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sexta-feira, março 29, 2024

Argentina| Como derrotar o acordo com o FMI?

Ontem, 11 de dezembro, milhares saíram às ruas de Buenos Aires, dizendo fora o FMI e não pagamento da dívida externa. Um importante passo que não pode parar. Devemos nos preparar para uma luta longa e dura. Compartilhamos o texto do boletim que o PSTU da Argentina distribuiu nessa mobilização.

COMO DERROTAR O ACORDO COM O FMI?

Tanto o Governo como a oposição patronal de Juntos pela Mudança estão com todas as energias focadas em concluir o acordo com o FMI e em como será a continuidade dos pagamentos da Dívida Externa. Lula, convidado para a comemoração dos dois anos do Governo, também se apressou em fazer declarações em seu apoio.

As consequências do pagamento até agora são sofridas pelo povo trabalhador que sofre na pobreza crescente que cada vez inclui mais trabalhadores e trabalhadoras, ainda com trabalho “formal”, e o aumento na precariedade de todos os aspectos da vida.

Mas, com este novo acordo, querem mais. Justo agora anunciam o fim da dupla indenização e da proibição de demissões. É um gesto em direção às condições do acordo que, sem dúvida, vem com ajuste fiscal, e Reforma Trabalhista, seja mediante leis, por decretos, seja por setor. Este é também o sentido do “Programa Plurianual” para os próximos anos, com mais ajustes para os trabalhadores/as e o povo.

Tentarão impor o acordo também com repressão

Neste caso, o saque, os ataques econômicos e trabalhistas não vêm sozinhos. Para garanti-los vem com repressão e perseguição. Não é casual o recente assassinato de Elías Garay na ocupação mapuche de Cuesta del Ternero em Río Negro e a campanha persecutória contra o povo mapuche.

Não é casual a escandalosa condenação sem nenhuma prova de Daniel Ruiz e César Arakaki pelas mobilizações de 18D de 2017 contra a Reforma da Previdência, que era parte do plano do FMI. Não é casual que continuem negando a libertação de Sebastián Romero pela mesma causa. Não é casual a detenção de Facundo Molares por ordem do assassino Governo colombiano que pede sua extradição.

É parte de um mesmo plano e como parte desse plano é que tem que responder a estes casos, que de isolados não têm nada.

Auto-organização para impor um plano de luta massivo

Derrotar este plano não será fácil: é preciso que a maioria da classe trabalhadora se disponha a enfrentá-lo. Para isso é necessário passar por cima desse grande muro de contenção que são as direções sindicais e os movimentos sociais do Governo, que já não são apenas cúmplices, mas também artífices dos planos antioperários.

Essas direções e as estruturas sindicais que as sustentam são as que hoje estão a serviço, não apenas de conter a raiva, mas também de dividir, isolar e semear nas cabeças do povo trabalhador que o acordo com o Fundo é um destino inevitável se não quisermos “cair do mundo”.

Para saltar esses obstáculos e conseguir impor um plano de luta massivo, temos que nos antecipar, começar a nos auto-organizar a partir de cada local de trabalho, incluindo todos os companheiros e companheiras, seja do setor que for, pertença ao sindicato que pertencer. Coordenar as lutas que surgirem. Formar comitês ou comissões para garantir o que for decidido em assembleia, romper as amarras e a fragmentação que as estruturas sindicais nos impõem. Porque devemos tomar os problemas em nossas mãos: está nítido que ninguém o fará por nós.

Autodefesa: uma necessidade e um direito

E como parte disto, é necessário também nos organizarmos para enfrentar a repressão que vai aumentar quando as lutas aumentarem. Não podemos sair para lutar com as mãos atadas, sabendo que a repressão virá. É tarefa do conjunto das organizações que se reivindicam combativas, também propor isto ao conjunto dos lutadores e lutadoras. Os Governos utilizam a repressão para tentar derrotar as lutas, e isso é o que tentarão com as lutas que virão. Para evitar essas derrotas é indispensável planejar como nos preservar: a autodefesa é agir em defesa própria e é um direito que temos que exercer.

Não pode parar

A jornada nacional de 11 de dezembro é um passo adiante e por isso aderimos à ela, embora o PSTU acredita que as próximas ações devam ser convocadas com os métodos próprios da classe operária, ou seja, a partir dos mandatos de base que saiam de assembleias realizadas nos locais de trabalho.

É fundamental que o repúdio ao acordo comece a se expressar fortemente nas ruas. Mas o PSTU pensa que não pode parar aí: enquanto lutamos para somar mais setores a esse rechaço, temos que dar continuidade e aprofundar a luta. E neste sentido preparar medidas de ação direta que vão mais além do testemunho massivo de repúdio, para começar a afetar o lucro dos grandes ganhadores do acordo com o FM: as multinacionais e empresários, a partir de bloqueio dos portos, refinarias, campos petrolíferos e principais indústrias.

Precisamos de outro Argentinaço: novo e superador

Queremos dizer a verdade à classe trabalhadora: não haverá realmente soberania e melhoria substancial das condições de vida do povo trabalhador, sem revolução social e para isso é necessária a intervenção da classe com métodos revolucionários. Os resultados eleitorais da esquerda expressam um avanço na luta pela independência de classe, mas não é nesse terreno nem na ação parlamentar que conseguiremos derrotar os planos de ajuste.

Após 20 anos do Argentinaço, devemos aprender também dessa experiência recente para preparar uma experiência superadora que permita acabar realmente com o saque e a submissão de nosso país e as consequências que traz ao povo trabalhador. Um novo Argentinaço com a classe operária na liderança, que rompa as correntes com o FMI e imponha uma Segunda e Definitiva Independência, com um governo dos trabalhadores e do povo, que planifique a economia em função das necessidades da maioria da população e não do lucro capitalista, a caminho de uma sociedade socialista.

Tradução: Lilian Enck

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