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sexta-feira, abril 19, 2024

Argentina| Diante da extorsão do campo

Medidas sérias para acabar com a inflação e a especulação. Depois de sua viagem pela Europa com o objetivo de adiar o pagamento ao clube de paris entre outras dívidas, Alberto Fernández destacou em entrevista que estava determinado a acabar com os aumentos de preços no país. E em poucas horas foi anunciada a medida de fechar por 30 dias a exportação de carne bovina.

Por: PSTU-Argentina

Sem dúvida, a pandemia somada à crescente inflação no país geram uma situação muito complexa nas casas da classe trabalhadora argentina. O que mais aumenta é o essencial: a alimentação e principalmente a carne (aumento de 65% em um ano). A queda do poder aquisitivo e o aumento dos preços fizeram com que a quantidade de carne que se compra mensalmente com um salário médio de 58.200 pesos se encontre em mínimos históricos. Isso porque uma porcentagem cada vez maior da produção pecuária é destinada à exportação, que é paga em dólar, de forma que o que sobra para o consumo interno fica mais caro. Essa situação para um governo que muitos votaram com a expectativa de que o churrasco volte, em ano eleitoral, é um problema e ele se viu obrigado a tomar uma medida que é mais para a foto do que para resolver o problema.

Ante o anúncio do governo, a Mesa de Enlace rapidamente anunciou um lock out de 8 dias, esvaziando o Mercado de Haciendas em Liniers[1] e colocando em risco o fornecimento de carne nos açougues do país. Os patrões agrários, que, ao contrário dos salários dos/as trabalhadores/as, estão batendo recordes de exportação com preços altíssimos, com vitimização constante ameaça que se o governo não retroceder com a medida, iriam se somar à paralisação o setor de grãos, embutidos, ente outros.

Essa metodologia de extorsão das mesas operárias não é nova, basta lembrar a edição da resolução 125 em 2008, e agora recentemente, em fevereiro, diante do anúncio do governo de que estava sendo estudado o aumento das retenções, o ameaça de paralisação por tempo indeterminado foi o suficiente para o governo recuar no possível aumento. Esse conflito foi resolvido com a promessa do campo de trabalhar junto com o governo para controlar os preços dos alimentos, evidente que nada disso aconteceu, basicamente porque a única coisa que interessa a eles é o lucro, e o governo todo esse tempo esteve garantindo.

Nós, trabalhadores, não podemos continuar permitindo a impunidade de alguns milionários que decidem sobre a alimentação de nossas famílias, assim como as medidas inúteis por parte do governo. Se Alberto veio com vontade de resolver o problema da inflação, que ele decida imediatamente um reajuste salarial geral com indexação mensal pela inflação (cláusula de gatilho). Para acabar com a especulação, não basta fechar as exportações por 30 dias. Por que não tomar uma medida como a criação do Conselho Nacional de Grãos e Carnes, medida que já foi tomada em outros momentos da história argentina? Por que nem sequer aplica o controle de preços e a Lei de Desabastecimento?

Como socialistas, acreditamos que para uma verdadeira solução é necessária a desapropriação de grandes propriedades, e a produção a serviço das necessidades da população, através do controle dos trabalhadores e dos consumidores. E um plano nacional de produção de alimentos, que também exproprie os grandes frigoríficos (em geral multinacionais) e agroalimentícias. Com 20% dos alimentos produzidos poderíamos cobrir uma dieta com as calorias necessárias.

Enquanto os trabalhadores se afundam na pobreza, os do campo enchem seus bolsos com dólares das exportações. Diante da emergência em que estamos obrigar a entrega da carne para os restaurantes populares.

Não menos importante é que todas as condições de trabalho e salário devem ser garantidas aos trabalhadores do setor de carnes, começando agora pela vacinação em massa.

Os trabalhadores não somos alheios a essa luta, devemos tomar em nossas mãos o problema da fome e a luta para impor um plano operário emergencial que comece com o não pagamento da dívida externa, aumento dos impostos dos patrões agrários, das mineradoras e das empresas petrolíferas, entre outras, e um verdadeiro imposto sobre grandes fortunas. Temos que nos organizar em locais de trabalho ou bairros, exigir que nossos sindicatos e as centrais sindicais tomem as lutas em suas mãos ou passar por cima delas em defesa de nossos interesses.

[1] Centro comercializador de gado que abastece a indústria frigorífica de Buenos Aires e Grande Buenos Aires.

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