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sexta-feira, março 29, 2024

A polícia de Putin reprime protestos contra a guerra em 17 cidades da Rússia

Mais de 200 pessoas foram presas em 17 cidades da Rússia por protestarem contra a invasão da Ucrânia, no dia 02 de abril. A maioria na capital Moscou, cerca de 80 prisões, e São Petersburgo, cerca de 70, segundo ONGs que monitoram a perseguição política no país[1].

Por: Américo Gomes

A polícia de Putim não permitiu que manifestantes, reunidos em uma ponte em São Petersburgo, chegassem à Assembleia Legislativa. Foram dispersados pelas tropas russas de maneira violenta.

Os organizadores disseram que os protestos são contra o colapso da economia e contra o presidente russo. Também exigiram a libertação do crítico do Kremlin preso, Alexei Navalny.

Segundo a OVD-Info, mais de 15.000 pessoas foram presas na Rússia desde que começaram os protestos contra a guerra contra a Ucrânia. “Nunca vimos um número tão grande de detidos por dia (…) Contamos pelo menos 6.489 detidos em cinco dias. Isso é o suficiente para nos mostrar o número de pessoas dispostas a sair às ruas e expressar suas opiniões”.

Apesar da repressão do Estado russo a oposição à guerra na Ucrânia está ganhando apoio. Enquanto alguns continuam a se manifestar publicamente, outros estão montando bases de retaguarda na Internet e contornando restrições usando redes sociais, mensagens criptografadas e servidores VPN.

O medo da repressão fez com que apenas uma minoria de russos se expressasse publicamente. Mas o movimento antiguerra está ganhando apoio na Internet, principalmente por meio de redes sociais e serviços de mensagens criptografadas, como Telegram e Signal.

Junto com as manifestações de rua a mais significativa das iniciativas é uma petição do Change.org intitulada “Stop the War with Ukrain”. Ela ultrapassou 1 milhão de assinaturas. A petição pede “um cessar-fogo imediato das forças armadas russas e sua retirada imediata do território do estado soberano da Ucrânia”.

Estes protestos são muito importantes. Lenin defendia que o derrotismo revolucionário da sua própria burguesia era uma política estratégica do proletariado, que foi materializada na fórmula de Karl Leibcknet, em que o inimigo dos trabalhadores está dentro de seu próprio país.

“O derrotismo é a política da classe do proletariado, que inclusive durante a guerra vê a seu principal inimigo em casa, em seu próprio país imperialista. O patriotismo, ao contrário, é uma política que localiza seu principal inimigo fora de seu próprio país. A ideia do derrotismo significa na realidade o seguinte: levar adiante uma irreconciliável luta revolucionária contra a própria burguesia como o inimigo principal. Sem deter-se no fato que esta luta possa causar a derrota do próprio governo; dado um movimento revolucionário a derrota do próprio governo é um mal menor”[2].

Dentro da Rússia as manifestações derrotistas contra a guerra são fundamentais, e de fato podem levar à derrota da invasão, como já ocorreu no Vietnã com o exército norte-americano.

Putin sabe e teme estas mobilizações, por isso a repressão contra os manifestantes é brutal. Inclusive com a adoção de uma nova lei que ameaça com penas de prisão de até 15 anos por divulgar “notícias falsas” sobre seus militares ou pedir sanções contra o país.

Putin anunciou recentemente que vai realizar uma purificação para “limpar a Rússia de escória e traidores”, anunciando que as pessoas vão desaparecer “por si mesmas”.

O sentimento contrário à guerra poderá se inflamar mais, à medida que mais soldados e recrutas russos percam a vida nos combates com a resistência militar ucraniana.

O movimento juvenil “Vesna” (Primavera) foi um dos que comentou as manifestações “As pessoas estão com medo – isso é verdade. As autoridades despejaram enormes recursos em uma campanha de intimidação. Mas na verdade tem muitos russos que são contra a guerra. É importante encontrar vias e atividades do movimento antiguerra e através das demandas do movimento antiguerra. Não estamos autorizados a reunir em locais públicos – mas podemos continuar agitando com folhetos, autocolantes, fitas, performances e outros meios. Por exemplo, ação Marioupol 5000, que é mais segura do que um protesto de rua”.

A ação “Mariupol 5000” organizada pela “Resistencia Feminista contra a Guerra” chama os ativistas a colocarem cruzes em frente a suas casas, na Rússia, em memória dos assassinados em Mariupol como sinal de protesto.

Todo apoio aos jovens e trabalhadores russos que foram às ruas contra a guerra apesar da violenta repressão de Putin.

Estas manifestações devem ser incentivadas a serem transformados em mais atos e greves, e até mesmo deserções, como na I Guerra ou como ocorreu com o Exército português nas lutas pela independência das colônias na África.

Estas manifestações aliadas à resistência armada ucraniana e a solidariedade internacional de nossa classe é que está parando a ofensiva de Putin e pode derrotá-lo nesta guerra.

[1] https://www.dailymail.co.uk/news/article-10679237/More-200-arrested-today-anti-war-protests-17-cities-Russia.html
[2] Trotsky, Un paso hacia el social patriotismo, 1939.

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