sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Oposição, precisa-se

Oposição, precisa-se

Uma forma de analisar que tipo de governo temos é olhar para a atitude e a política de “oposição” dos partidos da direita. PSD e PP sentem- se imensamente satisfeitos com o actual governo a ponto de Marques Mendes começar a ter problemas e demissões, como a de Pedro Passos Coelho, por exemplo, no interior da sua direcção, precisamente por não (poder) fazer oposição nenhuma. E não julguem que não é porque não queira. Até lhe daria jeito para preparar um governo “alternativo” e (continuar a) fazer de conta que, apesar do vira-o-disco-e-toca- o-mesmo dos governos do bloco central, a música é diferente.

O actual governo Sócrates governa tanto à direita que não há direita para se lhe opor. Nem mesmo a política de privatizar a torto e a direito pode ser uma reivindicação da direita dado que Sócrates, a exemplo do seu confrade António Guterres, colocou tudo praticamente à venda (Galp, EDP, etc).
Na verdade, se PSD e PP ocupassem os cadeirões em São Bento no lugar de Sócrates, Correia de Campos, Freitas do Amaral e demais ministros, pouca ou nenhuma diferença notaríamos. Bem, talvez notássemos: é que uma direita “pura e dura” não teria a lata, ou a força anímica e social, para anunciar cândida e tranquilamente ter diplomas em preparação para destruir de vez o Serviço Nacional de Saúde sem provocar uma forte reacção de repúdio.

Se a direita atacasse, como o fez Sócrates, os trabalhadores em geral, e os funcionários públicos em particular, enfrentar-se-ia com a fúria do movimento sindical e social, que a esta hora estaria a preparar alguma greve geral. Se um ministro do PP ou do PSD anunciasse que a explicação do défice está nos privilégios dos funcionários públicos e que os problemas no ensino radicam no facto de os professores trabalharem poucas horas e deixarem os alunos com muitos ‘furos’ para brincarem, não teria muita paz.

E a esquerda?
A esquerda não governamental – PCP e BE e o movimento sindical, bem como Manuel Alegre e o seu recentemente formado MIC (Movimento de Intervenção e Cidadania) – têm responsabilidades acrescidas, após as eleições presidenciais, em encurtar o tempo de vida do actual governo. Deste modo, a CGTP (e o PCP que a dirige) não está isenta de críticas, mesmo que, através de sindicatos que influencia, tenha realizado algumas greves parciais e mobilizações. Na verdade, não se compreende como, apesar da violência das medidas governamentais, nenhuma paralisação geral, inclusive na Função Pública, tenha sido convocada. Por outro lado, no plano político e parlamentar, cabe ao Bloco de Esquerda fazer um desafio directo e constante no próximo período para que Manuel Alegre rompa com a maioria dos deputados do PS, dando fim à unidade em torno do governo. Desta forma, a maioria absoluta do PS na Assembleia da República poderia estar com os seus dias contados. Alegre, que fala constantemente no milhão e duzentos mil votos que obteve, tem que respeitar o significado desse voto: travar o governo Sócrates. Se centenas de milhares de trabalhadores e socialistas lhe deram o segundo lugar foi, naturalmente, porque não se reviam na política do governo.

Afirmar que o futuro imediato do país nos próximos meses ou três anos está na mão dos trabalhadores e das mobilizações sociais é uma generalidade. É preciso tornar esta afirmação geral numa realidade. Por “baixo”, há que radicalizar as formas de luta de contestação à contínua destruição de inúmeras conquistas do 25 d Abril. Por “cima”, há que exigir responsabilidade à esquerda não governamental ou crítica (como Manuel Alegre): se tudo não for conversa fiada, a todos compete retirar a maioria ao governo e fazê-lo cair. Mais cedo que tarde.

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