sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Argentina| Organizar-se para derrotar o acordo com o FMI

Mais uma vez, o FMI é o grande protagonista da cena política nacional. Todos os caminhos, tanto do Governo como da oposição, de formas mais ou menos díspares, conduzem ao acordo com o Fundo, que no encerramento desta edição parece que caminha para a realização. Mais uma vez, preparar a luta longa e dura para derrotar esse acordo, enfrentando suas consequências e a repressão que vem acompanhada, é uma necessidade para frear a pobreza e precarização da vida do povo trabalhador.

Por: PSTU-Argentina

A oposição patronal, agora com mais peso no Congresso, é nítida: temos que concordar com o Fundo rapidinho e nos termos que propuser. São coerentes: em seu Governo macrista se fez mais Dívida, o maior empréstimo da história, que foi usado, segundo o próprio Macri admitiu, para pagar os bancos que queriam ir embora da Argentina e houve uma fuga de capitais (dólares sacados literalmente do país) digna de um filme de ação. Agora, falam de “honrar as Dívidas” e ganhar confiança com o acordo, enquanto isso, não casualmente, aparece em suas mídias afins todo tipo de previsões de catástrofe iminente se não fizer acordo com o Fundo imediatamente.

O oficialismo por seu lado, enquanto denuncia a “Dívida de Macri”, trabalha esmeradamente para pagá-la e obter o acordo com o Fundo, reafirma que não há nenhum setor dentro da aliança governante que esteja propondo não pagar. Para além dos setores que “denunciam” o FMI, todos vendem o acordo como um destino inevitável e se limitam a colocar discursivamente condições para apoiá-lo, como Juan Grabois que passou de dizer que não devia pagar, a colocar como “condição” o salário universal.

Bem longe ficou a campanha eleitoral com a qual Alberto Fernández ganhou, de “Não ao FMI” e “Argentina de pé”. Bem longe ficaram também até as proclamas como a de 25 de Maio deste ano quando centenas de personalidades representantes do kirchnerismo propunham não pagar a dívida, enquanto a pandemia durasse. Durante este ano foram pagos até este dezembro U$S 5,11 bilhões ao FMI a título de capital e juros, além de U$S 230 milhões ao Clube de Paris e cerca de U$S 10 bilhões pelo Banco Central por Leliqs e Pases Diarios, além de juros pelo resto da Dívida, sob o silêncio cúmplice daqueles que antes se proclamaram contra.

Os de cima “honram a Dívida”, os de baixo a pagam.

As consequências do pagamento até agora, quem sofre é o povo trabalhador na pobreza crescente que cada vez inclui mais trabalhadores e trabalhadoras, ainda com trabalho “formal”, e o aumento na precariedade de todos os aspectos da vida.

Mas isto não é tudo, vem mais. O novo acordo, como não poderia ser de outra maneira tratando-se do FMI, tem condições que só trarão um aumento dessas penúrias para o povo trabalhador. Vejamos se não: enquanto Guzmán se reúne com a CGT para que apoiem o acordo que supostamente não trará perda das conquistas trabalhistas, se declara o fim da dupla indenização e da proibição de demissões. Um gesto em direção às condições do acordo que, sem dúvida, vem com ajuste fiscal, e Reforma Trabalhista, seja mediante leis, por decretos, seja por setor.

Tentarão impor o acordo também com repressão

No entanto, o saque, os ataques econômicos e trabalhistas não vem sozinhos. Para garanti-los vem com repressão e perseguição. Não é casual o recente assassinato de Elías Garay na ocupação mapuche de Cuesta del Ternero em Rio Negro e a campanha de perseguição contra o povo mapuche. Não é casual a escandalosa condenação sem nenhuma prova contra Daniel Ruiz e César Arakaki pelas lutas de 18D de 2017 contra a Reforma Previdenciária, que era parte do plano do FMI. Não é casual que continuem negando a libertação para Sebastián Romero pela mesma causa. Não é casual a detenção de Facundo Morales por ordem do assassino Governo colombiano que pede sua extradição.

É parte de um mesmo plano e como parte desse plano é que temos que responder a estes casos que não tem nada de isolados.

Preparar para enfrentar os ataques e a repressão.

O ano que está terminando não foi fácil para o povo trabalhador e o que vem, com este panorama, não será melhor se não começarmos desde já a preparar as lutas para enfrentar todos e cada um desses ataques. Não será fácil não apenas porque temos que lutar contra os planos do Governo, a oposição patronal e o FMI, mas também contra esse grande muro de contenção, com a raiva que temos que são as direções sindicais e dos movimentos sociais, que já não são apenas cúmplices mas também artífices dos planos sindicais.

Essas direções e as estruturas sindicais que a sustentam são as que hoje estão a serviço não só de conter a raiva, mas também de dividir, isolar e semear nas cabeças do povo trabalhador que o acordo com o Fundo é um destino inevitável, se não quisermos “cair do mundo”.

Para saltar esses obstáculos temos que nos antecipar, começar a nos auto-organizar a partir de cada local de trabalho, incluindo todos os companheiros e companheiras, seja do setor que for, pertença ao sindicato que pertencer. Formar comitês ou comissões para garantir o que for decidido em Assembleia, romper as ataduras e a fragmentação que as estruturas sindicais nos impõem e para tomar os problemas em nossas mãos, porque está visto que ninguém o fará por nós.

E, como parte disto, é necessário também nos organizar para enfrentar a repressão que vai aumentar quando as lutas aumentarem. Não podemos sair às ruas com as mãos atadas, sabendo que os a repressão virá. É tarefa do conjunto das organizações que se reivindicam combativas, propor isto também para o conjunto dos lutadores e lutadoras. Os Governos usam a repressão para tentar derrotar as lutas, e isso é o que tentarão com as lutas que virão. Para evitar essas derrotas é indispensável planejar como nos preservar: a autodefesa é atuar em defesa própria e é um direito que temos que exercer.

Precisamos de outro Argentinaço: novo e superior

Para derrotar o acordo com o Fundo precisamos lutar na mais ampla unidade, por isso aderimos à convocatória promovida pela FIT-U e tomada por dezenas de organizações para mobilizar no 11 de dezembro. E dizemos que não pode parar por aí e nos contentar com uma mobilização. É necessário dar continuidade tentando somar todos e todas aqueles/as que queiram lutar contra o acordo, tenham votado em quem votaram. E à medida que for crescendo, começar a pensar em ações que não apenas testemunhem nosso rechaço ao acordo, mas que também afetem o lucro dos grandes beneficiados com o mesmo, os empresários e as multinacionais.

A 20 anos do Argentinaço é necessário aprender também dessa lição recente para preparar uma experiência superior que permita realmente acabar com o saque e submissão de nosso país e as consequências que trazem ao povo trabalhador. Um novo Argentinaço com a classe operária à cabeça que rompa as correntes com o FMI e imponha uma Segunda e Definitiva Independência, com um governo dos trabalhadores e do povo que planifique a economia em função das necessidades da maioria da população e não do lucro capitalista, a caminho de uma sociedade socialista.

Tradução: Lilian Enck

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares