronista, de apoiar a saída institucional de Lanusse-Perón, de capitular à ditadura de Videla.

 

Moreno se destacou dentre outros dirigentes trotskistas não apenas por sua preocupação em encontrar as melhores táticas para levar o programa revolucionário à classe operária, mas também por sua atitude frente a seus erros. Na fundação da LIT-QI, dizia: “(…) os dirigentes do movimento trotskista se consideravam colossos que não erravam nunca… Essa desagradável experiência de andar sempre entre “gênios” levou-nos a fazer propaganda sobre nossa base para convencê-la de que nos equivocamos muito, que devem pensar por sua própria conta, já que nossa direção não é garantia de genialidades”. Assim, Moreno disse em mais de uma ocasião que: 1) num primeiro momento não identificou a revolução cubana como tal e que (da mesma maneira que a imensa maioria da esquerda argentina) associou a revolução cubana com a chamada “revolução libertadora” que derrubou Perón; 2) no princípio teve uma política sectária em relação ao peronismo; 3) enganou-se na primeira caracterização que fez da ditadura de Videla.

 

Altamira, um desses “colossos” que nunca erram, educa sua base de outra maneira: inunda a Capital Federal com panfletos que explicam como ele é um desses poucos homens “imprescindíveis” de que falava Brecht[2] e incentiva seus escribas a utilizar o reconhecimento que Moreno fazia de seus próprios erros para armar uma campanha difamatória contra ele.

 

Altamira segue o conselho de Goebbels (chefe de propaganda de Hitler): “minta, minta, minta. que alguém acreditará”. Por isso acreditamos ser necessário mostrar aos jovens militantes qual é a verdade histórica, destruindo essa corrente de mentiras.

 

Moreno fez parte da esquerda “gorila”[3] e apoiou o golpe contra Perón?

 

A verdade histórica é que a primeira organização dirigida por Moreno, o GOM, superou o sectarismo de seus primeiros anos e, embora seus dirigentes tivessem em média apenas 20 anos, teve o mérito de ingressar na CGT e em seus sindicatos. Acompanhando a nova classe operária, Moreno e sua corrente foram fundadores de sindicatos e federações. Conseguiram assim uma integração com a classe operária como nenhuma outra organização trotskista conseguiu. Onde está o acordo com a esquerda gorila (PC, PS), se ela se negava a entrar nos sindicatos com o argumento de que sua direção era fascista? Qual é a capitulação à burocracia peronista? Lutar pela direção nos sindicatos que ela dirigia?

 

Quanto ao golpe de 1955, é suficiente observar os números do jornal La Verdad[4] dessa época, exigindo ao governo Perón armas para enfrentar o golpe e chamando a CGT a encabeçar a resistência operária, para saber de que lado Moreno se colocou frente ao golpe da Igreja e do imperialismo ianque. O historiador Milcíades Peña cita um dirigente operário que, referindo-se à corrente de Moreno, em 1957, dizia: “Desejo declarar publicamente que eu, dirigente peronista, gostaria de ter a clareza e a valentia com que os companheiros trotskistas identificaram os erros do peronismo enquanto combatiam à revolução libertadora”.[5]

 

A resistência peronista e o “entrismo” nas “62 Organizações”

 

Pouco antes de triunfar o golpe, surgiu uma forte resistência operária e popular. A vanguarda dessa luta se agrupava nas chamadas “62 Organizações Peronistas”. Para aprofundar sua relação com essa vanguarda operária e avançar na construção do partido revolucionário, Moreno aplicou a tática que Trotsky havia aconselhado ao pequeno grupo peruano em relação ao APRA[6]: o “entrismo”.

 

O “entrismo” impõe algumas condições, nesse caso a de colocar no jornal que a corrente de Moreno editava (Palabra Obrera) que se aceitava a disciplina do General Perón. Condição fácil de aceitar porque nesse momento Perón não impunha disciplina alguma. Por isso, através do Palabra Obrera era possível chegar a milhares de militantes, questionando a direção da burocracia, chamando a organização política independente da classe operária e enfrentando as políticas de Perón, como o chamado a votar em Frondizi. Quando Perón começou a impor disciplina, como foi o caso do voto em Frondizi, em 1958, a corrente de Moreno começou a organizar a saída das “62″.

 

Cúmplice da saída institucional de Lanusse-Perón?[7]

 

Isto é o que nos diziam todos os que, no início dos anos 70 gritavam: “Nem golpe, nem eleição: revolução!” e em 73 terminaram chamando o voto no peronismo. Moreno foi o único que soube ver que o Cordobazo obrigaria a ditadura a dar uma saída eleitoral. Com a consigna “A legalidade é um triunfo das massas, não aproveitá-la é uma traição”, desde 1971, chamávamos a construção de um Pólo Operário e Socialista para organizar a vanguarda classista surgida com o Cordobazo e dar uma alternativa para as lutas e para as eleições.

 

Nenhum setor da esquerda aceitou essa proposta. Fomos os únicos que demos uma alternativa de classe às massas que iriam para as eleições confiando em que a saída seria a volta de Perón.

 

Essa política possibilitou a construção do PST como um aguerrido partido que esteve na primeira linha nas lutas operárias e estudantis contra os governos de Perón e Isabel. Não foi por casualidade que sofremos os massacres de Pacheco e La Plata e que Nahuel Moreno ocupou os primeiros postos nas listas da Tríplice A.

 

E o PO? Foi uma dessas organizações que por não saber analisar a dinâmica da luta de classes ficaram sem saber o que fazer nas eleições. No final, Altamira terminou indicando uma política ambígua: Vote em branco ou Vote no PST.

 

Moreno e o PST capitularam à ditadura de Videla?

 

Essa é a acusação mais cretina. Independentemente das diferenças políticas, nunca houve dúvidas na vanguarda operária e nas organizações de esquerda sobre a conseqüência do PST na luta contra a ditadura. Por impulsionar consequentemente a resistência operária e popular, pagamos com mais de 100 companheiros desaparecidos.  Só uma grande solidez ideológica e um grande convencimento na política antiditatorial de seu partido pode explicar a firmeza com que nossos companheiros enfrentaram a tortura e que lhes valeu o respeito dos presos políticos de todas as organizações.

 

A intransigência antiditatorial e a política de pôr em primeiro lugar a derrota do imperialismo durante a Guerra das Malvinas fez com que nossa corrente saísse muito fortalecida após a queda da ditadura. Isso permitiu, a partir de 1982, a construção do maior partido de esquerda da Argentina, o MAS, que se converteu rapidamente em um pólo de organização política e sindical da vanguarda operária dos anos oitenta.

 

Chegou a hora de que os militantes do PO reflitam

 

Sabemos que temos diferenças, por isso estamos em partidos diferentes. Vocês podem opinar que o “entrismo” nas “62″ foi um desastre político, que a tática eleitoral do PST foi equivocada. mas podem dizer que Moreno apoiou a Libertadora ou que o PST capitulou à ditadura de Videla? Num próximo número mostraremos como também é falso o que Magri diz sobre a política de Moreno diante da revolução cubana e da revolução boliviana de 1952.

 

É possível que os militantes do PO acreditem que é lícito falsificar a história e inventar calúnias para prejudicar os adversários políticos? Esses métodos não são muito parecidos com aqueles utilizados por Stalin? Será possível que vocês, que sempre estão nas lutas, nunca tenham se perguntado por que são rechaçados pela maior parte do ativismo? Não será essa metodologia do “vale tudo” para derrotar o adversário e a política de destruir o que não dirigem a causa desse rechaço?

 

Nunca lhes passou pela cabeça perguntar por que Altamira ataca com tanta sanha um dirigente trotskista morto há 20 anos? Pode ser que este último ataque de Magri tenha sido detonado pelo Le Monde Diplomatic, que publicou a biografia de Moreno e não a de Altamira. Entretanto, seguramente há alguma razão de fundo que explique esse ataque persistente. Essa histeria não seria provocada provavelmente porque, apesar da derrota histórica que significou a destruição do MAS, o projeto de Moreno segue vivo, como o demonstram a construção do PSTU, da CONLUTAS e as novas organizações que se aproximam da LIT-QI? Altamira poderá dizer a mesma coisa de seu projeto autoproclamatório e de sua ridícula pretensão de haver reconstruído a IV Internacional?

 



[1] Nahuel Moreno, uma biografia recente”, por Julio Magri, em www.po.org.ar

[2] Bertold Brecht escreveu: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons. Mas há os homens que lutam a vida toda, e esses são os imprescindíveis”. O PO fez a seguinte interpretação dessa frase: “Bertold Brecht disse certa vez que não se tratava de lutar algumas vezes ou por um certo tempo, mas de lutar todas as vezes, todo o tempo. Nenhum partido político tem um dirigente público, aberto e visível, que reuna as características que exigia Brecht. O Partido Operário sim, esse dirigente é quem encabeça a lista na Capital: Jorge Altamira” (Material de propaganda eleitoral do PO).

[3] Nome dado à esquerda antiperonista aliada à burguesia e às forças pró-imperialistas “democráticas”.

[4] Jornal da corrente morenista entre 1954 e o golpe.

[5] Citado em O trotskismo operário e internacionalista na Argentina, Tomo I.

[6] APRA: organização nacionalista burguesa de massas, que nos anos 30, com um discurso antiimperialista organizava o melhor da vanguarda operária e popular do Peru.

[7] Em 1971, com a intenção de desviar o ascenso operário e popular aberto com o Cordobazo (1969), o presidente militar, general Lanusse propôs um plano de abertura democrática e a convocatória de eleições. Esse plano contou com o apoio de Juan D. Perón, exilado na Espanha.

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares