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sexta-feira, março 29, 2024

E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia …

A apresentação do grupo Las Tesis “Um estuprador no seu caminho” foi rapidamente replicada em vários países. França, Alemanha, Estado espanhol, EUA, Argentina, México, Paraguai, Turquia e muitos outros países dançaram para denunciar o Estado opressivo. As redes sociais estavam cheias de fotos, folhetos e vídeos.

Por: Nazarena Luna
No Chile, o governo Piñera é denunciado, até que caia, porque é quem aplica métodos de terrorismo de estado aos e às manifestantes que tomaram às ruas há mais de 50 dias.
As inúmeras denúncias de estupros, torturas, desaparecimentos chegaram aos ouvidos de todos, apesar da tentativa do presidente de esconder, juntamente com a cumplicidade da mídia. Em 4 de dezembro, uma multidão de mulheres de todas as idades se reuniu do lado de fora do Estádio Nacional, um antigo centro de detenção e tortura da ditadura de Augusto Pinochet, onde o cantor e compositor Victor Jara foi assassinado.
A música se tornou um hino, sendo cantada por milhares de mulheres no mundo. Com suas diferentes adaptações à situação particular de cada país, deu voz ao mais numeroso setor oprimido do mundo. É que a violência machista é um dos males mais arraigados deste sistema. Mas isso está sendo fortemente questionado em todas as lutas que estão se desenvolvendo.
Na Bolívia, as mulheres estão enfrentando o golpe, na Colômbia participando de greves gerais e manifestações em massa. No Equador, fizeram o mesmo derrubando o decreto do FMI. Na Índia, recentemente milhares de mulheres saíram às ruas denunciando o feminicídio de uma jovem por ter denunciado seu estuprador. E o mesmo se repete no Sudão, no Líbano e na Turquia. E em 25 de novembro, mobilizações contra a violência machista ocorreram em todo o mundo.
A música é direta. É o sistema que permite perpetuar a violência. A Justiça, o aparato repressivo do Estado, a Igreja, os governos que não investem um centavo do orçamento nessa luta, deixam as mulheres, fundamentalmente as trabalhadores e pobres à sua sorte.
Na América Latina, os índices de violência são sinistros. Por dia, 9 mulheres morrem assassinadas. É o lugar mais mortal para nós fora de uma zona de guerra, de acordo com um relatório recente da ONU. E esses dados ainda são escassos, já que em muitos países, não há sequer a figura do feminicídio. Portanto, os assassinatos são invisíveis dentro das taxas de homicídio.
Em nosso país, a figura do feminicídio, os dados oficiais, a lei de prevenção e erradicação da violência contra as mulheres, conquistamos pela força da mobilização. E desde 2015, enchemos as ruas, impusemos o debate sobre a legalização do aborto e marcamos a agenda sobre nossos direitos.
No entanto, a violência continua sendo um câncer que, só em 2019, tirou quase 300 vidas e deixou milhares de crianças órfãs. Por outro lado, a desigualdade salarial, a pobreza deixada pelo governo que saiu, permanece altamente feminizada; taxas de desemprego que dobram as dos homens e outros problemas.
Marcar a agenda do que está por vir
Certamente é por isso que, na posse do novo presidente Alberto Fernandez, a questão das mulheres era uma parte importante de seu discurso. Dada a situação objetiva e um movimento inserido nas ruas, é um ponto complicado de resolver levando em consideração a dívida gerada pela administração Macri. Se é realmente uma preocupação de Fernández, exigiremos medidas e propostas concretas para aplicação urgente.
Para resolver a violência, é necessário começar com o não pagamento da dívida externa. Somente a partir daí obteremos o orçamento para a luta que deve ser travada. Para abrigos, subsídios para vítimas de violência, programas de inclusão no trabalho, oficinas e cursos de autodefesa. Para programas abrangentes, desde campanhas estaduais em pôsteres, mídia de massa, treinamento, oficinas em sindicatos, clubes de bairro, locais de trabalho e centros de estudo. Ter uma Educação Sexual verdadeiramente abrangente em todas as áreas, com programas de saúde que envolvam métodos contraceptivos e interrupção voluntária da gravidez legalmente, como aprofundamos e exigimos desde 2018.
Nossa tarefa será colocar essas questões na agenda e nos mobilizar até conquistarmos essas e todas as nossas demandas, exigindo a separação da Igreja do Estado e mudando profundamente o sistema de justiça machista. Para isso, precisamos lutar a partir dos centros estudantis, federações, organizações sociais, partidos políticos e parte muito importante dos sindicatos, onde as trabalhadoras devem assumir o posto e que essas demandas façam parte das pautas de reivindicações dos trabalhadores como um todo. As conquistas, vamos conseguir nas ruas e organizados.
Tradução: Lena Souza

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